Abaixo segue uma homilia de † Dom Antônio Carrilho, Bispo do Funchal (Portugal) acerca das Ordenações Diaconais e Presbiteral em sua diocese.
É uma reflexão para as ordenações que serão realizadas pela imposição das mãos e oração consecratória de sua Excelência Revma Dom Sergio da Rocha, Arcebispo Metropolitano de Brasília, na Paróquia de São Sebastião, Gama/DF, que está sob os cuidados pastorais dos Religiosos Pavonianos, no dia 28 de janeiro de 2012 às 18h.
Será ordenado Presbítero Ir. Célio Alex Araújo Pereira e Diáconos os Irmãos César Thiago do Carmo Alves, José Roberto de Oliveira Filho e Thiago Cristino, todos religiosos Filhos de Maria Imaculada - Pavonianos.
Sua presença amiga e orante é de suma importância para motivar e sustentar este nosso ministérios que de coração alargado assumiremos em nossas vidas.
Um grande e fraterno abraço!
Ir. Thiago Cristino, FMI
A autoridade como serviço
Celebra o calendário da Igreja universal, neste dia 25 de Julho, a festa de S. Tiago Maior, irmão de S. João Evangelista. A liturgia da Palavra introduz-nos na dinâmica do seguimento de Cristo, o Filho de Deus, que veio para servir e dar a vida pela salvação do mundo (cf. Mt 20,29).
Na 2ª Carta aos Coríntios (4,7-15), que escutamos na primeira leitura, S. Paulo evoca a graça e a sublimidade do ministério, com os seus paradoxos, que nos desarmam, pela grandeza da missão e dos sofrimentos inerentes à mesma. A fragilidade dos discípulos de Jesus é enaltecida, para que melhor se depreenda que transportam em "vasos de barro o tesouro do ministério" (2Cor 4,7).
À semelhança do ardente Apóstolo da Palavra e conscientes da grandeza da missão e da fragilidade humana, os sacerdotes e os diáconos aceitam alegremente o desafio da aventura evangélica. Eles devem testemunhar com a sua vida a Beleza do Rosto de Cristo e da Igreja. Na fidelidade a Cristo e em profunda comunhão eclesial, empenhem-se, por isso, como recomenda S. Paulo a Timóteo, por "reavivar o dom de Deus" que cada um recebeu (cf. 2Tm 1,6), com um coração indiviso, uma verdadeira caridade e solicitude pastoral para com todos.
O relato do Evangelho de Mateus (20, 20-28), há pouco proclamado, de grande densidade teológica, situa-se no contexto do último anúncio da Paixão de Jesus, já na iminência da Sua Páscoa. Ao pedido ambicioso de Salomé, mãe de Tiago e João, de honras, poder e domínio, Jesus aponta aos apóstolos o autêntico caminho do seguimento: beber o cálice até ao fim, como Ele (cf. Mt 20,22). Participar neste cálice significa permanecer humildemente fiel, identificado totalmente com Jesus.
O Mestre adverte claramente sobre os perigos de uma autoridade entendida como instrumento de glória e de poder. A Sua mensagem sobre a autoridade como serviço é absolutamente nova e revolucionária. O Filho de Deus encarnou, em plenitude, os gestos do autêntico serviço e autoridade, ao entregar voluntariamente a própria vida à morte para salvar a humanidade. Também o sacerdote e o diácono, através do Sacramento da Ordem e iluminados pela sabedoria da Cruz até à oferta da vida, testemunham o serviço da verdadeira autoridade de Cristo na comunidade eclesial.
Seduzidos e apaixonados por Cristo
A iniciativa do Ano Jubilar Sacerdotal, na continuidade do Ano Paulino, sob o tema "Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote", tem como objetivo "reforçar em todo o Povo de Deus a consciência do dom imenso, que representa o ministério ordenado para quem o recebe, para toda a Igreja e para o mundo".
Como Bispo desta comunidade diocesana e primeiro responsável pelo dinamismo vocacional, lembro a todos, especialmente aos pais e aos sacerdotes, que sensibilizem e rezem, em família e na paróquia, pelas vocações sacerdotais e religiosas, e pelo nosso Seminário, que é o "coração da Diocese". Não podemos esquecer, porém, que a melhor proposta vocacional é o testemunho feliz da própria vida, de quem vive seduzido e apaixonado por Cristo.
Uma caridade pastoral autêntica e dinâmica nasce da intimidade com o Senhor. Na vasta seara do mundo, o sacerdote e o diácono permanecem com Cristo, em assídua e vigilante escuta. Por fidelidade à missão que lhes foi confiada, são convidados a responder aos desafios do nosso tempo, na atenção e escuta das necessidades e aspirações mais fundas de todos os homens e mulheres, no serviço privilegiado aos mais pobres e a quem mais precisa de ajuda, aos que têm sede e fome de justiça, de paz e de amor. "A Igreja não pode descuidar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os sacramentos nem a Palavra" - escreveu Bento XVI, na sua primeira Encíclica (Deus caritas est, 22).
Dom por excelência
Dentro de momentos, no secular gesto apostólico da imposição das mãos, o Espírito Santo unge os seus escolhidos e habilita-os para o ministério diaconal e sacerdotal. A celebração é a memória viva e atual da presença e riqueza inesgotável do Espírito Santo na vida da Igreja, no hoje da história.
Os diáconos, colaboradores dos bispos e dos presbíteros, recebem o primeiro grau do Sacramento da Ordem e são ministros ordenados para o serviço da Igreja. Como recorda o Concílio Vaticano II, "A graça sacramental dá-lhes a força necessária para servirem o povo de Deus na ‘diaconia' da Liturgia, da Palavra e da Caridade, em comunhão com o Bispo e o seu presbitério" (Lumen Gentium, 29). Sob a autoridade do Bispo, os diáconos administram o Batismo, assistem e abençoam o matrimônio, levam o viático aos moribundos e presidem às exéquias.
O presbítero, configurado com Cristo Bom Pastor e cooperador do Bispo, é chamado a seguir, testemunhar e reviver a própria caridade pastoral do Mestre. Ser padre é ser outro Cristo! Lembra-nos, também, o Concílio: "Como ministros das coisas sagradas, é sobretudo no sacrifício da Missa, que os presbíteros, de um modo especial fazem as vezes de Cristo..." (Presbyterorum Ordinis, 13).
Santo Cura d'Ars, a força do testemunho
Caros sacerdotes, diáconos e seminaristas, a grande referência do Ano Sacerdotal é, como sabeis, o Santo Cura d'Ars. Este humilde sacerdote francês não fez milagres extraordinários. Viveu com paixão e heroísmo o seu sacerdócio, humildemente, com simplicidade e alegria.
De realçar o seu singular amor a Cristo, à Igreja e à Santíssima Virgem; obediência e comunhão com o seu Bispo; fraternidade sacerdotal, amor e doação à comunidade eclesial, até ao limite das suas forças. Virtudes estas, sempre tão atuais, que fazem do Santo Cura d'Ars o modelo inspirador de sacerdotes, diáconos e seminaristas.
"O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus", dizia, com inefável ternura, o Santo Cura d'Ars. E foi na contemplação assídua do Coração Eucarístico de Cristo, que o P. João Maria Vianney encontrou o Livro vivo de eterna Sabedoria e Amor, para o dinamismo da sua ação pastoral como sacerdote.
Servir com alegria e generosidade
Caros ordinandos: neste momento, dirijo-me particularmente a vós! Convosco dou graças a Deus, pelo ministério que hoje vos é confiado e vos coloca, com Cristo, ao serviço da Igreja e do mundo. Felicito-vos pela generosidade e alegria do "sim" da entrega da vossa vida, desejando que seja compensado, pelos tempos fora, pela paz e felicidade, que sempre brota da intimidade com Deus, no serviço do Seu Reino!
Sei que é esta a vossa convicção profunda e, por isso, me é grato recordar algumas mensagens e sentimentos de entusiasmo, esperança e alegria, que já vós próprios expressastes, em diversos momentos, e gosto de partilhar com toda a nossa família eclesial:
"Tenho a firme consciência de que o caminho vocacional percorrido, até à Ordenação sacerdotal, e o que espero percorrer, não foi nem será um percurso individual. Nesta caminhada, passaram muitos colegas, superiores, familiares, benfeitores, amigos e muitas outras pessoas que nem o nome conheço. A todos o meu obrigado" (José Rosário).
"Estar dentro da Igreja permite-nos ver as maravilhas que Deus continua a fazer em favor do Seu Povo. Peço-lhe humildemente que complete a obra que em mim iniciou, para benefício da Sua Igreja" (Hugo Gomes).
"Fui aprendendo a conhecer, a amar e a servir a Igreja, com o testemunho de vários sacerdotes, que são para mim exemplos felizes de serviço e entrega. A todos agradeço e peço a sua oração, para que seja fiel ao dom que o Senhor me entregará na ordenação" (Ricardo Freitas).
"Louvado seja o Senhor Jesus Cristo, minha fortaleza, por tudo o que tem realizado em mim, e Sua mãe Maria Santíssima que sempre me tem acompanhado com sua ternura maternal" (Luís Miguel).
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=74366
"Agora me chamas, Senhor, pela imposição das mãos de teu pontífice para servir aos teus discípulos. Não sei porque razão me escolheste; só tu sabes.
Torna, Senhor, mais leve os pesos dos meus pecados, porque te ofendi tão gravemente. purifica minha inteligência e meu coração. Sê para mim como uma lâmpada bem luminosa que me conduz pelo caminho reto.
Dá-me palavra fácil e concede-me uma linguagem clara e fluente, mediante a língua do fogo do teu Espírito, a fim de que tua presença sempre me assista.
Sê meu Pastor e apascenta comigo, Senhor, para que meu coração não se incline nem para direita nem para a esquerda; que o teu Espírito bom me conduza pelo caminho reto e as minhas obras se realizem segundo tua vontade, até a última delas".
(São João Damasceno, século VIII).