Dever-se-ia dizer que toda a vida e a obra de Ludovico Pavoni são ritmadas ao passo da Providência; tudo é lido e interpretado à luz desta Presença; assim sugere, freqüente e claramente, o co- protagonista desta história de fé e caridade.
Nos raros documentos remanescentes, a primeira vez que se vê a pena do Pavoni esboçar “Deus bom, Deus Providente, Deus Pai...” conduz-nos a 8 de fevereiro de 1817, quando secretário do Bispo, transcreve para impressão uma homilia para a Quaresma do Mons. Nava. O Pastor procurava dar aos seus sacerdotes e fiéis uma leitura de fé para a terrível carestia de 1816 que havia ferido a população, apenas saída das contínuas guerras napoleônicas.
Quais circunstâncias familiares maturaram em Ludovico Pavoni a convicção que Deus é Providência? Não sabemos. Conhecemos ao menos como a Paróquia na qual era inserida a Família Pavoni, o de São Lourenço, onde viviam, com o venerável Pe. Gianpietro Dolfin, a extraordinária aventura da reconstrução de sua Igreja, com a “aparição” de Nossa Senhora da Providência. A “Divina Providência” é uma expressão que continuamente aparece na minuciosa crônica dos acontecimentos deste zeloso pároco. “Quem pois não vê um evidente milagre da Providência nessa grande obra. Muito mais se acrescenta outras circunstâncias ocorridas, e especialmente as contradições tidas no princípio desta construção. Um grão de fé pequenino, que Deus esconde dentro da terra do meu coração, regado das suas ajudas, produziu uma grande planta. E uma vez que esta obra na ordem das graças gratuitamente dadas, que pertencem a honra de Deus e o bem da sua Igreja espiritual, assim o Senhor com um duplo milagre concedeu e conservou tal fé em um sacerdote, entre todos o mais pecador e o mais indigno, a fim de que melhor se veja que Ele e não o homem foi o operador do milagre”.
Um grão de fé é suficiente! Daquele grão de fé Ludovico Pavoni alimentou-se desde adolescente na Igreja de São Lourenço, onde “amava entreter-se em frente à imagem de N. Sra. da Providência”.
A convicção de que Deus intervém preventivamente e misteriosamente nos acontecimentos, acompanham a liberdade humana e coloca, no final, o seu inconfundível sigilo, ressurge freqüente no coração dos homens, sobretudo daqueles marcados pelo sofrimento.
É a fé cristã, que seu pai Alessandro deixou como herança aos seus dois filhos homens, juntamente com a caridade aos pobres, que funda nele a convicção que existe a Providência, a Providência Divina.
No dom da fé, na mensagem da Bíblia, mesmo se não existe o termo específico “Divina Providência”, permanece de qualquer maneira esta verdade: Deus cuida de suas criaturas. Uma verdade tal aprendida por Israel no caminhar de sua história: a história de Abraão e de Israel é a história do “Deus- Providente”.
A revelação bíblica afirma que Deus dá o dom da fé para fazer discernir os traços da sua intervenção nos acontecimentos da humanidade e de cada homem em particular.
Poder-se-ia dizer que a fé e a intervenção divina formam um círculo virtuoso para o qual a primeira dá os olhos para ver a segunda e esta, por sua vez, conforta, reforça e torna de vez plausível o risco da primeira.
Os santos, os humildes, sabem que Deus na história humana não deixa de semear os sinais suplicantes de sua providência; ele prova os seus servos escondendo-se nas dificuldades e confortando-os abundantemente na consolação.
O nosso Beato Fundador faz parte do consistente grupo de homens e mulheres de fé e caridade que na Igreja italiana de 1800 viveram a experiência de Deus como Providência; e esta forte convicção deixou uma herança àqueles que viveram com eles de perto, e que retransmitiram a nós, embasado sobre o testemunho destes primeiros aos quais se juntaram o seu próprio.
A segunda vez que aparece o termo “Providência” nos “escritos” do Pavoni, ou a ele atribuídos ou nele inspirados, está no Prefácio ao Regulamento do Oratório, em 1818: “A Providência reserva aos nossos netos a sorte de gostar os copiosos frutos que uma vigorosa árvore promete”.
Mas desde então, deste 1818, nos seus escritos, é um contínuo crescente de referências a este protagonista: a Providência.
Permanece gravada na lembrança de tantos e talvez de toda uma cidade e além dela, esta sua indestrutível fidelidade à Providência. Isto nos demonstram as declarações dos testemunhos no processo de Beatificação, com suas anedotas, quase como os “Fioretti Pavonianos”.
Em fim, se apresentam dois textos oficiais, nos quais estão expressos a sua espiritualidade e o seu carisma fundante: O regulamento do Instituto de 1831 e as Constituições de 1847.
No primeiro escrito depois de haver passado o deserto da incompreensão e do perigo de total falimento “devido às limitadas finanças sobre as quais talvez precariamente se apresenta à humana prudência este dispendioso Instituto”, ele recomenda, porém, aos seus filhos a abandonar tais pensamentos que seriam uma ofensa à Divina Providencia, à qual devem repousar somente com segurança as nossas esperanças.
Nas segundas ele inicia solenemente com “A divina Providência que vela sobre necessidades da pobre humanidade...” proclamando a Fonte inexaurível desta história de caridade, fonte que será citada outras cinco vezes.
Concluímos ainda com o testemunho em primeira mão, de pe. Baldini: O Pavoni “tinha pois também aquele modo de entrever as coisas muito antes, cuidando no final mais dos meios, pois o santo homem confiava sempre na Divina Providência certo de que sua obra agradava sumamente ao Senhor, e que o Senhor havia de ajudar. Este seu modo de entrever vem descrita na história de todos os Fundadores de Institutos de caridade, máxima nos santos, que não foram jamais mesquinhos ou mesquinhos, mas tão generosos e esplendidos quanto cheios da fidelidade a Deus. E a fidelidade do Pavoni era própria de um Santo.”
Escrito por:
Pe. Roberto Cantù, comuniade de Tradate, Itália
Adaptação e Tradução:
Ir. José Roberto de O. Filho, comunidade de Brasília