Frei Carlos Mesters
Como deve ser uma comunidade para que seja sinal da vida nova trazida por Jesus? O Novo Testamento traz vários modelos. Nos Atos dos Apóstolos Lucas propõe um modelo de quatro ou pontos ou básicos quando diz: Eles perseveravam no ensinamento dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2,42). Eis as quatro colunas:
1ª Coluna: O ensinamento dos apóstolos: o novo quadro de referências
O ensinamento dos apóstolos é a nova interpretação da vida e da Bíblia a partir da experiência da ressurreição. Os primeiros cristãos tiveram a coragem de romper com o ensinamento dos escribas, os doutores da época, e seguiam agora o testemunho dos apóstolos que eram considerados pessoas sem instrução (At 4,13). Eles consideravam a palavra dos apóstolos como palavra de Deus (1Tes 2,13). Ampliaram o conceito de Palavra de Deus!
A autoridade dos apóstolos não vinha da tradição ou da raça, nem do poder ou da força, nem de algum curso ou diploma, mas sim dos sinais realizados na comunidade (At 2,43; 4,33; 5,12.15-16), e das "ordens" dadas por Jesus ressuscitado: a Madalena, aos doze apóstolos, aos 120 discípulos, às mulheres, à multidão no Monte das Oliveiras (Mt 28,18-20; Mc 16,15; Lc 24,44-49; Jo 20,23; 21,17). No exercício desta autoridade, os apóstolos eram questionados pela comunidade (Gl 2,11-14; At 11,3) e deviam prestar conta (At 11,4-18).
2ª Coluna: A comunhão: o novo ideal da vida comunitária.
A comunhão indica a atitude de quem não se considera dono do que possui, mas tem a coragem de partilhá-lo com os outros (Rm 15,26; 2 Cor 9,13; Fm 6 e 17). Os primeiros cristãos colocavam tudo em comum a ponto de não haver mais necessitados entre eles (At 2,44-45; 4,32.34-35). Assim, cumpriam a Lei de Deus que diz: "Entre vocês não pode haver pobre!" (Dt 15,4).
O ideal da comunhão era chegar a uma partilha não só dos bens, mas também dos sentimentos e da experiência de vida, a ponto de todos se tornarem um só coração e uma só alma (At 4,32; 1,14; 2,46), a uma convivência sem segredos (Jo 15,15) que supera as barreiras provenientes de religião, classe, sexo e raça (cf Gl 3,28; Cl 3,11; 1 Cor 12,13).
3ª Coluna: A fração do pão: a nova fonte da vida comunitária.
A expressão fração do pão vem das refeições judaicas, onde o pai partilhava o pão com os filhos e com aqueles que não tinham o que comer. Para os primeiros cristãos a expressão lembrava as muitas vezes que Jesus tinha partilhado o pão com os discípulos e com os pobres (Jo 6,11). Lembrava o gesto que abriu os olhos dos discípulos para a presença viva de Jesus (Lc 24,30-35); o gesto do "amor até o fim" (Jo 13,1), a eucaristia, "a comunhão com o sangue e o corpo de Cristo" (1Cor 10,16), a Páscoa do Senhor (1Cor 11, 23-27), a memória da sua morte e ressurreição (1Cor 11,26) que garante a vida aos que se doam pelos outros.
A fração do pão era feita não na majestade do templo, mas sim nas casas (At 2,46; 20,7), o lugar da liturgia "em Espírito e Verdade" (Jo 4,23). Muitas vezes, porém, a realidade ficava abaixo do ideal. Paulo critica os abusos que ocorriam na comunidade de Corinto durante a Ceia do Senhor (1Cor 11,18-22.29-34).
4ª Coluna: As orações: o novo ambiente da vida comunitária.
Através da Oração, os cristãos permaneciam unidos entre si e a Deus (At 5,12b), e se fortaleciam na hora das perseguições (At 4,23-31). Faziam como Jesus que, pela oração, enfrentava a tentação (Mc 14,32). Quando perseguidos, eles rezavam os salmos e reliam o Antigo Testamento, provocando um novo Pentecostes (At 4,27-31). Os apóstolos tinham uma dupla tarefa: "permanecer assíduos à Oração e ao ministério da Palavra” (At 6,4). A Bíblia (a Palavra) era não só luz, mas também fonte de força.
Apesar de seguirem uma doutrina diferente da tradicional, os cristãos não rompiam com os costumes da piedade do povo, mas continuavam freqüentando o Templo (At 2,46). Eles eram conhecidos como o grupo que se reunia no pórtico de Salomão (At 5,12). Tinham a simpatia do povo (At 2,47).
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