Estamos em um período de
comemorações. É interessante ler a carta que o ir. Emili Turú Superior geral enviou
em preparação aos 200 anos de fundação dos Maristas: um convite não somente a
olhar o passado, mas a renovar o entusiasmo, animando uns aos outros para dar a
Igreja um rosto mariano.
Acredito que este convite deva
ser feito próprio por todas as Congregações que nestes dois últimos séculos
fizeram de Maria a própria Mãe. Nascemos
todos em um momento de renovação da Igreja, depois da Revolução Francesa,
quando se começou a enxergar o mundo com um novo olhar. Escolhemos Maria,
aurora de tempos novos, para caminhar ao nosso lado. Os Fundadores tiveram criatividade,
coragem, mas, acima de tudo, muita fé.
Vou tentar resumi-la nas suas
linhas essenciais. Não difere muito do que eu também teria desejado dizer a
vocês. Reconhecemos que, como todos os Institutos, estamos entrando em uma nova
estação e esta passagem é caraterizada por uma crise de fragilidade que entre
nós pode ser percebida pela ruptura fácil do compromisso do para sempre, pela superficialidade e
falta de raízes profundas em algumas nossas vivências pessoais e comunitárias,
pelo número de irmãos que pedem de não continuar mais como religiosos.
Respeitamos a liberdade deles, mas ao mesmo tempo somos convidados a nos
perguntar qual a nossa resposta Àquele que se apaixonou por nós e nos convida a
fazer parte do seu projeto, e até que ponto aceitamos de fazê-lo nosso.
Estamos como num barco, no meio
do mar agitado e encontramos dificuldade em controla-lo, mas até que ponto
percebemos que saímos junto com Ele? A
travessia nos convida a assumir a nossa fragilidade e a colocar-nos confiantes
nas mãos daquEle que está em nosso meio e que parece ficar dormindo. Colocamos
a confiança em Maria, fonte de inspiração para uma nova estação do carisma da Congregação,
isto nos impele a sair para águas mais profundas e a comprometermos em um
itinerário de conversão tanto pessoal como comunitário. Esta itinerância
escolhemos fazê-la com Maria, nossa Mãe, guia e companheira. Com todos os
religiosos que fazem referência a Ela somos chamados a construir o rosto mariano da Igreja.
Esta atitude se expressa através
da disponibilidade festiva ao chamado do Espírito Santo, uma confiança sem
limites na Palavra do Senhor, um itinerário relacionado com a vida de Cristo e
uma sensibilidade maternal para com as necessidades e os sofrimentos dos
homens, em particular dos pequenos.
Construir o rosto mariano da
Igreja significa partilhar a esperança e a missão de Maria. Ir. Emili Turú a
sintetiza em três ícones:
·
A Visitação: com Maria somos
chamados a viver a nossa vida como serviço e a levar Cristo aos outros. Atenção
às pessoas em dificuldades, à justiça social, à libertação do homem. A nossa
perspectiva em olhar o mundo deve imitar a de Jesus que lavando os pés dos
discípulos o olhou de baixo. Tentar assim ser a Igreja do avental, o único ornamento litúrgico que podemos
atribuir a Jesus. Servir não como protagonistas, como quem possui todas as
respostas e domina todos os botões da mesa de comando, mas de joelho, partindo
da humildade de quem serve, de quem partilha, porque ama, sem procurar nada em troca. Sem respostas pré-moldadas, mas com a
escuta atenta e com a atitude humilde de Maria que se deixa interpelar por Deus
e pelos demais.
·
O Pentecostes: construir, igual ao
Pentecostes, comunidade em volta de Maria, como Mãe que faz família, onde todos
têm igual dignidade, onde é respeitada a diversidade e acolhido o diferente.
Simplicidade e humildade. Aí Ela vive o amor, a ternura, a compaixão.
Acompanha, consola, acolhe em lugar de condenar. É humana. As nossas comunidades que se tornem lugares
onde se desenvolvem as qualidades espirituais e humanas e se tornam
evangelizadoras através do testemunho do amor fraterno. Fiéis ao nosso espírito de família, acolhendo como
irmão, sem nenhuma objeção, qualquer
pessoa. A comunidade como lugar onde quem chega pode saciar a sede e partilhar
a água da vida com os demais. Que sejamos
fontes, não água que tira a sede. Isto nos torna humildes e convida a
manter-se abertos e generosos. A Comunidade de Pentecostes, unida em volta de
Maria, consciente de ser portadora de um
dom maior do que ela.
·
A Anunciação: modelo de abertura ao
Espírito. Que escuta com atenção, no
silêncio e acolhe em si a sua ação sem medo. Guardava as coisas meditando-as em seu coração. Necessidade de
voltar à vida interior. O risco da superficialidade existe também para os
religiosos: mesmo atrás de um compromisso apostólico podemos nos envolver em
uma espiral de ativismo, transformarmos em funcionários ou, pior ainda,
orgulharmos de ser a prima donna do espetáculo
e querer trabalhar somente neste papel. Rezar, deixando-se levar como criança
no braço da Mãe. Igreja, comunidade de rosto mariano, capaz de sempre acolher e
sempre de maneira incondicional; que sorri e enxuga as lágrimas; que oferece
ternura e vivencia a pobreza; que perdoa; que ama com os olhos e com o coração;
que leva ao encontro e ao abraço com Cristo.
Aos nossos queridos irmãos Maristas, neste ano cheio de comemorações, cheguem as bênçãos dos céus, a fim de continuarem com ardor missionário em prol da educação das nossas crianças e jovens!
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