sexta-feira, 17 de junho de 2011

Impressões do Quarto Evangelho

Ir. Thiago Cristino, FMI
Estudante de Teologia
Instituto São Boaventura -OFM Conventuais - Brasília/DF


Considerações iniciais

O Evangelho de João foi escrito tendo sempre em vista uma comunidade concreta com ‘luzes’ e ‘trevas’. Como os outros Evangelhos possuem uma estrutura fundamentalmente narrativa, com uma “história” da vida de Jesus: ministério público, paixão, morte e ressurreição, o Quarto Evangelho vai mais além e nos apresenta Jesus como o narrador do Pai (cf. 1,18) e ao mesmo tempo ele é narrado por meio do livro (narrativa) para os leitores. É uma obra teológica (Revelação) que narra por meio de sinais e discursos e pela elevação na cruz e ressurreição (glorificação) a histórica do Verbo Encarnado, Messias e Filho de Deus, em vista de suscitar a fé e assim dar a vida aos homens.

A inteira trama do Quarto Evangelho está cheia, do começo ao fim, do conflito entre fé e incredulidade, que se torna papel fundamental no encontro das pessoas e grupos com o personagem principal, Jesus Cristo. Narra-se continuamente o drama da Palavra que veio para os da sua casa, mas eles não a receberam (cf. 1,11).

1. Estrutura do Livro

Diferentemente dos outros Evangelhos, João basicamente é dividido em dois grandes livros: o dos sinais e o da glória, situados entre uma introdução e uma conclusão. Neste primeiro momento vamos expor algumas características centrais das partes.

1.1. Livro dos Sinais: Assim pode ser chamada a primeira grande unidade do Evangelho (cf. 2,1-12,50) que vai do primeiro sinal em Caná até aquele de Betânia, a ressurreição de Lázaro, especialmente sublinhado como “sinal realizado por Jesus” (cf. 12,18). Neste bloco estão contidos os sete sinais realizados por Jesus ao longo do seu ministério público: gestos (expulsão dos vendilhões do Templo), diálogos (com Nicodemos, com a Samaritana, com Marta e Maria), o discurso revelatório aos discípulos (cf. 6,1ss) e as controvérsias com os Judeus (cf. Capítulos 5–7–8–10).

Estes sinais têm por objetivo conduzir o leitor para a realidade da fé naquele que os realiza e que revela a sua “glória” por meio deles. Glória essa, que se revelará definitivamente na “hora” da elevação na cruz. Aquele que realiza os sinais é insistentemente intitulado como “Filho”, “Filho de Deus” e “Filho do Homem”.

O termo grego para ‘sinais’ é semeia, que sugere um Jesus como profeta, haja vista que a autoridade dos profetas era credenciada por Deus mediante os ‘sinais’ que operavam. Todavia, em João este termo adquire uma dimensão bem mais profunda. Eles não mostram apenas que Deus está com Jesus, mas simbolizam também o que Jesus significa nas várias realidades para as quais se apresentam: ‘vinho’, ‘cura e vida’, ‘alimento’, ‘luz’, ‘ressurreição e vida’ e mais, mostram Deus em Jesus.

1.2. Livro da Glória: Pode ser assim chamado o segundo bloco dessa grande unidade que é o Evangelho de João (cf. 11,1–20,29). Pode ser chamado também de ‘conclusão da obra e da volta ao Pai’ como bem assinala a comunidade joanina quando escreve “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que sua hora tinha chegado de passar deste mundo ao Pai...” (cf. 13,1; 17,1b). Com essa delimitação, isto é, o fato da Ressurreição de Lázaro e a Ressurreição de Jesus, o autor nos indica o início e o fim da ‘hora’ que Jesus falava.

Se num primeiro momento dizemos que o primeiro grande bloco desta unidade literária está concentrado no Livro dos sinais, esta segunda parte narra o cumprimento daquilo que os “sinais” significavam: o amor do Filho que ama até o fim e comunica o seu Espírito.

1.3. A introdução geral do Evangelho (1,1–2,11) manifesta uma finalidade claramente revelatória, querigmática. O escritor sagrado apresenta ao “leitor” um (logos), desvelando sua natureza divina e sua função de trazer Vida e ser Luz para e na criação, além de informar que as trevas não têm poder sobre Ele. Este logos revelará o Pai, pois “a Deus ninguém viu” (cf. 1,18). E o nome do logos é Jesus Cristo, o Unigênito de Deus.

1.4. A conclusão geral do Evangelho está situada em (cf. 20,30-21,25). Depois dela há um epílogo relatando o encontro do Senhor Ressuscitado com alguns discípulos no Mar de Tiberíades (cf. 21,1-23) e mais uma nota de caráter editorial (cf. 21,24-25). Todavia este apêndice foi acrescentado pelo redator final e não faz parte da conclusão final do Evangelho.

Também nela nota-se um caráter cristocêntrico que é sublinhado pela presença enfática do nome Jesus: “Jesus fez muitos sinais” (cf. v.25) e “Jesus é o Cristo o Filho de Deus, o Senhor” (cf. v.12), o que demonstra a conexão entre “sinais” e “revelação”, pois os sinais feitos diante dos discípulos e revelam a identidade de Jesus como Cristo, o Filho de Deus.

2. A comunidade joanina e sua eclesiologia

Embora tenha uma cosmovisão bem diferenciada, se comparada com a dos Sinóticos, a comunidade joanina, como autêntica discípula de Jesus, não tem a pretensão de causar nenhum cisma, mas antes com sua práxis diferenciada, a diversidade de uma comunidade guiada por um mesmo Espírito.

Ao fazer um ensaio sobre os símbolos sugestivos do Evangelho de João que ilustram a dimensão comunitária notamos uma riqueza incomensurável. Ainda que o autor sagrado apresente um argumento teológico de uma profundidade ímpar e acentue a questão da fé no seu aspecto pessoal, é preciso ter sempre presente que o elemento comunitário jamais é descartado por ele.

Segundo João tais imagens servem para mostrar que uma realização existencial com Cristo sem a Igreja é impensável, “porque sem mim nada podeis fazer” (cf. Jo 15,5). Desse modo, a comunidade é impensável sem uma coordenada transcendente.

Isto posto, vamos mencionar um símbolo eclesiológico tipicamente joanino. Trata-se da “videira e os ramos” (cf. 15,1-8). O evangelista provalmente se apoia numa tradição veterotestamentária, na qual Israel é contemplado sob a imagem da ‘vinha’ (cf. Os 10,1; Jr 2,21; 5,10; Ez 15,1-6). Segundo Is 5,1-7, a casa de Israel é a vinha do Senhor dos exércitos. Pois bem, quando João adota esta imagem para referir-se à comunidade de Jesus, ele realiza uma mudança fundamental: a videira não é a representação de Israel, mas é símbolo do próprio Cristo, Filho e revelador do Pai.

A figura dos ‘ramos’ designa a comunidade salvífica, que é fundada pela ‘videira verdadeira’, Jesus, em íntima comunhão de vida com Ele e Nele. Assim está descrito no versículo 5: “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. Trata-se, portanto, de um relacionamento de confiança e fidelidade recíproca que existe entre Ele e os seus.

A Igreja não pode constituir uma entidade distinta de Cristo. Uma comunidade que não permaneça unida a Jesus está condenada à esterelidade absoluta. Enquanto João apela para a imagem da ‘videira e ramos’, Paulo realça o caráter ‘corpo de Cristo’. Nesse sentido, ainda que ambos os autores busquem uma união orgânica entre a comunidade de Cristo, o primeiro insiste na união vital, necessária e duradoura a Cristo; já o segundo apela para a relação que os membros têm entre si, mediante os vários carismas que distinguem os cristãos (cf. 1Cor 12).

Considerações finais

A ótica do narrador é pós-pascal e a fé que ele comunica substancialmente no prólogo e epílogo é da alta cristologia da comunidade joanina. Neste sentido quem crer nele tem a vida já agora, pois desse modo se dá o autojulgamento ‘escatológico’.

O ‘primeiro livro’ prepara o ‘segundo’, pois os sinais foram narrados em vista da hora de Jesus, ou seja, a hora da paixão que é também a glorificação, ou a hora em que se revelará plenamente (cf. 2,4 4,23; 5.25.28; 7,30; 8,20; 12,23.27; 13,1; 16,4.25.32; 17,1; 19,14). A intenção do autor é, por meio do escrito, ajudar a comunidade na opção de fé em Jesus Cristo e creia seus sinais como revelação de Deus na pessoa de Jesus. No Livro dos sinais e no Livro da glória, o hagiógrafo procura levar seus leitores a essa fé cristológica que ele confessa. A divindade de Jesus narrada no prólogo vem expressa na interpelação contida na conclusão e que é o principal motivo da obra e que vale a pena mencionar sua expressão no grego “Іησούς Χριστός ε ο ύιός τού θεού”, isto é, Jesus Cristo, o Filho de Deus (cf. 1,34.49; 9, 35; 10, 36; 11,27).

Para além de um escrito de cunho espiritual ou puramente histórico, o Quarto Evangelho tem a postura de uma teologia encarnada na realidade do seu povo e que contagia os povos da atualidade, o que deve impulsionar todo crente a seguir a Cristo mais de perto, procurando re-conhecer nele o Verbo de Deus feito homem no meio dos homens.

Neste sentido é notória a importância dos ‘Encontros’ de/com Jesus, nos quais João reafirma o que está expresso ao longo de todo o seu Evangelho, isto é, o crente é convidado a fazer a experiência de Encontro com Jesus para que, conhecendo-O intimamente, possa experimentar a ‘vida na sua vida’ (cf. 10,10), a ‘luz na sua escuridão’ (cf. 8,12), a ‘água que sacia sua sede’ (cf. 4,14), e fazer sua opção fundamental de seguimento, na liberdade e com clareza, que só se sustenta e produz fruto se os ‘olhos estiverem fixos no autor e consumador de nossa fé, Cristo Jesus’ (cf. Hb 12,1-3).

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