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Pe. Lorenzo Agosti, FMI
Superior geral dos Filhos de Maria Imaculada
- RELIGIOSOS PAVONIANOS - |
Caríssimos irmãos e leigos da
Família pavoniana,
De fato, vocês conhecem a generosidade de nosso Senhor
Jesus Cristo; ele, embora fosse rico, se tornou pobre por causa de vocês, para
com a sua pobreza enriquecer a vocês (2 Cor
8,9). O
convite que são Paulo nos faz, na liturgia da palavra de hoje, para olhar a Jesus
Cristo, pode representar a chave de leitura da experiência que alguns de nossos
irmãos viverão neste mês, participando do curso de formação permanente de Ponte
di Legno. Será um momento de graça para eles. Mas pode ser uma ocasião de graça
também para todos nós. Aliás, é mesmo. E é, se nós nos sentirmos unidos a eles
e nos sentirmos interpelados pela exigência daquela formação permanente, que é necessária para todo ser
humano, todo cristão, para toda pessoa consagrada.
A formação
permanente, questão de vida ou de morte
A experiência dos nossos irmãos
em Ponte di Legno torna-se para todos um apelo ao significado e ao valor da
formação permanente ao longo da nossa vida. Por que não se trata tanto de participar
de cursos, mesmo periodicamente indispensáveis; mas trata-se de reencontrar e renovar
cada dia as motivações que mantêm vivos os ideais que estão na base da nossa vida
e que nos mantêm entusiasmados e fiéis à vocação à qual o Senhor nos chamou e
que abraçamos.
Esta é a formação permanente no
cotidiano. Cada dia somos chamados a dizer de novo o nosso “sim” a Deus, segundo a nossa vocação. E sabemos
por experiência que isto não é fácil e nem evidente.
A repetitividade dos gestos, o
desgate das situações, o cansaço do trabalho, a fatiga das relações, o desencorajamento
pelas incompreensões e pelos insucessos, as provocações do “mundo” e as nossas
fraquezas podem, pouco a pouco, fazer-nos sentir vazios por dentro,
desorientados, desiludidos. Corremos o risco de nos colocar num plano inclinado
que, gradualmente, leva-nos para aonde não queríamos. Leva-nos a duvidar de
Deus e das nossas opções; leva-nos a pôr em discussão o seu chamado e o sentido
da vida atual.
E tudo isto pode desembocar em
múltiplas saídas: ou a nos arrastar cansativamente em uma vida medíocre e insignificante; ou a aceitar comprometimentos
graves em relação aos compromissos assumidos; ou até mesmo a abandonar a opção
de vida, que fizemos no passado com gratidão, com liberdade e responsabilidade
diante de Deus e da Igreja. Podemos não
tomar consciência, mas são todas saídas de morte.
Morremos
por dentro, morrem os nossos ideiais, morre o nosso amor preferencial por Deus
e pelos pobres, morre a nossa fé. Podemos fazer todas as racionalizações que quisermos, mas
a realidade não muda. Não queremos reconhecer, mas deveremos assumir a derrota,
que equivale a uma morte do coração.
Pois bem, um autêntico caminho de
formação permanente torna-se um antídoto para este abismo de desconfiança e de
morte, do contrário inevitáveis neste caso.
Sem
mim nada podeis fazer
(Jo
15,5)
Todo dia a nossa vida é a mesma e, ao mesmo tempo, é
diferente. Cada novo dia jamais é perfeitamente igual ao precedente. Cada dia somos chamados a nos manter fiéis ao que nos
dá a possibilidade de ser nós mesmos e a estar vigilantes quanto às novidades que nos atingem.
Para nós consagrados, sendo que a
nossa resposta a Deus amadureceu em um clima de profunda fé e de assídua oração,
a perseverança nela não pode ser mantida se não neste mesmo clima. Sem mim nada podeis fazer nos disse o Senhor. Se as preocupações e
as distrações que prendem a nossa atenção nos desviam deste ponto de referência,
insensivelmente arriscamos de nos encontrar sem a necessária energia para viver
no amor e na fidelidade. Devemos nos resguardar deste perigo e recuperar sempre,
o mais depressa possível, a intensidade do nosso relacionamento com Deus, cultivado
de modo autêntico na meditação da Palavra, na oração, na celebração diária da eucaristia
e na prática frequente do sacramento da reconciliação. Descuidando deste
relacionamento, expomo-nos a riscos perigosos. Somente este relacionamento,
sólido e convicto, pemite-nos ser fiéis aos compromissos da consagração, ser
capazes de comunhão fraterna, saber nos doar com generosidade na missão que nos
é confiada.
Estar em formação permanente
significa viver de modo unitário estas dimensões. E é uma graça de Deus, que
exige a nossa correspondência, cada dia
Os conselhos evangélicos são o
primeiro banco de prova da nossa fidelidade. A castidade consagrada é um grande
dom, que guardamos em vasos de barro
(2 Cor 4,7). Se perdemos de vista o seu valor evangélico e as necessárias
precauções para salvaguardá-lo, podemos facilmente nos encontrar desorientados
em conservar-lhe o apreço e fracos para viver suas exigências. É forte em nós a
concupiscência e é delicado o equilíbrio da maturidade afetiva, enquanto são
intensas e provocadoras as sugestões do mundo. Quem nos assegura que vale e a
pena viver assim e que não erramos em seguir o Senhor nesta estrada? Junto com
as necessárias ajudas em nível psicológico e humano, quem é determinante para
superar toda dúvida sobre a validade do caminho percorrido e para não arrepender do que deixamos, se não o Senhor, se não a
certeza do seu amor e a plena confiança nele?
Permanecer
animados e fiéis cada dia, como no início …
Nem
todos são capazes de compreender (Mt 19,11) disse Jesus. A nós foi
permitido entender e experimentar, mesmo com as nossas fraquezas. Acolhemos o chamado à vida religiosa por causa do Reino dos Céus (Mt 19,12),
porque tomamos consciência no passado e tomamos consciência agora de que a figura deste mundo passa (1 Cor 7,31).
Os
conselhos evangélicos da castidade e da pobreza são este valor, esta escolha que
fizemos, por inspiração de Deus e com o sustento de sua graça, das coisas que
valem, que não passam. O matrimônio e a posse de bens são coisas boas, mas
relativas ao tempo desta vida. Todos, porém, estamos caminhando para a vida
aterna. E nós nos colocamos nesta perspectiva, que o Senhor nos chamou para
testemunhar diante dos nossos irmãos de fé e diante do mundo. A vocação religiosa
é uma missão indispensável, como o
evangelho nos prova, querida por Jesus para lembrar a todos que Deus é o valor
absoluto, é o sumo bem; para recordar que é necessário dar a ele o primeiro
lugar na vida. Por seu amor nós
deixamos tudo (Mt 19,27) e assim, junto com estes testemunhos, nos tornamos
disponíveis, no passado e no presente, para o serviço do Reino de Deus.
Daqui segue o valor da obediência
e da comunhão fraterna. Há um projeto de
Deus com o qual colaboramos através dos sinais
e de mediadores da sua vontade que ele mesmo nos apresenta (RV 91). Experimentamos
uma nova família não fundada na carne e no sangue, mas no
compromisso de pertencer a Cristo e de reunir-nos nele (RV 49). E,
portanto, além dos limites de todos nós, vivemos com fé a obediência e
aceitamos cada irmão como dom de Deus. Olhamos para os seus aspectos positivos
e nos ajudamos reciprocamente em nos tornar como o Senhor quer, sabendo nos comprender,
corrigir e perdoar. Se não nos esforçamos para agir assim, que exemplo damos? Como podemos pretender
que no mundo não haja incompreensões e ódio, divisões e injustiças, violências
e guerras, se nós cristãos, se nós consagrados não procuramos traduzir em
prática o mandamento evangélico do amor? E este mandamento nos leva a nos
sentir unidos e a colaborar juntos na missão comum, que para nós religiosos implica
na dedicação em tempo pleno ao compromisso que nos é confiado em comunidade, a
serviço dos jovens e dos pobres, segundo o nosso carisma.
Viver assim é viver em formação permanente.
Tender a este ideal e a este estilo é a formação permanente. Estar em formação permanente
é fazer com que as nossas fragilidades se transformem em meios, em ocasiões
para dar espaço à ação de Deus, que nos perdoa e nos reintegra no seu amor. Estar
em formação permanente, então, é não nos dasanimar nas nossas fragilidades, saber
nos recuperar, depois cada período de possível crise, re-encontrar sempre as motivações
da nossa vocação, cultivar cada dia o que é necessário para ser generosos e
fiéis aos compromissos assumidos. Estar em formação permanente é, em última análese,
olhar para Cristo, ter fixo o olhar (Hb
12,2) sobre ele, que de rico … se fez
pobre por nós.
O exemplo
do seu sacrifício por nosso amor e a sua graça nos ajudam a ser animados e
fiéis cada dia, como no início, com mesma alegria, a mesma disponibilidade e o
mesmo entusiasmo de quando dissemos o nosso sim
a Deus. Melhor,
com uma dedicação ainda maior, por que purificados, reconfirmados e
consolidados por meio da experiência da vida.
Verão em
formação permanente
Se esta é a formação permanente,
não diz respeito somente aos irmãos que se encontrarão em Ponte di Legno de 10 a 29 julho. Eles viverão um
momento especial para dar um impulso ao seu caminho.
Mas também todos nós, nestes
meses de juho e agosto, podemos encontrar um estímulo para consolidar este
direcionamento da nossa vida. Para quase
todos (nas três Províncias de Itália, Brasil e Espanha) haverá ocasião
de retiros espirituais, a serem valorizados nesta direção. Para muitos, haverá
alguns dias de férias, que nao deverão ser desperdiçados, e sim vividos na
ótica da nossa identidade de vida.
Acompanharemos
com a nossa oração o diácono Pierre Michel Towada T., que, sábado dia 7, será
ordenado sacerdote em Burkina Fasso, pelo arcebispo de Ouagadougou, Dom
Philippe Ouédraogo.
Invoquemos para ele e para todos
nós, religiosos e leigos pavonianos, a sabedoria de dar cada dia solidez à
nossa vocação, fundada sobre a rocha
(Mt 7,24), que é Cristo. Nele vos desejo todo bem.
pe.
Lorenzo Agosti
Tradate, 1º de julho de 2012, XIII domingo do tempo
litúrgico ordinário