segunda-feira, 22 de março de 2010

Iniciação à Vida Cristã: um processo de inspiração catecumenal



 Capítulo II - O que temos em vista quando falamos em Iniciação à Vida Cristã. Brasília: Edições CNBB. 2009.

Por Irmão Thiago Cristino, FMI

2.1. Jesus Cristo, mistério de Deus
35. Diante da sede do homem pelo mistério e busca de Deus, Jesus Cristo é a resposta. Ele é ‘caminho, verdade e vida’ (Jo 14,6) para o qual tende toda a nossa vida.
36. Com Jesus se faz presente o Reino de Deus, que só é compreendido ao nos aprofundar na realidade do Jesus histórico e em sua prática. Ao revelar o seu grande amor por nós e o projeto salvífico do Pai, Jesus dá à sua Igreja a base para o seu ministério e a faz lugar de participação na vida nova que Ele nos veio trazer.

2.2. O mistério está no centro da fé
37. O Reino de Deus é mistério. Comprometer-se com este mistério e participar dele exige de nós uma conversão e nos dá o nome de cristão. O conceito de mistério aparece pouco no Primeiro Testamento (presente nas religiões pagãs), mas é muito difundido por São Paulo (é a presença do Reino de Deus presente com Jesus).
38. Mergulhar no mistério de Deus e da vida significa ouvir a voz da Palavra (Revelação oral), ver o rosto da Palavra (Jesus Cristo), entrar na casa da Palavra (Igreja) e percorrer os caminhos da Palavra ( Missão).
39. O termo mystérion é fundamental no Segundo Testamento Foi usado para manifestar o desígnio divino de salvação, na pessoa de Jesus Cristo na sua paixão, morte e ressurreição.

2.3. Iniciação: mergulho pessoal no mistério
40. O mistério carrega algo de espantoso, divino, algo inacessível a um simples mortal. Todavia a tal mistério não se tem acesso através da teoria, mas através da iniciação da pessoa nas experiências que a marcam profundamente e a levam ao encontro do mistério, Jesus.
41. A Iniciação Cristã vai além de uma realidade humana e arraigada nas culturas. Ele é algo mais profundo: para participar do mistério de Cristo Jesus é preciso passar por uma experiência impactante de transformação pessoal e deixar-se envolver pela ação do Espírito.  No tempo dos discípulos de Jesus o processo de transmissão da fé tornou-se iniciático em sua metodologia. Portanto, a conversão ou metanoia (mudança de mentalidade) supõe certa maturidade humana.
42. Existe, porém uma tensão entre o aspecto de segredo dentro do mistério. Por segredo entendemos algo que deve ficar em sigilo, velado. Todavia, a missão da Igreja visa proclamar e fazer experimentar o mistério, não escondê-lo. Mas também não se pode banalizar o sagrado como se estivéssemos transmitindo algo que não tivesse conseqüências, isto é, uma mudança de comportamento, por exemplo. O querigma (primeiro anúncio) é para todos, mas os mistérios, isto é, (sacramentos) são para aqueles que foram iniciados na fé. 

2.4. Catecumenato: um caminho antigo e eficiente
43. Desde o início da história do Cristianismo, o catecúmeno/catequizando é “aquele que deve ser iniciado na fé (da Igreja)”.
44. Iniciação Cristã refere-se às etapas consideradas indispensáveis para mergulhar no Mistério Pascal de Cristo (mistagogia: conduz ao mistério) e começar a fazer parte efetiva da comunidade eclesial; é um processo profundo que integra a pessoa a um outro estilo de vida. Tal mistério era primeiramente experimentado para depois ser explicado. Neste sentido o rito marca mais profundamente do que uma simples instrução e interioriza o que foi celebrado realçando a dimensão do compromisso.

2.5. A iniciação como dado antropológico
45.  Urge resgatar a necessidade antropológica dos processos iniciáticos, haja vista que ao longo dos séculos a perdemos de vista o seu real sentido e importância, enquanto discernimento para uma escolha que possa orientar a nossa vida.
46. A despeito etimológico da palavra INICIAÇÃO, temos: initio (início), in-inter (itinerário, percurso, caminho). Assim, consideramos que INICIAÇÃO tem o objetivo de ‘colocar no caminho’, haja vista que o ‘caminho se faz caminhando’. Ou: in-ire (ir bem para dentro, no sentido de aprofundar-se). A INICIAÇÃO é o processo (educativo) de natureza ritual (pois existem ‘pré-requisitos’ ou passos a serem dados durante as várias etapas que compõem o caminho) que efetiva e marca a promoção do indivíduo a novas posições sociais ou acesso a outras determinadas funções religiosas e políticas. Em outras palavras, é um tempo de aproximação e imersão em um novo jeito de ser; sinaliza uma mudança de vida, de comportamento, com a inserção num novo grupo.
47. Os ritos de passagem estão mais presentes na vida das pessoas quando se trata dos vários processos de iniciação: casamento, vestibular-faculdade, aniversário de 15 anos, morte, etc... A necessidade de ritualizar as novas etapas da vida é fato, inclusive para aqueles que não têm religião. O fato simplesmente de ‘oficializar’ – com um rito diluído em formas mais modernas ‘sui generis’ – uma nova etapa da vida, já se classifica na nossa afirmação.
48. A iniciação do ponto de vista filosófico equivale a uma mutação ontológica existencial, pois afeta diretamente na natureza (essência) do homem. Ao final do período de provas (formação) o neófito (novato/neoprofesso) goza de uma existência totalmente diferente, transforma-se noutra pessoa.

2.6. Revalorizar hoje esse caminho
49. É mister aprofundar o conceito de uma nova iniciação que forme cristãos que estejam realmente interessados em assumir o projeto do Reino.
50. Identificar formas de catequese que estejam verdadeiramente a serviço da iniciação cristã.

2.7. A importância e o lugar dos sacramentos
52. O sacramento é a tradução latina para a palavra grega mystérion. Tal palavra na Bíblia e no cristianismo nascente tinha um sentido bem mais amplo: ações salvadoras de Deus. O mistério entendido hoje é uma ação sagrada na qual o ato salvífico se faz presente no rito. Assim tudo o que a Igreja realiza é mistério.
53. É nos sacramentos, que a liturgia torna presente para cada crente a obra de salvação realizada de uma vez por todas em Jesus Cristo. 
54. Os sinais e símbolos[1] são importantes na concepção de mistério porque ao mesmo tempo em que revela, escondem a realidade divina que querem comunicar. Por isso é que o coroamento do processo iniciático tem seu coroamento na catequese mistagógica.

2.8. Mas identificamos um problema nesse processo
55. Com a catequese sacramentalista os sacramentos viraram uma espécie de costume, de devoção, de despedida da Igreja em detrimento do compromisso de fé que eles sinalizam e exigem. É fato que o processo catequético desemboca na celebração dos sacramentos.
56. Nosso desafio é abandonar a visão meramente sacramentalista – o que a empobrece – e despertar para uma consciência missionária em que a fé assumida seja refletida no compromisso eclesial com o Reino de Deus e sua justiça e auto-sustentado pelos sacramentos, fonte que revigora a alma e lança para frente.  
57. A catequese deve levar ao sacramento, mas que não seja um ponto de chegada, senão um prosseguimento no caminho.

2.9. Uma iniciação que leve a uma real participação
58. Nossa cultura atual há uma grande demanda de transcendência, de uma certa religiosidade difusa, que busca um contato meio às cegas com o sagrado. Ao considera este fato afirmamos que a iniciação cristã tem um caminho oposto a este tipo de ‘mercado religioso’.
59. A restauração do catecumenato[2] quer retomar a dimensão mística, celebrativa da catequese, haja vista que o mais importante é levar as pessoas a uma autêntica experiência cristã na integridade das suas dimensões.
60.  Cristãos de qualidade e não em quantidade é o que devemos ter em mente. Num processo que conclama ao compromisso com o Reino o que conseqüentemente nos conduz à conversão ‘rasgar o coração e não as vestes’[3] e a assumir o mistério pascal de Cristo: morrer para o pecado, ressurgir para uma vida nova, com a finalidade de amadurecer a fé.
61. A função maior da catequese (catecumenato) no início do cristianismo era a de inserir a pessoa na Vida de Cristo: “nos grandes mistérios revelados por Cristo, sentindo o amor do Pai e transmitindo, com a ajuda do Espírito Santo, o amor serviçal aos irmãos como o fez Jesus. Assim, o iniciante vai experimentar a fé nos gestos salvíficos, nas palavras de Cristo, vividos e comunicados pela Igreja através do testemunho, da Palavra, dos Sacramentos na espera da Vida Plena em Deus (escatologia)”.

2.10. Natureza da iniciação cristã
62. Sua natureza é essencialmente divina pois é Revelada pelo Pai, no Filho, pelo Espírito, diferentemente dos ritos mistéricos pagãos. Pois a auto-comunicação de Deus nos convida a participarmos de sua natureza divina (DV 2). Caminhar para Deus é o nosso fim último. Três são as características da iniciação cristã:
63. a) Dimensão da Graça – benevolente e transformadora: em Cristo, somos cumulados de dons divinos. Com os sacramentos iniciáticos recebemos a graça santificante: Filhos do Pai, alimentados pelo Corpo de Cristo e ungidos pelo Espírito Santo.  
64. b) Dimensão eclesial – na e pela Igreja: a Igreja, corpo de Cristo, é a guardiã da Revelação (DV 10). Ela acolhe e orienta todos quantos desejam fazer este caminho de fé, coloca os fundamentos da fé e incorpora a Cristo os que estão sendo iniciados pelos sacramentos da iniciação. Portanto, as pessoas são iniciadas no mistério de Cristo e na vida da Igreja, não na devoção particular de qualquer pessoa ou grupo. Cada palavra e gesto deve ser feito em nome da Igreja.
65. Dimensão da Liberdade – decisão livre da pessoa: pela obediência da fé a pessoa entrega-se inteira e livremente a Deus (DV 5). O fracasso ou falta de perseverança no caminho deve-se, às vezes, à falta deste envolvimento total.
66. Dimensão Nucleica: Iniciação cristã é participação humana no diálogo da salvação, uma vida nova na natureza divina. Somos chamados a ter uma relação filial com Deus.

2.11. Uma visão de conjunto da vida cristã
67. A iniciação cristã, de modo amplo, está pautada a partir do conjunto da missão da Igreja e implica assumi-la como um processo longo e vital nos aspectos do mistério divino Revelado. Não se trata de aprender tudo, mas de ter um todo elementar.
68. Diga de passagem que todo esse processo deve nos remeter a um equilíbrio, isto é, a uma maturidade em Cristo.


[1] CEC 1149: “A Liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura humana conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Jesus Cristo”.
[2] Christus Dominus, n.14; Sacrossanctum Concilium, nn. 64-68; Ad Gentes, n.14.
[3] Cf. Joel 2,13

quarta-feira, 17 de março de 2010

Páscoa 2010 - Pe. Graziano Stablum



 Pe. Graziano Stablum - Centro -, Mestre de Noviços Pavonianos do Brasil, entre uma parcela dos seus amados filhos/as e  autoridades políticas local e do Centro Medianeira, instituição da qual era Diretor, 
para o lançamento da pedra fundamental do Centro Esportivo Cultural Medianeira. Faleceu hoje, dia 18 de março de 2010, às 08h em São Leopoldo, local onde será sepultado.

Acompanhe-mo-lo no seu encontro com o PAI, nas núpcias do Cordeiro!
Interceda a Deus por nós, grande irmão! 

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 Desejaria falar hoje do meu irmão Graciano.

70 anos de vida, 37 de Brasil, agora com câncer no pâncreas.
Fizemos um pedaço de estrada juntos.

Na época não estava asfaltada.

Está celebrando nestes dias a sua Páscoa.

Páscoa não como momento, mas como passagem,

como dom, separação, Páscoa como encontro.

Quando jovens partilhamos muito:  tempo,  saber,  sonhos.

Outro dia partilhei com ele a Ceia Eucarística.

Jesus no nosso meio, dom oferecido, acolhido, consumido.

Chorei. Sempre desejei fazer esta ceia convosco.

A sua vida para mim, para seus irmãos, doada.

Ele não me pertence,

mas a sua vida, seu sangue, seu suor, seu amor, sim.

Tornou-se alimento para muitos.

17 anos entre os surdos no CEAL em Brasília,

20 anos com os meninos de São Leopoldo.

Páscoa que não explode na manhã da Ressurreição,

mas que é algo preparado, esperado, sofrido.

Páscoa acolhida

na escolha do caminhar com Ele até Jerusalém.

Nem tudo foi tão linear, houve tropeços, paradas,

mas sempre existiu a vontade

de responder à proposta do Pai

desde o primeiro sim.

É o que ensinou a tantos de nós

que se formaram ao seu lado.

Páscoa, na qual agora me sinto sozinho

e grito também: Porque me abandonaste?

Páscoa do reencontro, dos discípulos de Emaús.

Páscoa, onde no momento da exaltação, da Cruz,

eu  gostaria tanto  ser mãe e filho para continuar o seu projeto.

Estarei sempre convosco.

Vou reencontrá-lo todos os dias. Fazei isto em memória de mim.

Está entrando na Terra Prometida.

O alimento do deserto vai esvaecer.

Participará do Banquete com o Pai,

com os tantos que chegaram antes dele.

Estou certo que me esperará.

Quando aí chegar vai me preparar o lugar.

Assim tudo explodirá na alegria e no amor,

será  a Páscoa definitiva.

Obrigado, pe. Graciano!

Obrigado em nome de todos que te conheceram e te amaram.

Sempre foi amigo legal!

Te agradeço hoje, porque ainda estás conosco.

A morte nunca será a última palavra.

O nosso Deus é o Deus da Vida!

Feliz Páscoa, irmãos, também em nome dele!


Pe. Gabriel Crisciotti, FMI
Superior Provincial

quarta-feira, 10 de março de 2010

Espiritualidade na Economia: condições para uma articulação teológico-espiritual com a economia

Pe. Fábio C. Junges[1]


A Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano aborda um tema fundamental e desafiador. Exige, por isso, uma abordagem cautelosa e audaciosa, por mais paradoxal que esta afirmação seja. Isto porque já não são poucos os artigos publicados em sites e jornais que condenam esta reflexão realizada pelas Igrejas. Muitas dessas reflexões são destituídas de fundamentação teológico-pastoral, além da falta de um conhecimento profundo do Texto-Base orientador desta temática reflexiva. Outras apresentam com justeza dificuldades e problemas nas abordagens realizadas pelas Igrejas.

A fim de que as nossas reflexões sobre o tema da Campanha da Fraternidade não sejam destituídas de fundamentação, alguns pressupostos de base necessitam ser colocados. Para que esta reflexão teórica não se apresente tão facilmente com significantes flutuantes, desprovidos de coalescência conceitual, esta reflexão procura correlacionar economia e espiritualidade. Este texto, resultante de uma palestra proferida na Assembléia Diocesana de Pastoral, tem como objetivo mostrar em que perspectiva o discurso teológico sobre o tema da economia é possível e viável.

Espiritualidade na Economia?

Pois bem, qual é o assunto central da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano? Seria a economia, o capitalismo, o neoliberalismo, o desemprego, a pobreza, a economia solidária? A resposta é sim e não. Todos estes temas entram na reflexão, mas o tema central, enquanto teológico-espiritual, é a relação entre “economia e vida”, vista na perspectiva da fé cristã. Há se destacar que, enquanto Igrejas, a reflexão sobre economia e vida precisa ser colocada na perspectiva da fé cristã e não a partir de outras determinações externas. Se a reflexão for feita desse modo, então as Igrejas se encontram no seu direito discursivo, pois, como veremos, a questão econômica é uma questão de espiritualidade, desde que bem articulada.

A materialidade da vida

Podem ser apresentadas duas dimensões dessa relação fundamental entre economia e vida: a materialidade da vida e o aspecto teológico-espiritual da economia. Defendemos a tese de que a temática abordada nesta Campanha da Fraternidade ajuda as comunidades a tomarem mais consciência da materialidade da vida e da íntima relação entre essa dimensão e a salvação. Iremos elucidar, agora, esta primeira dimensão: a materialidade da vida. Querendo ou não, enquanto cristãos, temos uma tendência histórica de espiritualizar por demais a noção de vida. As Igrejas mantêm uma parcela de culpa nesta tendência, uma vez que enfatizaram em demasia a “salvação da alma” e a “vida eterna”, em detrimento dos valores e recursos econômicos.

Quando espiritualizamos demais a vida, a própria evangelização ou pregação da Palavra de Deus acaba restrita somente à dimensão transcendental, sem relação com os aspectos materiais e econômicos da vida humana. Do mesmo modo, quando tudo espiritualizado, a ação ou preocupação pastoral-social em favor das pessoas pobres ou em necessidade passa a ser um complemento secundário da missão. Por outro lado, quando tudo espiritualizado, faz com que cristãos atuantes no campo econômico-social-político tenham dificuldades em falar sobre evangelização, salvação ou missão. É a tendência muito forte de valorizar somente o trabalho social em detrimento da espiritualidade.

Muitas das críticas já elaboradas sobre a Campanha da Fraternidade deste ano são decorrentes desta errônea e parcial compreensão de espiritualidade. Por isso, vale destacar mais uma vez que a evangelização está a serviço da vida (Jo 10,10). A vida humana depende do trabalho, da natureza e do funcionamento da economia. Portanto, se perdermos de vista a dimensão material-econômica da vida, perdemos de vista o ser humano real e concreto e, assim, perdemos o núcleo da missão cristã. O desejo e promoção da vida plena e abundante para todos é a missão do cristianismo e das Igrejas.

O aspecto teológico-espiritual da economia

À primeira vista, falar em aspecto teológico-espiritual da economia soa estranho para a maioria dos cristãos. É quase consenso de que a economia trata das questões materiais, enquanto que a teologia e a espiritualidade das questões imateriais. Contudo, a afirmação de Jesus, “ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6,24), revela uma profunda relação entre economia e teologia ou espiritualidade. Para que esta relação seja de fato percebida, é preciso elevar a questão econômica ao coração da teologia e da evangelização.

Jesus coloca uma disjuntiva: “Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Jesus mostra que dinheiro pode ser e foi colocado no mesmo nível de Deus. Quando a questão econômica passa a ocupar o lugar de Deus, o nosso único Absoluto, então o dinheiro se torna um problema teológico e espiritual: uma questão de discernimento entre o Deus verdadeiro (da vida) e o deus falso ou ídolo (dinheiro). Isto é, da submissão a um “deus falso” ou ídolo que exige sacrifícios de vidas humanas resulta o problema e o tema teológico, bem como, da evangelização e da espiritualidade desta Campanha da Fraternidade: economia e vida.

Os teólogos Assmann e Hinkelammert trabalharam teologicamente esta problemática de modo paradigmático. Eles criticam não o mercado enquanto tal, mas o mercado quando se torna absoluto, isto é, enquanto critério máximo (absoluto) para decisões sobre a vida e a morte na sociedade (idolatria). A idolatria é decorrente, em boa medida, do deslocamento da fonte de espiritualidade na nossa sociedade atual: da religião para a economia (mercado). É o “espírito do capitalismo” conforme bem definiu o sociólogo Max Weber. Ou seja, conforme o sociólogo Marx, a mercadoria, em meio às relações sociais, torna-se “cheia de sutileza metafísica e manhas teológicas”. Seguem abaixo alguns exemplos de espiritualidade na economia.

Antes, as pessoas trabalhavam e lidavam com as questões econômicas em função da satisfação das necessidades de viver (a dimensão material da vida). Agora, ganhar dinheiro, consumir e ostentar o consumo passou a ser o sentido último da vida. No passado, não tão distante, quando as pessoas se sentiam “impuras” iam às Igrejas ou a outros lugares sagrados para rezar ou participar de algum rito de purificação. Hoje em dia, muitas pessoas preferem ir a um Shopping Center fazer compras ou ver vitrines para se purificarem. Essas experiências econômico-espirituais são tão marcantes nos dias de hoje que, mesmo nas Igrejas, têm uma presença muito forte: o orgulho por causa de um padre ou pastor da sua Igreja vender muitos CDs ou fazer muitos shows; padres e pastores de sucesso espiritual-econômico estão se tornando modelos para novos candidatos ao sacerdócio ou pastorado.

Dois níveis de discussão da economia

É preciso demarcar com precisão a tarefa e a não tarefa das Igrejas e da Teologia quanto à questão econômica. A não tarefa teológica se situa no campo técnico-operacional da economia. A discussão sobre a melhor forma de combater a inflação, de aumentar o nível de emprego ou melhorar a distribuição de renda não é do campo da teologia, mas sim das ciências sociais e econômicas.

A tarefa teológica consiste na crítica à idolatria que ocorre na economia e esta tarefa pertence ao coração da tradição bíblica. Como fazer? Fazendo uso de mediações como sempre insistiu a Teologia da Libertação. Com a ajuda da análise das ciências econômicas é preciso desvelar os fundamentos teológicos da economia, isto é, desmascarar as idolatrias que justificam mortes em nome de falsos deuses (1º e 2º mandamentos), salvando a vida contra as forças da morte (5º mandamento), das mentiras (8º mandamento) e dos roubos (7º mandamento).

Afirmação contundente

“O lugar das Igrejas é onde Deus está atuando, Cristo está sofrendo e o Espírito está cuidando da vida e resistindo aos principados e poderes destrutivos. As Igrejas que se mantiverem distante desse lugar concreto do Deus Triuno não podem afirmar que são Igrejas fiéis” (Texto-Base, p. 45). Desta afirmação contundente resultam algumas ponderações, a saber: as Igrejas, ao propor a Campanha da Fraternidade Ecumênica sobre a questão econômica relacionada com a vida, precisam se auto-afirmar: “nós não podemos servir a Deus e ao dinheiro”. Em forma de perguntas: nossas Igrejas servem a Deus com o dinheiro? Ou se servem de Deus para ter dinheiro?

Uma oração profética

Nada melhor que terminarmos nossa reflexão com a oração profética do Pai-Nosso:

Pai nosso, que estás no céu (não Pai meu)

Santificado seja o teu nome (não o meu nome)

Venha a nós o teu reino (não o meu reino)

Seja feita a tua vontade (não a minha vontade)

Assim na terra como no céu (não no céu como na terra)

O pão nosso de cada dia (não o pão meu)

Perdoa-nos as nossas dívidas (não somente ofensas)

E não nos deixes cair em tentação (não somente sexual, mas principalmente econômica e social: amor ao dinheiro; redução do ser humano à condição de consumidor; ato de dignificar a pessoa por conta de sua capacidade de consumo).

Mas livrai-nos do mal, pois teu é o Reino, o Poder e a Glória para sempre (não é nosso o reino, nem o poder, nem a glória do momento).

Considerações finais

Sabemos que a rotina nos anestesia e, na repetição, cria a ilusão (idolatria, 1º e 2º mandamentos) de estável normalidade. Podemos estar diante do precipício (economia atual), mas acostumados a vê-lo a cada minuto, não temos ideia da queda que nos espera se dermos um passo à frente (morte, 5º mandamento). Nada é mais perigoso do que os hábitos (roubos, acúmulos, mentiras, 7º, 8º e 10º mandamentos) que se apoderam de nós como oculto invasor noturno (“não nos deixes cair em tentação”, como reza o Pai Nosso), que não percebemos nem notamos quando nos assalta e nos domina (idolatria). Portanto, nada mais benéfico que sejamos puxados pelo braço e que nos mostrem o abismo, isto é, a idolatria (1º e 2º mandamentos) que mata (5º mandamento) como pretende fazer a Campanha da Fraternidade deste ano, ao chamar a atenção para as nossas relações econômicas.


[1] Padre da Diocese de Santo Ângelo, mestrando em Teologia Sistemática pelas Faculdades EST, de São Leopoldo.

Oração Vocacional Pavoniana

Oração Vocacional Pavoniana
Divino Mestre Jesus, ao anunciar o Reino do Pai escolheste discípulos e missionários dispostos a seguir-te em tudo; quiseste que ficassem contigo numa prolongada vivência do “espírito de família” a fim de prepará-los para serem tuas testemunhas e enviá-los a proclamar o Evangelho. Continua a falar ao coração de muitos e concede a quantos aceitaram teu chamado que, animados pelo teu Espírito, respondam com alegria e ofereçam sem reservas a própria vida em favor das crianças, dos surdos e dos jovens mais necessitados, a exemplo do beato Pe. Pavoni. Isto te pedimos confiantes pela intercessão de Maria Imaculada, Mãe e Rainha da nossa Congregação. Amém!

SERVIÇO DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL - FMI - "Vem e Segue-Me" é Jesus que chama!

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Sou fundador da Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada, conhecida popularmente como RELIGIOSOS PAVONIANOS. Nasci na Itália no dia 11 de setembro de 1784 numa cidade chamada Bréscia. Senti o chamado de Deus para ir ao encontro das crianças e jovens que, por ocasião da guerra, ficaram órfãos, espalhados pelas ruas com fome, frio e sem ter o que fazer... e o pior, sem nenhuma perspectiva de futuro. Então decidi ajudá-los. Chamei-os para o meu Oratório (um lugar onde nos reuníamos para rezar e brincar) e depois ensinei-os a arte da marcenaria, serralheria, tipografia (fabricar livros), escultura, pintura... e muitas outras coisas. Graças a Deus tudo se encaminhou bem, pois Ele caminhava comigo, conforme prometera. Depois chamei colaboradores para dar continuidade àquilo que havia iniciado. Bem, como você pode perceber a minha história é bem longa... Se você também quer me ajudar entre em contato. Os meus amigos PAVONIANOS estarão de portas abertas para recebê-lo em nossa FAMÍLIA.