terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ludovico Pavoni, educador: algumas considerações

Por Pe. Roberto Remo Cantú,
presbítero pavoniano e arquivista geral da Congregação pavoniana.

Se com certa presunção quiséssemos definir, em uma única palavra o pensamento e a ação educativa de Ludovico Pavoni, talvez esta seria: respeito.

E como se poderia declinar no educador (tanto o Pavoni como o pavoniano) e nos diversos momentos do processo educativo este respeito? eis aqui uma breve relação:

• Simplicidade de espírito

Tudo começa com a maneira simples de nos colocarmos diante do outro; poderíamos dizer até de uma atitude quase ingênua. É importante aquele quase no sentido que esta simplicidade é uma atitude da alma que procura unir os aspectos positivos da instintiva ingenuidade da criança com a ascese psicológica, uma purificação da poluição dos preconceitos.

O Pavoni que tinha um temperamento colérico-sanguineo (cujas componentes fundamentais são a sensibilidade, receptividade ou irritabilidade, e a força, espontaneidade ou reação), se encaminhou na estrada da ascese superando os preconceitos que nascem quando supervalorizamos um único ponto de vista, o dele ou o nosso.

A descoberta do outro, diante do qual nos colocamos à frente, é uma experiência profunda e intuitiva, mesmo se é difícil a ser conceitualizada. E o conseqüente esforço de caminhar em continuação para o outro é uma experiência difícil de vivenciar. Dentro desta dúplice experiência, intuitiva e vivenciada, percebemos que não estamos sozinhos: é a descoberta, o encontro com o nosso Deus.

Não é para uma adequação passiva a valores partilhados na família e no ambiente que o Pavoni na sua vida coloca como fundamento Deus. Não conhecemos o esforço adolescencial, acentuado da provocação em aparência vencedora da modernidade irreligiosa do seu tempo, unida à consciência dos limites da antiga religiosidade, que o jovem Ludovico com certeza vivenciou. Ma ele não se sentiu sozinho neste Êxodo. Deste seu se colocar diante do Outro e do necessário encaminhar-se até Ele, ganhou uma experiência tão intensa que não podia não partilhá-la, em particular, com aqueles que percebia fundamentalmente a ele semelhantes, isto é, os jovens. Escreve um anônimo estimador do Pavoni: para Ludovico Pavoni, o Êxodo inicia assim: um itinerário do qual somente Deus conhece os segredos. Nós podemos somente perceber alguns traços exteriores: desestabilizante novidade de ideais jovens, generosidade maluca, separação e abandono da nativa casa nobiliária, autonomia da família, freqüentação dos pequenos, facilidade de perdão. O Êxodo continuará com um estilo diferente de ser padre, o desinteresse para os cargos, a renúncia ao canonicato, a libertação dos usos e costumes de um típico ambiente devoto, a perda de amizades importantes, até acabar em um poeirento pátio, pai de filhos de ninguém, livre como uma gaivota sobre a imensidade do mar, mas sempre feliz.

O Pavoni tinha, portanto, como temperamento natural uma grande sensibilidade e reatividade. Todo educador, se não tiver alcançado uma semelhante sensibilidade natural e uma imediata reatividade, deveria cultivar com boa vontade a semente que todas as pessoas, pelo fato de ser pessoas, carregam consigo. Por definição, toda pessoa é um ser em relação.

  • Maravilha e assombro em descobrir o outro.

Quanto mais entre o eu e o outro não existir algum diafragma que distorce este se colocar em frente, se o meu olhar interior é e se dirige cada vez, para simplicidade, experimenta-se, inevitavelmente, estupor e também maravilha.

Os outros são o nosso espelho. Nosso porque estamos conscientes de ser os iniciadores deste olhar e, portanto, em certo sentido, os criadores de quem está na nossa frente. O fazemos existir em nós. Nosso também, porque quem estamos enxergando, responde com certeza com um seu próprio modo, mas esta sua resposta é marcada pela nossa presença.

Infelizmente nos poucos escritos do Pavoni e pelo testemunho de quem o conheceu não aparece o estupor positivo, enquanto é salientada a parte negativa, seja em relação a ele mesmo: a minha indignidade me humilha: frio como sou, que deverei esperar ainda? seja em relação aos outros, tão arrogantes e mesquinhos.

Mas também, partindo deste último ponto negativo, podemos deduzir como o seu comportamento interior (psicológico e espiritual) não aceitasse como definitivo o conhecimento da realidade, em particular das pessoas. Os contemporâneos assinalam como unisse à simplicidade sempre uma prudência em relação á complexidade da realidade. Ao contrário do que se poderia pensar, elas, a simplicidade e a prudência, são duas irmãs que devem sempre andar juntas.

O educador pavoniano deve evidenciar em relação a quem se coloca na sua frente uma atitude positiva e aberta, ma em relação a si mesmo envolvido neste caminho educativo, uma atitude prudente

  • Humildade.

Esta sua atitude interior de simplicidade de espírito e de maravilha sempre atenta para a realidade, em particular, das pessoas, e, nelas, aquela imprevisível dos jovens, não podia que alimentar nele uma atitude de verdadeira humildade.

A verdadeira humildade entendida não como um fechar-se medroso em si, mas uma abertura para uma realidade maior de nós mesmos, nascida da consciência de que nunca conseguiremos entendê-la completamente, de que poderemos cometer erros inevitáveis, que vão além das boas intenções. É este o sofrimento assumido com serenidade por um verdadeiro educador.

O Pavoni foi genial em propor um projeto adaptado às necessidades do seu tempo, à altura dos novos pobres, vítimas de uma nova pobreza em uma nova sociedade, que colocava, em maneira traiçoeira, mas concreta, os mais frágeis e os jovens à margem dela.

Ele nunca julgou que o modelo proposto – o Instituto assistencial-educativo-profissional – resolvesse, mesmo naquele tempo, todas as necessidades individuais e sociais. O seu era um avanço, e na época até de vanguarda, mas soube reconhecer nele, em alguns casos, também, o inevitável caráter inadequado. O modelo por ele proposto com o Instituto de São Barnabé visava uma educação preventiva, na qual o jovem, o adolescente, a criança ainda estava disponível a novas propostas educativas, conseguindo silenciar em si mesmo o chamado da rua e dos possíveis maus exemplos do meio de onde provinha.

Alguém, contudo, não conseguiu. Colocou em perigo, em um contexto familiar baseado no respeito e na liberdade, a necessária partilha de valores.

Os incorrigíveis existiram também em São Barnabé, de alguns até conhecemos o nome. De um, Gaetano Faraoni, conhecemos até a sua história seguinte. O Pavoni foi obrigado a demiti-lo do Instituto, talvez devido a um comportamento moral insustentável . Esta demissão permaneceu como uma ferida no Pavoni. Escrevendo a um seu aluno que tinha encontrado o colega nas ruas da grande Milão, chega, com grande humildade, a assumir uma certa própria responsabilidade (não tenha feito o bastante) pela expulsão do jovem: Não pode imaginar a alegria com a qual li a tua carta. Sempre gostei do jeito do jovem Faraoni e a sua perda me deixou sempre o remorso de não ter feito o bastante para afastá-lo daquelas ocasiões que o fizeram tropeçar. Quisesse Deus que você o possa reencontrar e, quem sabe, com a tua ajuda, endireitar um pouco a sua vida!Fala-lhe que nunca me esqueci dele e que o amo e se o aconselharás a me escrever ficarei bem contente para eu externar-lhe o meu coração.

O educador pavoniano nunca deve perder a confiança em si mesmo ou nas necessárias aquisições das ciências humanas, no caso que perceba que algo ou alguém está fugindo com facilidade até aos mais estudados e aprofundados programas preparados. Isto é inevitável!

  • Serviço.

As últimas linhas da carta precedente parecem resumir quanto foi dito e antecipar quanto vamos acrescentar sobre a atitude educativa do Pavoni. Não ter feito o bastante para defendê-lo. A simplicidade, a maravilha e a humildade são traduzidas, no agir, mais concretamente, no custodiar este tesouro, no se colocar a serviço de quem o guarda. Não ficam satisfeitas por tudo o que já foi feito, mas se preocupam por o que deverá ser feito a mais. Em uma eventualidade resposta negativa, como é o caso examinado do Gaetano, o pesar não é originado por perceber o próprio limite e incapacidade, mas em perceber o sofrimento do outro.

  • Amor.

Dize-lhe que nunca me esqueci dele, que o amo, e, se o aconselharás a me escrever, ficarei contente em poder expressar o meu coração. Carregando consigo o sofrimento do aparente e provisório insucesso educativo em relação ao Gaetano, o Pavoni lembrava, esperava, aguardava. Aguardava somente uma ocasião. Sabemos como o Pavoni na sua atitude exterior, mesmo no meio das suas crianças, mantinha um comportamento reservado, sério, respeitoso, humilde, mas no qual o intuito juvenil sabia perceber não somente a consideração que este nobre, este presbítero tinha em relação a eles, mas algo mais, o afeto e, usando uma palavra bem gasta, o amor.

No epistolário, ao contrário, com uma certa nossa surpresa, o Cônego parece se abrir aos sentimentos mais profundos que florescem no amor.

Os meninos, portanto, estavam enxergando certo.

Quantas vezes, proporcionalmente ao número e ao tipo das suas cartas, ele escreveu a palavra amor ou termos semelhantes!

A primeira carta que temos dele, escrita ao jovem irmão Giovanni entre lágrimas, é uma repetida confissão de amor. E assim aquela acima citada, umas das últimas.

Do respeito ao amor.Hoje, com uma deprecada superficialidade pensa-se partir do amor para alcançar o respeito. É um equivoco bem grande!

Para o Pavoni não podia ser este o caminho correto: do respeito ao amor. Este em uma circularidade virtuosa, alimenta o respeito, a simplicidade, a maravilha, a humildade e o serviço.

  • A presença de Deus.

Concluindo estas breves considerações sobre o Pavoni, educador, talvez não seja necessário tornar mais manifesta uma presença por si só evidente, mas que, com maior razão de qualquer outra presença, se deixa alcançar e ao mesmo tempo depois passa a fugir, para se deixar novamente alcançar e assim por diante: é a presença de Deus.

No começo desta reflexão, falamos, como dentro da primeira dúplice experiência (intuitiva e vivenciada) do outro se percebe que não estamos sozinhos: é a descoberta de Deus, garante da verdade desta experiência. Não é uma ilusão aquela de descobrir o outro e descobrir que podemos amá-lo.

Sem esta fundamental convicção da presença do Outro, ninguém poderia estar certo de alcançar, conhecer amar o outro.

2 comentários:

  1. otima as informaçoes!me ajudou muito em minha redaçao.

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  2. Saudações Pavonianas (V.J.V.M)

    É muito bom saber que te ajudamos na tua reflexão.
    Volte sempre!

    Abraços

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Oração Vocacional Pavoniana

Oração Vocacional Pavoniana
Divino Mestre Jesus, ao anunciar o Reino do Pai escolheste discípulos e missionários dispostos a seguir-te em tudo; quiseste que ficassem contigo numa prolongada vivência do “espírito de família” a fim de prepará-los para serem tuas testemunhas e enviá-los a proclamar o Evangelho. Continua a falar ao coração de muitos e concede a quantos aceitaram teu chamado que, animados pelo teu Espírito, respondam com alegria e ofereçam sem reservas a própria vida em favor das crianças, dos surdos e dos jovens mais necessitados, a exemplo do beato Pe. Pavoni. Isto te pedimos confiantes pela intercessão de Maria Imaculada, Mãe e Rainha da nossa Congregação. Amém!

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Quem sou eu?

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Bréscia, Italy
Sou fundador da Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada, conhecida popularmente como RELIGIOSOS PAVONIANOS. Nasci na Itália no dia 11 de setembro de 1784 numa cidade chamada Bréscia. Senti o chamado de Deus para ir ao encontro das crianças e jovens que, por ocasião da guerra, ficaram órfãos, espalhados pelas ruas com fome, frio e sem ter o que fazer... e o pior, sem nenhuma perspectiva de futuro. Então decidi ajudá-los. Chamei-os para o meu Oratório (um lugar onde nos reuníamos para rezar e brincar) e depois ensinei-os a arte da marcenaria, serralheria, tipografia (fabricar livros), escultura, pintura... e muitas outras coisas. Graças a Deus tudo se encaminhou bem, pois Ele caminhava comigo, conforme prometera. Depois chamei colaboradores para dar continuidade àquilo que havia iniciado. Bem, como você pode perceber a minha história é bem longa... Se você também quer me ajudar entre em contato. Os meus amigos PAVONIANOS estarão de portas abertas para recebê-lo em nossa FAMÍLIA.