Por Pe.
Lorenzo Agosti, FMI
Superior geral dos Pavonianos
...Aprendam de mim, porque sou manso e humilde de
coração (Mt 11,29).
Podemos
dizer que esta expressão de Jesus se tornou o projeto de vida do pe. Estevão
Fogliata, falecido no Gama aos 04 de novembro de 2012, com 91 anos de idade.
Estevão
(Stefano) nasceu aos 21 de agosto de 1921 na cidade de Chiari, pertencente à
província de Bréscia, na Itália. Era o último de sete irmãos, entre os quais um
religioso Franciscano, falecido no ano de 1996. Seu pai era sacristão da igreja
matriz. Durante a segunda guerra mundial Estevão alistado como
radiotelegrafista serviu na Itália e na Grécia e, depois do armistício de 08 de
setembro do ano de 1943 da Itália com as Forças Aliadas, foi preso pelos
alemães e em seguida enviado em um campo de concentração na Alemanha, onde
passou a trabalhar em uma fábrica de produtos bélicos. Terminada a guerra
voltou para a Itália onde primeiro trabalhou na Prefeitura, depois em uma
empresa de empréstimos e seguros.
Quando
soube da possibilidade de tornar-se presbítero como vocacionado adulto, percebeu
que podia realizar o seu antigo desejo de ser missionário e em 1951 pediu e obteve
a licença do pe. Antônio Villa, na época Superior Geral, para entrar no nosso
Seminário de Tradate. O pároco de Chiari na carta de acompanhamento dizia: Fico feliz de poder declarar que o jovem
Fogliata Estevão de trinta anos, filho de Pedro, pertencente a uma ótima
família católica, vocacionado para esta Congregação, sempre foi de conduta
exemplar em todos os sentidos e, mesmo
tendo já alcançado um bom emprego, deixa o cargo de confiança que ocupa para
seguir a vocação religiosa.
Apesar
das dificuldades que enfrentou nos estudos, a sua força de vontade e o seu
espírito de fé permitiram que alcançasse o desejado. Na avaliação para a
admissão á primeira Profissão religiosa, realizada aos 08 de setembro de 1956,
está escrito: ... demonstra grande
esforço e perseverança nos estudos, amor ao trabalho, resistência ao cansaço,
espirito de humildade e de obediência. Terminados os três anos fez a sua
profissão perpétua. Logo depois, aos 18 de outubro de 1959 foi ordenado presbítero
em Chiari pelo Mons. Guilherme Bosetti, Bispo auxiliar de Bréscia, também ele natural
da mesma cidade.
Em
dezembro, no dia da festa da Imaculada do mesmo ano encontrava-se já no Brasil,
em Rio Bananal, no interior do Estado do
Espírito Santo. Aqui durante 23 anos (a exceção de algumas interrupções quando
atuou na nossa paróquia de Vitória-ES) desenvolveu a sua missão pastoral
naquele extenso território confiado à nossa Congregação. Daquele período ele
mesmo deixou escrito nas suas recordações: Durante
mais de vinte anos percorri a pé, a cavalo, com o carro aquela vasta região,
ministrando os sacramentos em mais de 70 comunidades, superando vários perigos.
Uma vez, atravessando uma pinguela, o cavalo escorregou e em um piscar de olhos
cavalo e cavaleiro estavam tomando banho no rio. Não esqueço os sustos nas três
vezes que, devido às chuvas derrapei e me encontrei com o carro fora da pista. No
ano de 1982 foi enviado para Gama-DF, voltou em Vitória de 1985 a 1987 e depois
permaneceu sempre aqui, a exceção do 2º semestre de 1990 até o setembro de 1992
quando ficou em São Leopoldo – RS.
Transcorreram
assim praticamente 25 dos seus últimos anos no Gama, como vigário paroquial da
nossa Paróquia de São Sebastião. Nesta
paróquia, - escrevia o mesmo pe. Estevão
no ano de 1984, na ocasião do 25º aniversário da sua Ordenação presbiteral - temos
uma área chamada de Invasão, onde estão reunidos os mais pobres que se
encontram de verdade na miséria. Até que o Senhor quiser – concluía – fico feliz em colocar as poucas energias que
ainda tenho a serviço da Igreja e da Congregação.
Assim era
e assim viveu padre Estevão.
Pe. José
Rossi, na época Superior geral, na homilia que preparou para o 25º aniversário
da ordenação sacerdotal dele, celebrado na igreja matriz da sua amada cidade de
Chiari, disse: ... deste imenso Brasil,
pe. Estevão não conhece os lugares turísticos mais renomados, nem a
participação aos eventos mais badalados, nem as expressões de uma riqueza
ostentada de poucos. Conhece, sim, a pobreza, quase sempre decorosa, mesmo se,
às vezes humilhada pela miséria e pelas injustiças, conhece o coração bondoso
daquela gente humilde; conhece a paciência da espera, a preocupação para o
amanhã da sua gente, pelo fato que
agora entre os que com ele e pelos quais ele vive ninguém mais é estranho, mas todos
irmãos que amados, sabem corresponder com gratidão.
Padre
Estevão nunca ocupou papeis de autoridade; sempre se dedicou a colaborar no
ministério pastoral e administrativo; como vigário paroquial sempre foi solicito
para atender as Confissões e a Celebração eucarística. Nunca se assinalou com
iniciativas particulares, nem com grandes realizações. Foi o homem fiel ao
compromisso cotidiano, da rotina, com uma dedicação constante ao que constituía
o coração da sua identidade de consagrado e de presbítero.
O Diácono
Ribamar do Gama, na ocasião do seu 45º aniversario de ordenação sacerdotal,
assim o descreveu: Homem simples e de
poucas palavras, no entanto, tem profundas raízes de espiritualidade e
compromisso com a Igreja. Dedica-se com zelo à missão a que Deus o destinou. Ao
carisma de confessor ele une a profunda vida de oração. Durante todo o tempo que está na paróquia São
Sebastião, sempre se manteve sereno e recatado, fazendo o bem de forma humilde
e discreta.
Padre
Estevão sempre foi de poucas exigências. Nunca estava preocupado com a sua
pessoa. Queria somente estar sempre a disposição de quem precisasse. Com a sua
disponibilidade e com a sua simplicidade testemunhou e transmitiu a graça do
Senhor a inúmeras pessoas que encontraram nele um ministro digno e um
instrumento eficaz da sua misericórdia.
Os fiéis
o procuravam, participavam à sua celebração eucarística, mesmo se nos últimos
tempos não conseguiam entender mais as suas palavras, porque percebiam nele uma
particular presença do Senhor, porque o achavam uma pessoa santa.
Nos 53
anos que vivenciou a comunhão na nossa Província pavoniana e se dedicou ao
serviço da Igreja do Brasil, pe. Estevão se caracterizou pela simplicidade de
vida, pela serenidade de coração, pelo espírito de serviço e por uma dedicação
apaixonada ao povo que sempre o procurou e o amou, enxergando nele um
verdadeiro homem de Deus e um autêntico discípulo do Bem Aventurado Ludovico
Pavoni. Até o fim marcou sua presença, fiel, em particular, ao Sacramento da
Reconciliação.
No dia 28
de outubro, domingo, uma semana antes de falecer, mesmo sendo já debilitado,
devido também a uma queda sofrida dias antes, celebrou a santa Missa e atendeu
durante várias horas às confissões.
Uma
multidão de fiéis participou segunda feira, cinco de novembro, do seu funeral,
presidido pelo Arcebispo de Brasília, Dom Sérgio. Seu corpo retirado da Igreja Matriz de São Sebastião pelas mãos de ilustres Militares do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, deposto em seu caminhão e cortejado pelas ruas da cidade e por inúmeros fiéis, seus filhos espirituais, até o Cemitério local.
Também em
Chiari, quinta feira, dia oito de novembro, foi celebrada a Eucaristia em sua
memória com a participação dos religiosos pavonianos da comunidade de Bréscia. Aí ainda vive sua irmã mais velha, Fortunata,
de 99 anos, rodeada de filhos e netos.
A
Congregação expressa profunda gratidão por aquilo que pe. Estevão fez, mas em particular pelo que ele foi: um fiel e exemplar seguidor do
nosso bem aventurado padre Fundador, Ludovico Pavoni.
Agora, unido a Cristo Jesus, Seu e Nosso Senhor e Redentor, interceda por cada um de nós, em especial sua família religiosos - dos Pavonianos - e por todos os seus filhos e filhas.
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