Os Estados gregos eram formados por uma cidade e pelas terras ao seu redor, sendo conhecidas como Polis (Cidades-Estado), onde todos que eram considerados cidadãos tinham poder de decisão pela força da palavra argumentativa. As decisões eram discutidas na Ágora, na qual as opiniões tinham o mesmo valor, pois eram todos iguais. Ao contrário de hoje, nem todos eram considerados cidadãos, estavam excluídos dessa categoria as crianças, os escravos, os estrangeiros e as mulheres.
Hoje depara-se com uma crise na vivência de nossa democracia, reflexo de uma política mal construída historicamente em que poucos sempre tiveram o poder de decisão sobre o futuro comprometedor da nação. A percepção que temos é que não podemos continuar indiferentes à vida política que clama por socorro e participação efetiva. O grande filósofo Aristóteles dizia que “o homem é naturalmente feito para a sociedade política”. Portanto podemos afirmar que o homem é essencialmente político e deveria usar essa arte para buscar o bem comum numa relação de respeito para com o outro, lembrando das palavras do filósofo sobre esse precioso ato: “Quem quer que seja que não tenha necessidade dos outros homens ou que não seja capaz de viver em comunidade com eles ou é um deus ou um animal” (Aristóteles). Um dos caminhos para a transformação se dá através da política participativa.
Delegamos a alguns representantes o poder de argumentar por nós, bem como de decidir os caminhos para melhorar o país, mas a transformação que almejamos quase nunca ocorre, já os interesses individuais e partidários, sim, e bem na frente de nossos olhos. O que fazer diante disso? Não posso negar que há uma certa política do bem comum, que por sua vez está sempre na cauda dos interesses da classe burguesa. Hoje somos todos considerados cidadãos com direitos iguais perante a lei. Infelizmente alguns são mais iguais do que outros. Temos as constituições da constituição, ou seja, existe uma lei disfarçada e severa para o negro, o indígena, o pobre. Nem é preciso dizer que a melhor das constituições é a dos ricos. Os gregos antigos ficariam horrorizados com esses fatos, pois se todos são cidadãos, logo todos são iguais, tendo os mesmos direitos. Para cobrar e garantir direitos iguais é preciso estar informado a fim de exercer a cidadania, além de buscar um novo sonho democrático para o futuro de uma sociedade justa e mais fraterna. Devemos fortalecer o compromisso cooperativo que gera a comunidade e a participação de todos em tudo o que é benevolente para a sociedade. Isso não deve ser confundido com pobres medidas assistencialistas, é ir além, favorecendo direitos e dignidade autônoma aos cidadãos. Nesse sentido a educação bem estruturada é peça fundamental; através dela as pessoas poderão ser sujeitos da história da nação brasileira, além de se afastar da exclusão intelectual que é a pior de todas. Para uma boa educação, não bastam conteúdos, além disso é necessário desenvolver a capacidade de pensar, algo distante de nossa realidade escolar. Passamos em média doze anos na escola para enfrentar algumas horas de um vestibular excludente. Ou pensamos ou seremos escravos à moda grega.
Mais uma vez quero destacar algumas palavras do pensador Aristóteles, que em seu contexto sócio-político-cultural afirmou: “Partindo dos nossos princípios, tais indivíduos são destinados, por natureza, à escravidão; porque para eles nada é mais fácil que obedecer, (...) não possui a plenitude da razão...”. Convém salientar que, ao contrário de Aristóteles, a ciência contemporânea já provou que todos são iguais em potência e essência humana. Dessa forma todos têm capacidade de raciocinar e pensar potencialmente. A virtude aristotélica nos ensina que é preciso praticar constantemente as coisas boas. Pensar também é um exercício constante, que por sua vez deve levar à prática e ao exercício da cidadania, caso contrário entregaremos nossa liberdade a outros colaborando com nossa própria escravidão.
Oziel da Rocha é religioso pavoniano e estudande de Filosofia do V período - ISTA - Belo Horizonte - MG.