1. Pontos de Partida
a) Antes de mais nada precisamos reconhecer que na Vida Religiosa Consagrada (VRC), ser padre é uma consequência de tal escolha. Qual é o porquê disso, podemos nos perguntar. Porque um dos principais fundamentos da VRC é a convivência dos consagrados em comunidade e para nós, pavonianos, é a “vivência do Espírito de Família”. Portanto, ser padre não deve ser o fim para um religioso ou candidato à VRC, mas meio, pois antes da Ordenação vem a Consagração e com ela o compromisso fraterno, dentre outros. Ser padre, neste sentido, é assumir na sua vida uma tarefa a mais, isto é, o apostolado que o ministério implica. Então, primeiro a vocação à VRC, depois, para alguns, a vocação ao ministério ordenado.
b) A decisão de ser padre ou irmão parte de uma escolha, uma resposta a um chamado (vocação) que o próprio Deus, por meio de várias situações e motivos, “chama a cada um pelo nome” e confia uma missão específica. Ser padre ou irmão deve ser uma questão de vocação, de convicção profunda, e não uma busca por status social que, como bem sabemos, diante da ótica clericalista, muitas pessoas alimentam.
2. O caráter da unidade sob dois aspectos
a) Profissão Religiosa: Com ela expressamos, através dos três votos (Pobreza Castidade e Obediência), a maneira de ser discípulos missionários de Cristo neste mundo. E assim, padres e irmãos, tornam-se iguais em direitos e deveres (exceto os que são próprios da ordem sagrada) nesta Instituição religiosa, de acordo com o número 193 da Regra de Vida (RV).[1]
Vida de Comunhão: O amor fraterno, a comum participação ao ideal evangélico e a graça da vocação pavoniana caracterizam e dão unidade a cada província e a toda a Congregação, mas o viver juntos e partilhar tudo com o irmão, (às vezes) só se realiza plenamente na comunidade local. Nela nos encontramos, não atraídos por afinidade natural, mas reunidos em nome de Jesus que se torna presente no meio de nós. Colocamos tudo em comum: ideal, capacidade, dons espirituais e bens materiais, em Espírito de Família, como reflexo da mútua inefável doação existente entre as pessoas divinas, que se realiza de modo exemplar na família de Nazaré.
b) Missão: Assim como Jesus, todos os cristãos são chamados por Deus (alguns batizados, outros consagrados como “padres, irmãos ou irmãs” e outros ainda casados) para levarem, de acordo com a sua vocação, a Boa Nova à toda criatura até os confins do universo com palavras e obras a fim de manifestar o Reino do Pai. Ludovico Pavoni, apenas tornado sacerdote, desenvolveu primeiro, entre os filhos dos pobres a sua atividade de catequese, no sentido de uma educação cristã global; depois, vendo que muitos deles estavam praticamente encaminhados para um futuro de misérias e de marginalização, compreendeu que o Senhor o chamava para uma tarefa específica de consagrar-se à fundação de um Instituto onde pelo menos os mais abandonados e os transcurados pelos próprios pais, encontrassem acolhimento gratuito[2] e crescessem com segurança, educados também em honradas profissões (RV 181). Portanto, a missão dos Pavonianos tem por finalidade a Evangelização através dos meios atuais, favorecendo uma educação integral: cristã, profissional e cívica.
3. A Família Religiosa é composta por duas ordens
A expressão ‘duas ordens de irmãos’ parece-nos corresponder à imagem da qual nos escreve São Paulo aos Romanos (12, 4-5): “Como em um só corpo temos muitos membros e estes membros não têm todos a mesma função, assim também nós ... somos um só corpo em Cristo”. Pois é em meio à diversidade que encontramos a unidade.
a) O religioso Sacerdote: assegura a contribuição própria e insubstituível do seu ministério ao trabalho apostólico e à vida da comunidade (RV 195). Leva a sua sensibilidade pastoral ao tecido da vida quotidiana; com verdadeiro estilo pavoniano e com necessária competência, participa das diversas atividades da Congregação (RV 415).
b) O religioso Irmão: por sua específica vocação, insere-se na missão pavoniana, vivendo a sua consagração religiosa laical (RV 196). Está diretamente inserido no campo educativo, escolar e assistencial, na formação profissional da juventude, nas atividades editoriais e nos serviços de ordem técnica e administrativa (RV 416).
Portanto, ambos devem providenciar para que não faltem recursos (humanos, finaceiros, estruturais, etc...) para o êxito da missão.
O que une Sacerdotes e Irmãos é a missão comum: viver por Cristo, com Cristo e em Cristo a doação da própria vida em favor das crianças, dos jovens, bem como dos surdos. Sacerdotes e Irmãos, como educadores da fé, no serviço comum da caridade, estão lado a lado e colaboram integrando a sua contribuição específica no único fim [...] se ajudam mutuamente com zelo, confiança e paciência, para viverem em paz, estreitamente unidos em um só espírito no coração de Jesus Cristo (RV 197-198).
O respeito e a colaboração mútua, independentemente da escolha vocacional, devem prevalecer para que, primeiramente nós e depois os outros possam acreditar que, no amor, somos verdadeiros discípulos do Divino Mestre, Jesus Cristo.
Quero, pois, terminar essa reflexão frisando a importância dessas duas figuras dentro da nossa Congregação. A abertura à vocação dos Irmãos é uma inspiração Divina inovadora dada ao nosso fundador e por isso é Dom, é graça para a Igreja. Sem uma dessas duas figuras, a Congregação perde a sua identidade e como tal deixa de existir.
Portanto, não cabe aqui fazer um juízo de valor, sobretudo em nível de status social entre as duas vocações, mas sim, aceitar e valorizar a opção vocacional como chamado Divino de cada candidato que deseja ingressar neste Instituto Religioso.
Que o Senhor bondoso e compassivo, pela intercessão da mãe Imaculada e do beato Pe. Fundador, nos abençoe, nos guarde e nos mostre o caminho certo a seguir.
Saudações em Cristo Jesus!
Thiago Cristino, Religioso Pavoniano da Comunidade do Centro Educacional da Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (CEAL-LP), em Brasília.
Endereço: SGAN 909 Módulo “B”
(61) 3349-9944
[1] Aqui deve-se considerar que a “pertença definitiva” dá-se com a profissão solene dos conselhos evangélicos (votos perpétuos). Portanto, a igualdade entre os religiosos deveria ser mais eficaz depois desse rito, pois é a partir dele que é feita a declaração de que “tudo que é de ‘propriedade’ da Congregação é também de sua ‘propriedade’”.
[2] Deve-se ter em mente que a maioria dos Institutos – senão todos – existentes na época eram ‘particulares’, no sentido de que os internos pagavam para receber as instruções oferecidas. Pe. Pavoni aceita o desafio de receber todos aqueles que não tinham condições de pagar pelos serviços recebidos.
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