Por Ir. Thiago Cristino, FMI
Estudante de Teologia
A parte principal deste ato litúrgico é a proclamação das leituras e pelos cantos que ocorrem entre elas. Todo o momento é um diálogo[1] que flui naturalmente entre Deus e o ser humano, isto é, pela sua própria iniciativa, Deus Comunica-se a Si e nos oferta a sua Salvação através de sua Palavra e ao que o homem responde com aclamações (orações/salmos e cantos). O rito da Liturgia da Palavra é concluído pela homilia, a profissão de fé (Credo) e a oração universal ou dos fiéis (preces).
A Palavra é a presença atuante e salvadora de Deus[2] para o seu povo. Quando se leem as Sagradas Escrituras na Igreja, o próprio Deus fala ao seu povo. Diferentemente das outras leituras do Primeiro Testamento, temos uma veneração particular (por isso a postura corporal de pé, ao ouvir o Evangelho) pela Boa Notícia de Jesus comunicada a nós no momento da proclamação do Evangelho. Pois é o próprio Cristo que vem a nós e nos comunica a salvação pelos seus mistérios: “o evangelho que vos preguei e que recebestes, e no qual estais firmes. Por ele sois salvos, se o estais guardando” (1Cor 15,1-2). Constitui, portanto, o ponto alto da Liturgia da Palavra[3].
Tal maravilhosa presença de Deus entre nós exige uma atitude de profundo recolhimento e escuta atenta ao ouvir a mensagem que o Senhor tem a nos dizer. Por isso a Liturgia da Palavra deve favorecer a meditação e por isso deve ser evitada qualquer pressa que impeça o recolhimento, através de um profundo silêncio[4] destinado para a interiorização da Palavra de Deus no coração e eficácia da sua ‘ação transformadora em nós’ (Is 55,10-11).
Mediante as leituras é preparada para os fiéis a mesa da Palavra de Deus e abrem-se para eles os tesouros da Bíblia[5]. Os textos bíblico-litúrgicos, pelo fato de terem uma lógica diferente, diferem propriamente dito dos textos bíblicos. As leituras programadas e proclamadas na liturgia têm por objetivo a unidade dos dois Blocos testamentários e a História da Salvação. Neste sentido a liturgia rompe com a intenção bíblica e nos conduz ao mistério que celebramos. Por isso mesmo não é permitido trocar as leituras e o salmo responsorial por outros textos não-bíblicos[6].
Em preparação para ouvir o que Cristo vem falar no Evangelho, a assembleia reunida entoa um canto de aclamação, o Aleluia, que é omitido no Tempo da Quaresma.
Após a proclamação do Evangelho inicia-se a homilia, parte integrante da liturgia cujo objetivo centra-se em nutrir a vida cristã, levando em conta o mistério celebrado, bem como as necessidades dos ouvintes[7]. O mistério que celebramos, segundo Ione Buyst no livro Homilia; partilha da Palavra, trata-se da “Pessoa de Jesus Cristo, sua missão, sua vida, morte-ressurreição, o derramamento do Espírito, a vinda gloriosa no fim dos tempos, Reino de Deus, nossa comunhão com o Pai, por Cristo com Cristo e em Cristo no Espírito”[8].
A homilia é ministerialmente do clero (diáconos, presbitérios e bispos), todavia é proferida preferencialmente pelo pastor daquela Igreja. Ele, conhecendo as necessidades do seu rebanho faz com eles um caminho mistagógico suscitando os valores cristãos, com base nos ensinamentos de Jesus Cristo; serve para “encorajar, animar, exortar e consolar” (At 13, 14-42) e não tanto para dar lições de moral ou ensino sistematizado numa área da Teologia, por exemplo; pretende ser uma ‘extensão’ da Palavra de Deus, ou seja, a Palavra de Deus precisa ser comunicada de tal forma que não perca sua força e originalidade.
A partir da palavra grega όµιλια podemos entender o significado da homilia na Celebração Eucarística, pois sugere uma conversa familiar (daqui advém a importância de ser pronunciada pelo pastor, pois ele conhece a necessidade do seu rebanho) que penetra o coração de quem ouve, abre os olhos e inquieta todo aquele que pertence a Jesus Cristo, em vista de uma prática pessoal que é refletida no seio da comunidade, dando testemunho de reino de Deus e sua justiça[9].
Urge que os ministros encontrem o tom certo para que a conversa familiar seja fecunda, pois ainda os sacramentos tenham sua força própria (ex opere operato), a abundância da Graça depende em medida não desprezível da qualidade comunicadora do ministro.
Terminada a homilia inicia-se a profissão de fé, cantada ou recitada pelo sacerdote com o povo, juntos ou em dois coros, aos domingos, solenidades e celebrações de caráter mais solene [10], cujo objetivo central estar em levar todo o povo de Deus reunido em comunidade a responder à Palavra de Deus outrora anunciada e explicada pela homilia[11], sempre na ótica de que a Celebração Eucarística como um todo, é dinâmica, pois promove um agradável e fecundo diálogo entre o Pai e os filhos.
Por último faz-se, de pé[12], a oração universal ou oração dos fiéis, de certo modo há uma resposta aos apelos que a Palavra de Deus faz a cada um de nós pela fé. Ao elevar suas preces, pela Igreja, poderes públicos e pela salvação de todos, pelos enfermos e pela comunidade local[13], a Deus, o povo exerce a sua função sacerdotal[14] (comum e não ministerial). Tais preces devem ser breves e objetivas a ponto de expressarem a oração de toda a comunidade.
Em se tratando de ‘mesa da Palavra’, temos pelos ensinamentos da Igreja que ela é também alimento, é banquete[15].
Assim, participar ativamente deste rito, significa acolher do Senhor que vem ao nosso encontro todo estímulo e ânimo para caminhar rumo a ele, fortalecidos pelo pão da sua Palavra e cheios de esperanças para lutar contra todas as desesperanças deste mundo.
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