Por: Ir. Thiago Cristino, FMI
Estudante de Teologia
Instituto São Boaventura - ISB - Brasília//DF
Mt 17, 1-9 // Mc 9, 2-10 // Lc 9, 28-36
1. | Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os fez subir a um lugar retirado, numa alta montanha. | |
2. | E foi transfigurado diante deles: seu rosto brilhou como o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz. | |
3. | Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. | |
4. | Pedro, então, tomou a palavra e lhe disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias”. | |
5. | Ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E, da nuvem, uma voz dizia: “Este é o meu filho amado, nele está meu pleno agrado: escutai-o!” | |
6. | Ouvindo isto, os discípulos caíram com o rosto em terra e ficaram muito assustados. | |
7. | Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos, não tenhais medo”. | |
8. | Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser Jesus. | |
9. | Ao descerem da montanha, Jesus recomendou-lhes: “Não faleis a ninguém desta visão, até que o Filho do Homem tenha sido ressuscitado dos mortos”. |
Esta perícope da tríplice tradição quer evidenciar a Beleza (Transcendental), ou seja, a Beleza de Deus manifestada de maneira plena no evento Cristo. É a doxologia (doksología), isto é, a Glorificação de Deus, que não é pontual, mas que se estende no tempo, em toda a história.
Jesus manifestou aos seus discípulos este mistério no Monte. Havia andado com eles, falando-lhes a respeito de seu reino e da segunda vinda na glória. Mas talvez eles não estivessem muito seguros daquilo que lhes anunciara sobre o reino. Para que tivessem a firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do Monte, imagem prefigurada do reino dos céus.
A iniciativa de mostra-se é sempre de Deus, Ele se revela a nós, em seu Filho , muito amado, Jesus, cujo esplendor do Pai é manifestado na Transfiguração (cf. Mc 1,11). Desta forma o homem, ao contemplar (cf. Mt 17,4) torna-se ‘passivo’, pois diante da Beleza de Deus ele fica na percepção, no ‘deixar-se encher de sua glória e esplendor’. A atitude do homem é de admiração, espanto (surpresa), encanto, como Pedro exclama: “Epístata, é bom estarmos aqui” (cf. Lc 9,33). Vislumbrar a realidade futura (escatológica) deve incitar o discípulo a lutar para que a realidade terrena seja transformada e, não levar a uma atitude estagnada, ou seja, contemplar a luz da Verdade e comunicá-la aos demais que estão nas trevas da ignorância.
O fato de o autor referir-se às tendas (cf. Lc 9, 33b), leva o leitor a crer que o fato em si não aconteceu tal como foi descrito, ao invés disso, foi construído, pois parece confundir-se com as chamadas ‘festas das tendas’, momento no qual os judeus recordavam o tempo em que o Povo peregrino habitava em tendas.
Todavia, tal Beleza é manifestada pelo próprio Cristo, “o mais belo entre os filhos dos homens” (cf. Sl 45,3), que transfigura-se, muda de forma (metamórphosis), diante de três dos seus discípulos. A Beleza expressa no rosto de Cristo é vista como o Todo no fragmento, isto é, o Todo de Deus Pai manifestado em Cristo.
A plenitude dos tempos (cf. Hb 1,1-4) tem seu início com a kenosis de Jesus, na Encarnação, onde ele manifesta visivelmente a Beleza (Glória) do Pai para todos aqueles que tiveram a graça de ver e posteriormente de ouvir suas palavras libertadoras (cf. 1Jo 1,1-4). Ao longo de sua vida, Jesus anuncia o Reino dando testemunho daquele que o enviou, com palavras e ações.
Conversando com Jesus, são vistos Elias (Profetas) e Moisés (Lei), que posteriormente somem e Jesus fica sozinho (cf. Lc 9,30.36). Desse modo Jesus supera a Lei e os Profetas, pois “não veio abolir, mas dar pleno cumprimento” (cf. Mt 5,17), isto é, demonstrando o fim para o qual tende a Lei: o amor, pois dele dependem a Lei e os Profetas (cf. Mt 22,39).
A voz que se escuta é na verdade um apelo para que os discípulos acreditem, de uma vez por todas, que Jesus é o messias, o Filho de Deus: “Este é meu filho amado, o escolhido: ouvi-o!” (cf. Mc 9,7b). Tais palavras foram ouvidas no Batismo oferecido por João, onde o Pai manifesta ao mundo o seu Filho único, cujos gestos e palavras são dignos de ser seguidos. O ‘parar em oração’ de Jesus é o que lhe dá força na missão, por isso seus discípulos também são convidados a fazer o mesmo, a estar atentos e a despertar do sono (cf. Lc 9,32), pois de outro modo não poderão ‘ouvir’ a voz do Filho, em obediência ao mandato do Pai.
O Monte é o lugar teológico, onde Deus se revela. A Transfiguração de Jesus acontece num Monte – embora os discípulos não a tenham visto por completo (cf. Lc 9,32) – que para Mateus tem um sentido a mais, haja vista que ele faz alusão da superioridade de Jesus comparado a Moisés.
Jesus é revelado pelo Pai na sua essência, isto é, Deus com o Ele. Os discípulos têm uma visão beatífica, uma contemplação do próprio Deus, algo impossível para um homem, isto é, contemplar ver a face de Deus, pois do contrário, morreria. Porém o Cristo transfigurado vai ao encontro dos seus, toca e fala a eles (cf. Mt 17,6-7). Em referência ao Primeiro Testamento, depois de falar com Javé, Moisés desce com o rosto resplandecente, pois viu a Deus (cf. Ex 34,29; 40,34), todavia permanece sua essência é humana. Se por um lado Deus se revela a Moisés, por outro, o Pai se revela novamente aos seus, na pessoa de Jesus. Moisés é portador da Lei e Jesus é aquele que deu pleno cumprimento a ela.
A missão do homem, criado “à imagem e semelhança de Deus” é dar Glória a Deus, com a vida. No evento da Transfiguração, o ‘encher-se da Glória e Beleza de Deus’ significa mais um desafio para aqueles que desejam ser cristãos: fazer brilhar a centelha divina – a Luz de Cristo – que está em cada um de nós (cf. Mt 5,14) pelo Batismo.
“Assim, brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai nos céus” (cf. Mt 5, 16). Tal como Cristo, todos os seus seguidores são chamados a resplandecer (ser reflexo) a Glória de Deus (de seus atributos), essencialmente manifestando o amor entre nós: pois é somente manifestando, por atos, o amor entre nós é que seremos reconhecidos como sendo verdadeiros discípulos de Jesus (cf. Jo 13, 34-36).
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