A vida
espiritual como caminho
Por Ir. Thiago Cristino
Os mitos mais antigos, religiões e
filosofias nos falam do caminho. Aludimos a essa ideia quando considerarmos que
a vida não é um dado pronto, mas algo que deve ser feito e conduzido, cujo modo
de viver revela morte ou vida.
O caminho aparece como um percurso entre
dois pontos distintos e distantes. Caminho é sempre de alguma coisa para outra
coisa. Na literatura cristã, Cristo é o Mestre dos mestres porque seus caminhos
de vida realizaram por excelência o sentido de todo o caminho, i. é, Cristo
alcançou a perfeita identidade entre projeto e realidade, aquilo que devemos
ser e aquilo que somos. Por isso é modelo de caminheiro a ser seguindo.
Mais importante que per-correr um
caminho é fazer caminho. Não se caminha isolado, mas sempre nos encontramos
dentro de um caminho andado: família, tradição dos pais, os valores
estabelecidos, o ethos do grupo. O caminho
de Jesus é o caminho do Cristão, ainda que, não seja o mesmo, haja vista que as
vivências são diferentes, por isso nunca haverá um simples uso de caminho feito
por outros. Mas a experiência de Cristo é fonte de entusiasmo e motivação para
superar as dificuldades e seguir sempre em frente, em busca da Vida Verdadeira.
Caminhar significa auscultar e seguir os
apelos que emergem do coração da própria vida: apelos que conclamam para o eu e
apelos que chamam para o outro. Caminhos propostos por grandes mestres são
sempre evocadores da dimensão da alteridade, do êxodo, da aventura do encontro
com o diferente do eu. Por isso não nos impedem de fazermos nosso caminho, mas con-vocam,
pro-vocam, e-vocam. Por mais áspero que se apresenta o caminho, este nos conduzirá
à felicidade (“porta estreita” – cf. Mt 7, 13-14).
Os caminhos
do homem espiritual
O homem (varão e mulher) visto do ponto
de vista teológico, considera-o para além do substrato biológico, de sua
estrutura espiritual e de sua historicidade; parte do seu caráter ontológico: de sua natureza originária
(céu) e escatológico do desígnio do
Eterno. Ou seja, quem é o homem na perspectiva de Deus? Mediante duas
principais fontes: Revelação de Deus nas Escrituras (Tradição) e a Revelação de
Deus pela criação e história, se procede a leitura acerca da condição (de
existir) do homem: carne e espírito.
Para
as escrituras viver na carne,
significa o homem (fraco, limitado, dependente), criatura, porque não é Criador, dimensionado para o mundo mortal.
Não se trata de uma parte do homem, mas ele todo inteiro submetido à
vulnerabilidade face às intimidações vindas da realidade e, por fim, a própria
morte. Todavia, este mesmo homem, não se perde no mundo. Auspicia um desejo
infinito dentro dele. Ele pode se identificar com Deus e estabelecer aliança
com Ele. A partir de Deus, que é absoluto, relativiza os poderes históricos e
religiosos, políticos, que se pretendem colocar-se no lugar de Deus.
Esta experiência, que é universal e que
perpassa as Escrituras, é chamada de viver
no espírito. Significa o homem todo inteiro que está voltado para sua
origem (céu) e é capaz da comunicação que rompe as barreiras do eu. O homem é
espírito, porque é filho de Deus.
Como carne o homem participa dos demais seres no mundo; é criatura com eles e
como eles. Como espírito ele é único: criado à imagem e semelhança de Deus. O
mundo é herança para exercer sua liberdade (de filho) e ajudar a espalhar a
semente do Reino.
Diante da sua liberdade, o homem é
desafiado a fazer uma escolha fundamental: viver segundo a carne, i. é, não vislumbrar a vida para além do nascimento e da
morte com ‘valores’ que são corruptíveis, passageiros, debilidade moral,
infidelidade a Deus, cujas conseqüências são as mais sórdidas possíveis como os
ciúmes, invejas, divisões (Gl 5, 19-21), por isso que nas Escrituras este
estilo de vida é sinônimo de pecado; ou segundo o espírito, ou seja, o que são significa dizer que está fora do peso
da vida, mas sem reservas esta condição humana, pois seu coração está centrado
em Deus, pois vive a partir d’Ele e da sua destinação futura. Viver segundo o espírito é estar
voltado para seu Criador, cuja Revelação plena se deu em Jesus Cristo, e estar
fraternalmente unidos com os irmãos. Sendo assim, o homem é simultaneamente
justo e pecador, pois, na condição presente, carne e espírito se
implicam dialeticamente. Nenhuma consegue derrotar totalmente a outra.
A opção pelo espírito, no entanto, é a única capaz de comunicar a vida, haja
vista que o sentido da vida é escapar da morte, manter-se no ser. A opção pelo espírito implica ruptura pela carne. Processo doloroso que chamamos de
conversão. Viver, no mundo, sem ser do mundo, é convite para superar o projeto
segundo a carne, para amar e relacionar-se fraternalmente com o outro.
Quem vive o projeto segundo o espírito, parte de Deus e começa a agir
como Ele; vai lentamente vivificando a carne.
Não se trata de recalcar ou negar a própria a realidade de criação (decaída),
mas acolhimento e superação. A ressurreição é sinal da vida de Deus
transfigurando a vida humana. O homem existe por causa de Deus e para Deus, que
nos criou para tornarmo-nos divinos. Assim a destinação última do homem não se
encerra com a ressurreição, mas com sua assunção.
P.S.
A oportunidade nos é dada! O desafio
está lançado! Percorrer o caminho da nossa vida, implicar viver de maneira
consciente, que por sua vez exige um processo, que vem com o tempo. Ainda que
muitas experiências – sobretudo as vitoriosas – sejam motivações/exemplos de
como se deve viver, bem sabemos que existem muitas circunstâncias que fazem
parte do caminho. O caminho se faz caminhando, por isso caminhar é preciso,
afinal buscamos um sentido para a vida, a realização, a satisfação, a felicidade.
Aprender a viver segundo o espírito é graça! É fruto de uma
escolha, livre, por convicção, ou melhor, por vocação. Escolher a vida é o
caminho mais sensato que prolongar a nossa existência, ainda que de um modo bem
diferente daquele que conhecemos.
Um caminho percorrido de maneira intensa
(consciente), orientado para nossa Fonte primeira, certamente trará qualidade
de vida não somente para o caminheiro, mas para todos quantos se fazem companheiros
de caminhada, na peregrinação da vida.
Grande abraço e coragem!
Quem sabe não nos encontraremos pelo Caminho.
Quem sabe não nos encontraremos pelo Caminho.
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