domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Restauração da Humanidade em Cristo e o Batismo: homilia do 1º Domingo da Quaresma/B 2012


1ª leitura: (Gn 9,8-15) Dilúvio e aliança com a humanidade – O dilúvio é o símbolo do juízo de Deus sobre este mundo. Mas repousa sobre este também sua misericórdia, simbolizada pelo arco-íris. Deus faz uma aliança com Noé e sua descendência, isto é, a humanidade inteira. Apesar do mal, Deus não voltará a destruir a humanidade. É significativo que esta mensagem foi codificada no tempo do declínio do reino de Judá! A fidelidade de Deus dura para sempre. * 9,8-11 cf. Gn 6,18; Os 2,20; Is 11,5-9; 54,9-10; Eclo 44, 18[17b-18]; Rm 11,29 * 9,12-15 cf. Ez 1,28; Ap 4,3.

2ª leitura: (1Pd 3,18-22) Dilúvio e batismo – 1Pd caracteriza-se por seu teor de catequese batismal. O batismo inclui a transmissão de credo. 1Pd 3,18–4,6 contém os elementos do primitivo credo: Cristo morreu e desceu aos infernos (3,18-19), ressuscitou (3,18.21), foi exaltado ao lado de Deus (3,22), julgará vivos e mortos (4,5). Tendo ele trilhado nosso caminho até a morte, nós podemos seguir seu caminho à vida (3,18). O batismo, antítipo do dilúvio, purifica a consciência e nos orienta para onde Cristo no precedeu. * 3,18 cf. Rm 5,6; 6,9-11; Is 53,11; Rm 1,3-4 * 3,20 cf. Gn 6,8–7,7; 2Pd 2,5–3,21 cf. Rm 6,4; Cl 2,12-13 * 3,22 cf. Ef 1,20-21; Cl 1,16-18.

Evangelho: (Mc 1,12-15) Tentação de Jesus no deserto e começo de sua pregação – O batismo de Jesus, sua “provação” no deserto e o fim do ministério do Batista significam o fim da preparação de Jesus. Aproxima-se a grande virada do tempo: Jesus anuncia a boa-nova do Reino de Deus. – A tentação no deserto transforma-se em situação paradisíaca: Jesus é o novo Adão, vencedor da serpente. Seu chamado à conversão é um chamado à fé e à confiança. * 1,12-13 cf. Mt 4,1-11; Lc 4,1-13; Is 11,6-9; Sl 91]90],11-13 * 1,14-15 cf. Mt 4,12-17; Lc 4,14-15; Gl 4,4; Rm 3,25-26.

***

O mal tem muitas faces e, além disso, uma coerência interior que faz pensar numa figura pessoal, embora não identificável no mundo material. Chama-se “satanás”, o adversário; ou “diabo”, destruidor. Está presente desde o início da humanidade. As águas do dilúvio representavam, para os antigos, um desencadeamento das forças do mal. Mas quem tem a última palavra, na criação, é o amor de Deus. Deus não quer destruir o homem, ele impõe limites ao dilúvio e não mais voltará a destruir a terra (1ª leitura). No fim do dilúvio, Deus repete o dia da criação, em que ele venceu o caos originário, separou as águas de cima e de baixo e deu um lugar ao homem para morar. Faz uma nova criação, melhor que a anterior, pois acompanhada de um pacto de proteção. O arco-íris, que no fim do temporal nos alegra espontaneamente, é o sinal natural desta aliança. Oito pessoas foram preservadas, na arca de Noé. Elas serão, graças à aliança, o início de uma nova humanidade.

Deus oferece novas chances. Incansavelmente deseja que o ser humano viva, mesmo sendo pecador (cf. Ez 18,23). Sua oferta tem pleno sucesso com Jesus de Nazaré. Este é verdadeiramente seu Filho (Mc 1,11). Impelido por seu Espírito, enfrenta no deserto as forças do mal – Satã e os animais selvagens –, mas vence, e os anjos do Altíssimo o servem (evangelho). Vitória escondida, como convém na 1ª parte de Mc. Nos seus 40 dias de deserto, Jesus resume a caminhada do povo de Israel e antecipa também seu próprio caminho de Servo de Javé. Por sua fidelidade na tentação, alcança um novo paraíso. Nas próximas semanas, o acompanharemos em sua subida a Jerusalém, obediente ao Pai. Será a verdadeira prova, na doação até a morte, morte de cruz. E “por isso, Deus o exaltou”... (cf. Fl 2,9).

Jesus, porém, não vai sozinho. Leva-nos consigo. Ele é como a arca que salvou Noé e os seus através das águas do dilúvio. Com ele somos imersos no batismo e saímos dele renovados, numa nova e eterna Aliança. Ao fim da Quaresma, serão batizados os novos candidatos à fé. A imagem da arca, apresentada pela 2ª leitura, está num contexto que menciona os principais pontos do credo: a morte de Cristo e sua descida aos ínferos (para estender a força salvadora até os justos do passado); sua ressurreição e exaltação (onde ele permanece como Senhor da História futura, até o fim). Batismo é transmissão da fé.

Portanto, a liturgia de hoje é como o início de uma grande catequese batismal, e isso mesmo é o sentido da Quaresma: prepararmo-nos para o batismo, que é a participação na reconciliação que o sacrifício de Cristo por nós operou (cf. Rm 3,21-26; 5,1-11; 6,3; etc.). Mergulhar com ele na provação que nos purifica. Também os que já foram batizados participam disso, pois, enquanto não tivermos passado pela última prova, estamos sujeitos a desistências. Mas, como à humanidade toda, no tempo de Noé, também a cada um, batizado ou não, Deus dá novas chances: eis o tempo da conversão. Nisso consiste a expressão de seu íntimo ser, que é, ao mesmo tempo, bondade e justiça: “Ele reconduz ao bom caminho os pecadores, aos humildes conduz até o fim, em seu amor” (salmo responsorial). Por essa razão, todos os batizados renovam, na celebração da Páscoa, seu compromisso batismal.

Anima a liturgia de hoje um espírito de confiança. Ora, confiança significa entrega: corresponder ao amor de Deus por uma vida santa (oração do dia). Claro, devemos sempre viver em harmonia com Deus, correspondendo a seu amor, como num novo paraíso. Na instabilidade da vida, porém, as forças do mal nos surpreendem desprevenidos. Mas a Quaresma é um “tempo forte”, e neste devemos aplicar a nós mesmos a prova do nosso amor, esforçando-nos mais intensamente por uma vida santa.


QUARESMA, REGENERAÇÃO

Celebramos o 1º domingo da Quaresma. Muitos jovens nem sabem o que é a Quaresma. Nem sequer sabem o que significa o Carnaval, antiga festa do fim do inverno no hemisfério norte, que, na Cristandade, tornou-se a despedida da fartura antes de iniciar o jejum da Quaresma...

A Quaresma (do latim quadragesima) significa um tempo de quarenta dias vivido na proximidade do Senhor, na entrega a ele. Depois de batizado por João Batista no rio Jordão, Jesus se retirou no deserto de Judá e jejuou durante quarenta dias, preparando-se para anunciar o Reino de Deus (evangelho). Vivia no meio das feras, mas os anjos de Deus cuidavam dele. Preparando-se desse modo, Jesus assemelha-se a Moisés, que jejuou durante quarenta dias no monte Horeb (Êx 24,18; 34,28; Dt 9,11 etc.), a Elias, que caminhou quarenta dias alimentado pelos corvos até chegar a essa montanha (1Rs 19,8). O povo de Israel peregrinou durante quarenta anos pelo deserto (Dt 2,7), alimentado pelo Senhor.

Na Quaresma deixamos para trás as preocupações mundanas e priorizamos as de Deus. Vivemos numa atitude de volta para Deus, de conversão. Isso não consiste necessariamente em abster-se de pão, mas sobretudo em repartir o pão com o faminto e em todas as demais formas de justiça – o verdadeiro jejum (Is 58,6-8). A Igreja viu, desde seus inícios, nos quarenta dias de preparação de Jesus uma imagem da preparação dos candidatos ao batismo. Assim como Jesus depois desses quarenta dias se entregou à missão recebida de Deus, os catecúmenos eram, depois de quarenta dias de preparação, incorporados em Cristo pelo batismo, para participar da vida nova. O batismo era celebrado na noite da Páscoa, noite da Ressurreição. E toda a comunidade vivia na austeridade material e na riqueza espiritual, preparando-se para celebrar a Ressurreição.

A meta da Quaresma é a Páscoa, o batismo, a regeneração para uma vida nova. Para os que ainda não receberam o batismo – os catecúmenos –, isso se dá no sacramento do batismo na noite pascal; para os já batizados, na conversão que sempre é necessária em nossa vida cristã: daí o sentido da renovação do compromisso batismal e do sacramento da reconciliação neste período. É nesta perspectiva que compreendemos também a 1ª e a 2ª leitura, que nos falam da purificação da humanidade pelas águas do dilúvio e do batismo.

(O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB  e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total).

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma de 2012



«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras»
(Hb 10, 24)


 

Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de refletir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da » (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e, todavia, são objeto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bemdo outro e a todo o seu bemO grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o fato de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O fato de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje se é muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O fato de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de considerá-la na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e onipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a ação do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efetivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua.


Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre atual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Campanha da Fraternidade sobre saúde pública será aberta na Quarta-feira de Cinzas


O secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Ulrich Steiner, abre, na Quarta-feira de Cinzas, 22, às 14h, na sede da Conferência, em Brasília (DF), a Campanha da Fraternidade-2012. O tema proposto para a Campanha deste ano é  “Fraternidade e Saúde Pública” e o lema “Que a saúde se difunda sobre a terra”, tirado do livro do Eclesiástico.
O ministro da saúde, Alexandre Rocha Santos Padilha, confirmou sua presença. Além dele, participarão do ato de abertura da CF o sanitarista Nelson Rodrigues dos Santos; o Gestor de Relações Institucionais da Pastoral da Criança e membro do Conselho Nacional de Saúde, Clovis Boufleur, e o cirurgião e membro da equipe de assessoria da Pastoral da Saúde do Conselho Episcopal Latino-americano, André Luiz de Oliveira. O ato é aberto à imprensa.

A CF-2012 tem como objetivo geral “refletir sobre a realdiade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos enfermos e mobiliza por melhoria no sistema público de saúde”.

Realizada desde 1964, a Campanha da Fraternidade mobiliza todas as comunidades catóilcas do país e procura envolver outros segmentos da sociedade no debate do tema escolhido. São produzidos vários materiais para uso das comunidades com destaque para o texto-base, produzido por uma equipe de especialistas.

A Campanha acontece durante todo o período da Quaresma que, segundo o secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, “é o caminho que nos leva ao encontro do Crucificado-ressuscitado”.

Na apresentação do texto-base, dom Leonardo, eplica que, com esta Campanha da Fraternidade, a Igreja quer sensibilizar as pessoas sobre a “dura realidade de irmãos e irmãs que não têm acesso à assistência de saúde pública condizente com suas necessidades e dignidade”.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Família é prato difícil de preparar


(de "O Arroz de Palma,de Francisco Azevedo)

Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você?  É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini; Família à Belle Meunière; Família ao Molho Pardo,  em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à  Moda da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.  Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.
Aproveite ao máximo!!! Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” (Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Solidariedade e fraternidade


Pe. Sidbe Semporé, OP
Trechos escolhidos da Omnis Terra n.162 /2011

1. Vida Consagrada pacto de Aliança com Deus

A Vita Consecrata que atualmente constitui o documento oficial de referência para a reflexão sobre a Vida Consagrada (VC), utiliza abundantemente a terminologia e as imagens bíblicas para fundamentar e explicar esta particular vocação cristã no seio da Igreja. No entanto, curiosamente, a simbologia da Aliança, tão rica e eloquente na movimentada história das relações de Deus com o seu Povo e com a humanidade em geral, não é objeto de uma abordagem específica na consideração que o Documento faz a respeito do significado do compromisso religioso.
1.1 De uma Aliança para a outra
E no entanto, a Aliança encontra-se no âmago não apenas da lei de Moises, mas também da missão dos profetas e da piedade dos Salmistas. A Nova Aliança (Jr 31,31-33) que Deus estabelece com cada membro do Povo, figura da nova e eterna Aliança selada em Jesus Cristo para a salvação da multidão, inspira e dinamiza o caminho daqueles e daquelas que, através da graça do batismo, sentem o chamamento a descobrir em si mesmos/as a iniciativa de Amor d’Aquele que interpela: Vem, e segue-me! A união da alma com Deus e a entrega do consagrado ao Senhor constituem um sinal de fidelidade à Aliança encetada pelo próprio Deus. No percurso religioso, a Aliança é estabelecida e selada com Deus, não com um instituto. É ela que dá sentido pleno ao compromisso pessoal do consagrado.
1.2 Companheiros para a vida inteira
A VC é um convite a descobrir no fundo do coração o valor do Amor d’Aquele que estabelece uma Aliança para a vida inteira, e que assumiu a nossa pobre existência humana para lhe conferir uma renovada dimensão, uma nova orientação. Incutir-lhe-ei a minha lei; gravá-la-ei no seu coração (Jr 31,33). Ao chamamento de Deus fiel da Aliança, o consagrado responde com o dom sem reservas da sua própria pessoa, do seu coração e da sua vida, mediante um compromisso, um juramento, uma promessa de fidelidade. A terminologia da consagração que nós utilizamos para caracterizar a natureza dos novos vínculos estabelecidos com Deus desenvolve, de maneira um pouco abstrata e estática, a realidade dinâmica e relacional da Aliança. Com efeito a VC desenvolve-se num clima de Aliança que é renovada cada dia por Deus, mas que por nossa vez por vezes interrompemos e desprezamos.
1.3 Um fiat de Amor sem reservas
Se a VC possui em si algo de esponsal, como o afirma a Vita Consecrata (VC,n.34), é por intermédio das realidades da Aliança: a declaração de Amor e de fidelidade da parte de Deus em relação a quem é chamado: És precioso aos meus olhos, eu estimo-te e amo-te (Is.43,4), e o compromisso de abandono e de doação (por juramento, voto, promessa...) da nossa parte. este pacto de Aliança une verdadeiramente Deus ao parceiro humano consagrado ao seu serviço num fiat sem reservas.
É assim que se confirmam e se evidenciam na vocação à VC a iniciativa de Amor e de salvação de Deus – e que estabelece uma Aliança especial e pessoal conosco – e a prioridade da dimensão vertical na nossa resposta ao seu chamamento.

2. Vida Consagrada pacto de solidariedade fraterna

A regra de Santo Agostinho (atribuída ao Bispo de Hipona, que a teria escrito aos sacerdotes que ele mesmo reunia ao seu redor em ordem a uma vida em comum) começa com esta interpelação: Em primeiro lugar, por que motivo vos congregastes aqui, a não ser por habitardes juntos na unanimidade, formando assim uma só alma e um só coração? A referência a At 4,32-35 é clara. O ideal da vida comunitária apostólica descrito per são Lucas inspirou vigorosamente todos os projetos de vida fraterna em comunidade. Caracterizando o projeto religiosos de vida em comum como um signum fraternitatis, a Vida Consecrata remete às pessoas consagradas o ideal de vida fraterna da Comunidade de Jerusalém.: Exorto, por isso, os consagrados e consagradas a cultivá-la [a vida fraterna] com ardor, seguindo o exemplo dos primeiros cristão de Jerusalém, que eram assíduos na escuta do ensinamento dos Apóstolos, na oração comum, na participação da Eucaristia, na partilha dos bens materiais e espirituais (VC, n.45), e um pouco mais adiante: Ela [a Igreja] deseja oferecer ao mundo o exemplo de comunidade onde a recíproca atenção ajuda a superar a solidão, e a comunicação impele todos a sentirem-se co-responsáveis, o perdão cicratiza as feridas, reforçando em cada um o propósito da comunhão (VC n.45). Antes a Vita Consecrata, referindo-se à comunhão das Pessoas trinitárias, vê nesta o manancial e o modelo último da vida fraterna em comunidade e a possibilidade de que renasça uma nova forma de solidariedade entre os homens. Favorecendo constantemente o Amor fraternal, de maneira especial sob a forma de vida comum, demonstrou que a participação na comunhão trinitária pode transformar os relacionamentos humanos e criar um renovado tipo de solidariedade (VC n.41).
2.1 Solidariedade social
A solidariedade pode ser definida de duas maneiras: por um lado, a solidariedade passiva, descrita como uma simples dependência mútua entre os homens, e depois a solidariedade ativa, apreendida como um sentimento que impele os homens a prestar ajuda uns aos outros. Podemos encontrar facilmente estes dois aspectos na solidariedade que caracteriza a nossa sociedade: a solidariedade passiva, existencial, que une os irmãos de sangue, os membros da mesma família, de uma mesma geração, de um mesmo povoado. Em tal caso, os vínculos são de tipo familiar – sentimo-nos uns aos outros irmãos ou quase como eles – e impõem-se ao indivíduo para além de toda e qualquer livre escolha.
Esta solidariedade passiva abre-se, por sua vez, a uma solidariedade ativa, com a prática de deveres e exercícios de certas obrigações, em relação aos membros interessados: pais,família alargada, amigos, equipe, etc.
2.2    Solidariedade religiosa
Na VC também vivemos sob o regime desta dúplice forma de solidariedade: Irmãos, irmãs, companheiros ou companheiras de religião, de profissão, somos obrigados a manifestar vínculos especiais de solidariedade entre nós no seio do mesmo instituto: solidariedade passiva, reconhecendo a nossa interdependência (sem os outros, eu já não seria aquilo que sou), e solidariedade ativa, vivendo as nossas obrigações, assumindo as nossas responsabilidades de membros de um determinado Instituto: aceitação recíproca, apoio e auxílio fraternais, reconhecimento dos direitos e dos deveres de cada um...
2.3    Um renovado tipo de solidariedade
Como já pudemos indicar mais acima: a Vita Consecrata recomenda aos consagrados que constituam no mundo um renovado tipo de solidariedade. Por conseguinte, como podemos atravessar concretamente o limiar das formas habituais de solidariedade, para estabelecer entre os consagrados este novo tipo de vínculos?
2.4    Pacto de sangue
Na Bíblia, a amizade entre Davi e Jônatas foi selada mediante um pacto de sangue. Ainda existe um pacto desta natureza entre indivíduos ou entre comunidades. Positivamente, quantos contraíam tal pacto juravam assistência, ajuda e tutela recíproca por toda a vida; e, negativamente, renunciavam, ao preço da própria vida, a atraiçoar-se ou a destruir-se uns aos outros. Jônatas estabeleceu um pacto com Davi, dado que o amava como a si mesmo (1Sm 18,3). No entanto neste caso, o pacto foi selado unicamente entre eles dois: havia uma testemunha, o próprio Deus, que garantia este pacto. Ambos estabeleceram uma aliança perante o Senhor (1Sm 23,18). De tal modo quando fizeram o pacto tinham direito a esperar toda a fidelidade um do outro, durante todo o percurso da vida e em todas as circunstâncias. Quem infringisse tal aliança ficava manchado de ignomínia e desonra. No trecho de 1Sm 20,8, Davi diz a Jônatas: Mostra-te amigo para com o teu servo, dado que fizeste um pacto comigo em nome do Senhor. se eu tenho alguma culpa, mata-me tu mesmo...
2.5    Para uma aliança de fraternidade
Aquilo que é possível realizar no plano puramente humano, por interesses humanos, por que não deveria ser possível fazê-lo num nível diferente, dos irmãos e das irmãs, selando um pacto de solidariedade perante Deus no próprio cerne do seu percurso religioso?
Seria como a cereja sobre o bolo do compromisso religioso. No âmago do compromisso mediante os votos, o juramento ou promessa, também somos convidados a fazer, sob o olhar de Deus, um pacto de solidariedade ou de fraternidade com os membros do Instituto, que nos empenha a aceitar, sustentar, proteger e assistir o irmão ou a irmã, sejam eles quem forem, em nome dos vínculos de aliança contraídos através da profissão ou do compromisso. Não se trata de transpor para a religião a prática do pacto de sangue, trata-se simplesmente de tornar explícito, durante a cerimônia o juramento de fraternidade e de solidariedade com os membros do Instituto que para nós é verbalizado com as palavras: comprometo-me, em comunhão com os meus irmãos, a dar toda a vida no serviço apostólico próprio da família pavoniana.. Um compromisso como este, assumido perante Deus e a comunidade, adquire um valor simbólico vigoroso não só em quem o contrai, mas, inclusive, para os fiéis ali presentes.  Infelizmente, estes últimos são testemunhas resignadas ou indignadas das rupturas de fraternidade que se verificam diante dos seus olhos entre irmãos e irmãs de um mesmo instituto.
2.6    Urgência de uma solidariedade renovada
Com efeito, é necessário reconhecer que no seio dos institutos e das comunidades de VC, por vezes as malhas da solidariedade fraterna estendem-se perigosamente.
A solidariedade entre diferentes culturas e raças, entre responsáveis e o restante da comunidade, entre mais velhos e jovens, entre membros de conselhos ou de Capítulos... a solidariedade a todos os níveis da VC, vê-se ameaçada de ruptura ou de debilitação.
Há quem diga, às vezes, infelizmente, que as pessoas entram num instituto, simplesmente, para realizar a sua vocação, desenvolver os seus talentos, responder ao seu apelo e alcançar a própria salvação. Cada pessoa sabe que é preciosa e insubstituível aos olhos de Deus, a tal ponto que chega, assim, a privilegiar o serviço a Deus, negligenciando a dimensão horizontal deste mesmo serviço: a solidariedade concreta para com os irmãos e as irmãs. Como se fosse possível separar o Amor a Deus do amor ao próximo. No seio das nossas comunidades, constatamos um pouco em toda parte que existem demasiadas justaposições, isolamentos, marginalizações e exclusões. Em numerosas situações, as comunidades formam-se e dissolvem-se à mercê de interesse e de cálculos, mergulhando os próprios membros na insatisfação e na frustração. As disfunções são devidas, entre outros fatores, a uma carência de solidariedade. É assim que se explicam as atitudes de não assistência a uma pessoa em perigo moral, espiritual ou psicológico, as deserções e os abandonos, as abdicações de responsabilidade,a constituição de bastiões de resistência, de governo paralelo, de franco-atiradores como num campo de batalha em que uns marcam os outros, um se protege de um inimigo potencial, que pode ser o seu irmão ou a sua irmã... a desconfiança insinua a todos os níveis fraturas multiformes de fraternidade que tornam mais frágil o propósito original de VC: Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros (Jo 13,35). Naturalmente, é necessário desconfiar da ideologia recorrente de uma comunidade ideal com contornos bem arredondados, em que não se cessaria de entoar o hino perfumado do levita de antigamente: Oh, como é bom, como é agradável para os irmãos unidos viverem juntos!(Sl 133[132],1). As comunidades de entusiastas sempre terminaram no delírio ou na loucura coletiva. A objetividade e a verdade obrigam a ter em consideração as dificuldades e os limites humanos, que fazem das nossas comunidades lugares de pecado e de graça, de luta e de conversão. Isto exige de nós que voltemos a definir sem cessar as finalidades da nossa vida em comum, para não corrermos o perigo de perder de vista as razões da nossa vocação, recordadas mais acima por santo Agostinho: Em primeiro lugar, por que motivo vos congregastes aqui, a não ser para habitardes juntos na unanimidade, formando assim uma só alma e um só coração em Deus?
2.6.1        Comunidade e fraternidade
Viver em comunidade, viver juntos, somente se transforma em algo significativo a partir do compromisso solidário a ter uma só alma e um só coração voltados para Deus. Sem esta exigência cardeal, podemos perfeitamente construir comunidades regulares, sem história, nas quais, contudo, faltará o essencial: a comunhão fraterna, a solidariedade efetiva. Um autor constata, justamente: Aquilo que hoje é rejeitado é a comunidade, que era essencialmente a vida em comum, ou seja, a uniformidade, a regularidade, a comunidade de práticas e observâncias; é a comunidade congregada pela autoridade para realizar uma obra específica, e na qual as pessoas não se preocupam demasiado em valorizar as aptidões de cada um. A caridade torna-se somente sustentáculo mútuo, muito mais do que partilha e enriquecimento recíproco (B-M. Amoussou, Pentecôte d’Afrique, n.20, 1995,pág.29). Durante as nossas revisões de vida comunitárias, observamos com frequência que existe pouca fraternidade no seio das nossas comunidades, nos nossos relacionamentos e no nosso testemunho no meio do povo. A máquina comunitária pode funcionar de modo regular e eficaz; mas quando falta o óleo da solidariedade, o edifício no seu conjunto perde a sua pertinência evangélica. Este é o sentido da observação de B-M Amoussou, no citado artigo: É possível viver em comunidade por interesse, sem verdadeiros vínculos interpessoais, contanto que se viva por alguma coisa: do mesmo modo, pode-se viver em fraternidade sem estar necessariamente sob o mesmo teto, contanto que os vínculos subsistam (B-M Amoussou ibidem pág. 27).
2.6.2        Opção preferencial pela harmonia
No que se refere às comunidades, penso que hoje temos o dever de mostrar a vida religiosa como um serviço gratuito do Senhor e um compromisso a constituir lares de fraternidade e a enfrentar com coragem e tenacidade o desafio da paz, da acolhida e do perdão. Assim, poderíamos refletir e viver como comunidades comprometidas em dar testemunho diariamente de fraternidade na tolerância e no diálogo. O Sínodo Especial dos Bispos para a África, promovendo a imagem-força da Igreja-família como germe de uma eclesiologia renovada, dirige uma interpelação especial àqueles e àquelas que, por vocação, se oferecem para construir um novo tipo de família, fundamentada explicitamente nos critérios evangélicos de comunhão e de fraternidade. Deste modo, diversamente das Entidades filantrópicas e beneficentes, não seríamos apreciados e aceitados antes de tudo por sermos simples Associações assistenciais, educativas e caritativas, mas como cristãos que se esforçam por viver e irradiar o mandamento supremo do seu Mestre: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei... Não existe Amor maior do que dar a vida pelos próprios amigos. Isto é suficiente para dar pleno sentido ao projeto de vida religiosa. Seria a nossa maneira de concretizar a recomendação contida na Vita Consecrata: No nosso mundo, onde frequentemente parecem ter-se perdido os vestígios de Deus, torna-se urgente um vigoroso testemunho profético por parte das pessoas consagradas... a própria vida fraterna é já uma profecia em ato, numa sociedade que, às vezes sem se dar conta, anela profundamente por uma fraternidade sem fronteiras (VC.n 85).

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Superior geral


Caríssimos irmãos e leigos da Família pavoniana,
o ano da missão educativa pavoniana, no qual estamos imersos, deverá despertar em nós e fazer crescer ainda mais aquela paixão educativa que certamente percebemos em padre Pavoni, quando nos aproximamos de sua figura, e que foi assumida por nós quando aderimos à Congregação e à Família pavoniana. Mas é assim mesmo? Será que a proposta deste ano, à luz do exemplo do Padre Fundador e das urgências dos temas atuais, está realmente nos animando neste sentido? Eu o espero para todos e para cada um de nós. Cada um, no âmbito da sua missão, junto com os irmãos da comunidade e os leigos colaboradores, é chamado a reviver hoje a paixão do Padre Fundador pela salvação da juventude.

A paixão educativa de padre Ludovico Pavoni

Quanto mais conhecemos a figura e a história do Padre Fundador, tanto mais ficamos impressionados com aquela paixão educativa pela salvação da juventude, e em particular pela juventude em situação de maior necessidade, que marcou toda a sua vida. O chamado de Deus para segui-lo como sacerdote ele o acolheu e o viveu, sobretudo, como chamado a dedicar-se a tempo integral à educação dos jovens, espelhando-se naquelas expressões de Jesus: “Quem acolhe uma criança como esta por causa de meu nome, acolhe a mim” (Mt 18,5). E: “Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40).
Manifestando os sentimentos do seu coração, padre Pavoni fala dos “doces atrativos” com os quais Deus o seduziu (para usar o verbo do profeta Jeremias), arrancando-o da tranquilidade da sua casa para imolar-se (ele fala de voluntária oblação de todo o meu ser[1]) em vantagem de tamanho público bem. Aquilo a que padre Pavoni se imola é um serviço que faz a Deus, que faz aos jovens, que faz à Igreja, que faz à sociedade. Esta é a convicção, o testemunho, a experiência que emerge das suas palavras e da sua vida.
Padre Pavoni se compadece com o naufrágio de tantos jovens, isto é, com a condição de grave perigo, com o risco concreto que correm de chegar ao fracasso e à ruína da vida. E quer oferecer-lhes uma proteção. Todas as iniciativas estão orientadas a este fim: dar proteção, oferecer um refúgio a sua condição de naufrágio.
Um refúgio que parte do oratório e que se desenvolve com o instituto, ao qual dará estabilidade no tempo com a fundação da Congregação. Um refúgio que, por meio das instituições, oferece aos jovens o calor de uma família, o encaminhamento a uma profissão, a segurança do futuro, garantido por uma sólida formação humana, cívica e cristã. Um refúgio que, antes de apoiar-se num ambiente e meios educativos, mesmo importantíssimos, apoia-se sobre a entrega da sua pessoa e sobre a relação pessoal que cria com cada um dos seus jovens, motivado por um amor apaixonado que encontra as suas raízes na fé em Cristo e na sua vocação sacerdotal e, depois de 08 de dezembro de 1847, também na sua consagração religiosa. Constatamos no Fundador uma admirável síntese entre a santidade de vida, a paixão educativa e a genialidade das intuições e realizações pedagógicas, nas quais sabe envolver outros, atraídos pelo mesmo objetivo e pelo mesmo projeto.

A nossa paixão educativa

Uma síntese análoga não pode deixar de estar na base também da ação educativa de cada um de nós. Fazer nosso o projeto educativo pavoniano significa e comporta fazer nosso o carisma pavoniano, significa e comporta fazer nosso o exemplo de padre Pavoni. Significa e implica a imitação de padre Pavoni, cada um segundo a própria vocação e a própria função.
A lógica que deve nos acompanhar, na renovação da nossa missão, é a do excesso. Se nos contentamos com a pequena rotina, com a vida tranquila (da qual pe. Pavoni foi arrancado[2]), com a mediocridade de quem não ousa mais progredir no caminho da própria vida espiritual e na qualidade do próprio compromisso cotidiano, não poderemos realizar verdadeiramente nossa missão, segundo as necessidades da atualidade.
Certamente este percurso não é fácil. Mas é o desafio que nos espera e que deveria nos animar. O projeto educativo pavoniano pede-nos renovar a nossa missão, para ser fiéis ao que nos confiou o  Padre Fundador em relação às exigências dos tempos.  
Cada comunidade, cada grupo educativo deve se interrogar periodicamente sobre como está realizando a própria proposta formativa, sobre sua incidência, sobre seu direcionamento integral (isto é, em todos os níveis: humano, cultural, profissional e cristão), como pede o nosso projeto.
A lógica do excedente nos diz que devemos ousar um pouco mais, ir um pouco além em relação a um modelo de baixo perfil. Mas este processo nos envolve a todos pessoalmente, partindo do nível da nossa fé, da nossa coerência de vida e da nossa disponibilidade para nos fazer tudo para todos, como nos pede padre Pavoni, retomando uma expressão de são Paulo.
A renovação é possível se quisermos e propusermos (para nós e para os outros) mais santidade, mais oração, mais amor, mais fraternidade, mais dedicação. Assim se apresenta um ideal atraente para quem está desiludido com a mediocridade, com o contentar a si mesmo, com o dobramento sobre si mesmo.
Neste contexto, pode nos ajudar a seguinte reflexão do papa s. Gregório Magno: Aqueles que nos foram confiados abandonam a Deus e nos calamos Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão da advertência. Quando,porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem, se descuramos a nossa? Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis interiormente quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores. Educar é, antes de tudo, testemunhar.
Quanto mais nos interessamos pelo presente e pelo futuro dos nossos jovens; quanto mais desejamos que cresçam no bem, que saibam dar um fundamento consistente a sua vida, que saibam encontrar Cristo e deixar-se guiar pelo seu amor e pela sua palavra, tanto mais também nós somos estimulados a não ser superficiais, mas a tender para uma vida autêntica e santa. A nossa paixão educativa não pode permanecer em nível sentimental, mas se manifesta na nossa aproximação dos jovens e na criatividade de propostas eficazes, orientadas para dar solidez à formação deles e sustentadas em nós pela realidade e pela exemplaridade de uma vida pessoal e fraterna plenamente coerente com a nossa vocação.
Para nós religiosos significa: estarmos a tempo integral para Deus, para a comunidade e para os jovens.

No cotidiano

Parece-me bonito e significativo que 2012 tenha iniciado com a fundação da nova missão em Burkina Faso (com pe. Flávio Paoli e pe. Pierre Michel Towada Towada). Esta iniciativa é um sinal eficaz do Ano da missão educativa pavoniana.
No dia 2 e no dia 11 de fevereiro, celebraremos na Igreja, respectivamente, o Dia Mundial da Vida Consagrada e o Dia Mundial dos Enfermos. São ocasiões propícias para dar válido testemunho seja da nossa vocação seja da nossa sensibilidade para com as pessoas que sofrem.
O dia 11 de fevereiro, memória de N. Sra. de Lourdes, também nos recorda o compromisso de continuar a rezar em comunidade, todo dia, pela glorificação do nosso Padre Fundador.
Nos dias 11 e 12, em Lonigo, haverá o encontro anual da Família pavoniana de Itália. No dia 17, em Belo Horizonte, estão convocados os superiores locais, para que possam encaminhar bem suas comunidades para o novo ano de atividades. De 17 a 19, em Valladolid, está programado um encontro de formação permanente para religiosos e leigos. No dia 24, partirei para a visita às  comunidades do México.
Com a última semana do mês entraremos no tempo da quaresma. Seja para todos nós ocasião de reforço da conversão a Deus e de ânimo para a missão à qual ele nos chamou. A este duplo objetivo nos exorta a afirmação de s. Inácio, bispo de Antioquia: É bom ensinar, se quem fala pratica o que ensina.
Então, façamos nossa a oração do bispo s. Hilário: Ó Senhor, estou consciente de que tu deves ser o fim principal da minha vida, de modo que cada palavra minha, cada sentimento meu te manifeste. Saúdo a todos em nome do Senhor.
pe. Lorenzo Agosti
Tradate, 1° de fevereiro de 2012.


[1] Introdução Ao Regulamento do Instituto – 1831 – veja o Caderno pavoniano nº 7 -  Regra de Vida... pag.157
[2] ...o Senhor houve por bem clamar-me desde a tranquila moradia de minha casa paterna e animar-me à voluntária oblação de todo o meu ser, a fim de me dedicar completamente a esse empreendimento tão útil para todos.Introdução ao Regulamento do Instituto – 1831-veja Regra de Vida... pág. 157ss.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Festa da Apresentação do Senhor no Templo


Cântico de Simeão Lc 2,29-32 

Cristo, luz das nações 
e glória de seu povo 

29 Deixai, agora, vosso servo ir em paz, * 
conforme prometestes, ó Senhor. 

30 Pois meus olhos viram vossa salvação * 
31 que preparastes ante a face das nações: 

32 uma Luz que brilhará para os gentios * 
e para a glória de Israel, o vosso povo.





Primeira leitura
Do livro do Êxodo 13,1-3a.11-16

Consagração do primogênito
Naqueles dias: 1O Senhor falou a Moisés, dizendo: 2“Consagra-me todo o primogênito,
todo o primeiro parto entre os filhos de Israel, tanto de homens como de animais,
porque todas as coisas são minhas”.

3Moisés disse ao povo:
11“Quando o Senhor te houver introduzido na terra dos cananeus e a tiver dado a ti,
conforme te jurou e a teus pais, 12consagrarás ao Senhor todos os primogênitos desde o
ventre materno e também as primeiras crias do teu gado; consagrarás ao Senhor tudo o
que tiveres do sexo masculino. 13Resgatarás o primogênito do jumento com uma ovelha;
se, porém, não o resgatares, deverás matá-lo. Resgatarás com dinheiro todo o
primogênito de teus filhos. 14E quando o teu filho, amanhã, te perguntar: ‘Que significa
isto?’, tu lhe responderás: ‘O Senhor tirou-nos do Egito, da casa da escravidão, com
mão forte. 15Como o Faraó se obstinasse em não nos deixar partir, o Senhor matou todos
os primogênitos na terra do Egito, desde os primogênitos dos homens até aos
primogênitos dos animais. Por isso, eu sacrifico ao Senhor todo o primogênito macho
dos animais, e resgato todo o primogênito de meus filhos’. 16Isto será para ti como um
sinal em tua mão, e como uma marca entre os teus olhos para lembrança; pois foi com
mão forte que o Senhor nos tirou do Egito”.


Segunda leitura
Dos Sermões de São Sofrônio, bispo

(Orat. 3, de Hypapante,6.7: PG87,3,3291-3293)

(Séc.VII)

Recebamos a luz clara e eterna
Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o mistério do encontro do
Senhor, corramos para ele cheios de entusiasmo. Ninguém deixe de participar deste
encontro, ninguém recuse levar sua luz.

Acrescentamos também algo ao brilho das velas, para significar o esplendor divino
daquele que se aproxima e ilumina todas as coisas; ele dissipa as trevas do mal com a
sua luz eterna, e também manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao
encontro com Cristo.

Do mesmo modo que a Mãe de Deus e Virgem imaculada trouxe nos braços a
verdadeira luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós: iluminados
pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, corramos
pressurosos ao encontro daquele que é a verdadeira luz.

Realmente, a luz veio ao mundo (cf. Jo 1,9) e dispersou as sombras que o cobriam; o sol
que nasce do alto nos visitou (cf. Lc 1,78) e iluminou os que jaziam nas trevas. É este o
significado do mistério que hoje celebramos. Por isso caminhamos com lâmpadas nas
mãos, por isso acorremos trazendo as luzes, não apenas simbolizando que a luz já
brilhou para nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos virá no
futuro. Por este motivo, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus.

Chegou a verdadeira luz, que vindo ao mundo ilumina todo ser humano (Jo 1,9).
Portanto, irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós.

Que ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar mergulhado
na noite. Mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos
todos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara e eterna. Associemo-
nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de ação de graças ao Criador e Pai da luz,
que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu
esplendor.

A salvação de Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos
pertence, a nós que somos o novo Israel. Também fez com que víssemos, graças a ele,
essa salvação e fôssemos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa. Assim aconteceu com
Simeão que, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente.

Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que nasceu em Belém, de pagãos que
éramos, nos tornamos povo de Deus – Jesus é, com efeito, a salvação de Deus Pai – e
vemos com nossos próprios olhos o Deus feito homem. E porque vimos a presença de
Deus e a recebemos, por assim dizer,nos braços do nosso espírito, somos chamados de
novo Israel. Todos os anos celebramos novamente esta festa, para nunca nos
esquecermos daquele que um dia há de voltar.

Oração Vocacional Pavoniana

Oração Vocacional Pavoniana
Divino Mestre Jesus, ao anunciar o Reino do Pai escolheste discípulos e missionários dispostos a seguir-te em tudo; quiseste que ficassem contigo numa prolongada vivência do “espírito de família” a fim de prepará-los para serem tuas testemunhas e enviá-los a proclamar o Evangelho. Continua a falar ao coração de muitos e concede a quantos aceitaram teu chamado que, animados pelo teu Espírito, respondam com alegria e ofereçam sem reservas a própria vida em favor das crianças, dos surdos e dos jovens mais necessitados, a exemplo do beato Pe. Pavoni. Isto te pedimos confiantes pela intercessão de Maria Imaculada, Mãe e Rainha da nossa Congregação. Amém!

SERVIÇO DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL - FMI - "Vem e Segue-Me" é Jesus que chama!

  • Aspirantado "Nossa Senhora do Bom Conselho": Rua Pe. Pavoni, 294 - Bairro Rosário . CEP 38701-002 Patos de Minas / MG . Tel.: (34) 3822.3890. Orientador dos Aspirantes – Pe. Célio Alex, FMI - Colaborador: Ir. Quelion Rosa, FMI.
  • Aspirantado "Pe. Antônio Federici": Q 21, Casas 71/73 . Setor Leste. CEP 72460-210 - Gama / DF . Telefax: (61) 3385.6786. Orientador dos Aspirantes - Ir. José Roberto, FMI.
  • Comunidade Religiosa "Nossa Senhora do Bom Conselho": SGAN Av. W5 909, Módulo "B" - Asa Norte. CEP 70790-090 - Brasília/DF. Tel.: (61) 3349.9944. Pastoral Vocacional: Ir. Thiago Cristino, FMI.
  • Comunidade Religiosa da Basílica de Santo Antônio: Av. Santo Antônio, 2.030 - Bairro Santo Antônio. CEP 29025-000 - Vitória/ES. Tel.: (27) 3223.3083 (Comunidade Religiosa Pavoniana) / (27) 3223.2160 / 3322.0703 (Basílica de Santo Antônio) . Reitor da Basílica: Pe. Roberto Camillato, FMI.
  • Comunidade Religiosa da Paróquia São Sebastião: Área Especial 02, praça 02 - Setor Leste. CEP 72460-000 - Gama/DF. Tel.: (61) 34841500 . Fax: (61) 3037.6678. Pároco: Pe. Natal Battezzi, FMI. Pastoral Vocacional: Pe. José Santos Xavier, FMI.
  • Juniorado "Ir. Miguel Pagani": Rua Dias Toledo, 99 - Bairro Vila Paris. CEP 30380-670 - Belo Horizonte / MG. Tel.: (31) 3296.2648. Orientador dos Junioristas - Pe. Claudinei Ramos Pereira, FMI. ***EPAV - Equipe Provincial de Animação Vocacional - Contatos: Ir. Antônio Carlos, Pe. Célio Alex e Pe. Claudinei Pereira, p/ e-mail: vocacional@pavonianos.org.br
  • Noviciado "Maria Imaculada": Rua Bento Gonçalves, 1375 - Bairro Centro. CEP 93001-970 - São Leopoldo / RS . Caixa Postal: 172. Tel.: (51) 3037.1087. Mestre de Noviços - Pe. Renzo Flório, FMI. Pastoral Vocacional: Ir. Johnson Farias e Ir. Bruno, FMI.
  • Seminário "Bom Pastor" (Aspirantado e Postulantado): Rua Monsenhor José Paulino, 371 - Bairro Centro. CEP 37550-000 - Pouso Alegre / MG . Caixa Postal: 217. Tel: (35) 3425.1196 . Orientador do Seminário - Ir. César Thiago do Carmo Alves, FMI.

Associação das Obras Pavonianas de Assistência: servindo as crianças, os surdos e os jovens!

  • Centro Comunitário "Ludovico Pavoni": Rua Barão de Castro Lima, 478 - Bairro: Real Parque - Morumbi. CEP 05685-040. Tel.: (11) 3758.4112 / 3758.9060.
  • Centro de Apoio e Integração dos Surdos (CAIS) - Rua Pe. Pavoni, 294 - Bairro Rosário . CEP 38701-002 Patos de Minas / MG . Tel.: (34) 3822.3890. Coordenador: Luís Vicente Caixeta
  • Centro de Formação Profissional: Av. Santo Antônio, 1746. CEP 29025-000 - Vitória/ES. Tel.: (27) 3233.9170. Telefax: (27) 3322.5174. Coordenadora: Sra. Rosilene, Leiga Associada da Família Pavoniana
  • Centro Educacional da Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (CEAL-LP) SGAN Av. W5 909, Módulo "B" - Asa Norte. CEP 70790-090 - Brasília/DF. Tel.: (61) 3349.9944 . Diretor: Pe. José Rinaldi, FMI
  • Centro Medianeira: Rua Florêncio Câmara, 409 - Centro. CEP 93010-220 - São Leopoldo/RS. Caixa Postal: 172. Tel.: (51) 3037.2797 / 3589.6874. Diretor: Pe. Renzo Flório, FMI
  • Colégio São José: Praça Dom Otávio, 270 - Centro. CEP 37550-000 - Pouso Alegre/MG - Caixa Postal: 149. Tel.: (35) 3423.5588 / 3423.8603 / 34238562. Fax: (35) 3422.1054. Cursinho Positivo: (35) 3423. 5229. Diretor: Prof. Giovani, Leigo Associado da Família Pavoniana
  • Escola Gráfica Profissional "Delfim Moreira" Rua Monsenhor José Paulino, 371 - Bairro Centro. CEP 37550-000 - Pouso Alegre / MG . Caixa Postal: 217. Tel: (35) 3425.1196 . Diretor: Pe. Nelson Ned de Paula e Silva, FMI.
  • Obra Social "Ludovico Pavoni" - Quadra 21, Lotes 71/72 - Gama Leste/DF. CEP 72460-210. Tel.: (61) 3385.6786. Coordenador: Sra. Sueli
  • Obra Social "Ludovico Pavoni": Rua Monsenhor Umbelino, 424 - Centro. CEP 37110-000 - Elói Mendes/MG. Telefax: (35) 3264.1256 . Coordenadora: Sra. Andréia Mendes, Leiga Associada da Família Pavoniana.
  • Obra Social “Padre Agnaldo” e Pólo Educativo “Pe. Pavoni”: Rua Dias Toledo, 99 - Vila Paris. CEP 30380-670 – Belo Horizonte/MG. Tels.: (31) 3344.1800 - 3297.4962 - 0800.7270487 - Fax: (31) 3344.2373. Diretor: Pe. André Callegari, FMI.

Total de visualizações de página

Artigos do blog

Quem sou eu?

Minha foto
Bréscia, Italy
Sou fundador da Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada, conhecida popularmente como RELIGIOSOS PAVONIANOS. Nasci na Itália no dia 11 de setembro de 1784 numa cidade chamada Bréscia. Senti o chamado de Deus para ir ao encontro das crianças e jovens que, por ocasião da guerra, ficaram órfãos, espalhados pelas ruas com fome, frio e sem ter o que fazer... e o pior, sem nenhuma perspectiva de futuro. Então decidi ajudá-los. Chamei-os para o meu Oratório (um lugar onde nos reuníamos para rezar e brincar) e depois ensinei-os a arte da marcenaria, serralheria, tipografia (fabricar livros), escultura, pintura... e muitas outras coisas. Graças a Deus tudo se encaminhou bem, pois Ele caminhava comigo, conforme prometera. Depois chamei colaboradores para dar continuidade àquilo que havia iniciado. Bem, como você pode perceber a minha história é bem longa... Se você também quer me ajudar entre em contato. Os meus amigos PAVONIANOS estarão de portas abertas para recebê-lo em nossa FAMÍLIA.