sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O futuro da Vida Religiosa: mística e profecia


Vida Religiosa Consagrada: Homens e Mulheres inflamados do
Amor de Deus,  para ser sinais credíveis da Luz de Cristo.
                                                   Por: Pe. Ermenegildo Bandolini, fmi; 
Conselheiro geral 
Filhos de Maria Imaculada 
- PAVONIANOS -

Introdução 

 Não é dificil imaginar quanto pesado e complexo seja o interrogativo sobre o futuro da Vida consagrada (VC). Às vezes se apresenta com tons preocupantes, mas na perspectiva destas jornadas de formação desejaríamos não deixarmos arriar pelas nossas dificuldades e medos; não porque não existam, mas porque sabemos que o futuro da vida consagrada é um campo onde entram em jogo a fé, o Espírito... e depois, mesmo em meio às dificuldades, é mais produtivo olhar para frente, do que relacionar o que falta ou não parece mais de acordo com o nosso tempo.
É esta a perspectiva que nos propõe o Documento capitular.  Desde o título ele reza: Fortes da fortaleza de Deus (CP 69) damos futuro à missão pavoniana e em um parágrafo (I. 3) – que deveríamos voltar e reler – pontualiza expressamente este tema: Para um futuro novo para a missão pavoniana. Queremos olhar para frente, pedindo, é claro, quais as sementes de futuro são necessárias para cultivar neste nosso tempo, mas sempre protegidos de uma invencivel esperança. Fiz uma pesquisa rápida na Internet procurando publicações dedicadas neste último ano ao futuro da vida consagrada. Todas elas estão marcadas com o que a Assembléia Plenária da União Internacional das Superioras Gerais (Roma 7-11.05.2010) resumiu assim: O futuro da vida consagrada está na força da sua mística e da sua profecia. Palavras que encontraram eco na nossa Consulta Geral: A vida religiosa pavoniana ou é mística ou não existe! É o que lembra um texto de K. Rahner: O cristão do futuro ou será um místico, isto é, uma pessoa que experimentou algo, ou não será cristão. De fato, a espiritualidade do futuro não irá mais se apoiar sobre uma convicção unânime, evidente e pública, nem sobre um ambiente religioso generalizado, mas sobre a experiência e sobre a decisão pessoal. Aproveitando algumas reflexões publicadas por revistas e Sites dos religiosos, desejaria focar alguma consideração sobre o assunto.


Chamados a serem místicos e profetas

Podemos afirmar que todos os Fundadores e Fundadoras foram místicos e profetas. Mística e Profecia são dois elementos essenciais de toda identidade religiosa, da vida cristã e da vida consagrada, intimamente relacionados. A primeira está mais diretamente projetada para a união com Deus, a segunda está mais diretamente orientada ao cumprimento da sua vontade, aqui e agora. Somente uma sábia combinação de uma e da outra pode forjar uma autêntica identidade religiosa. Não existe mística autêntica, se não leva a uma compromisso ético e profético; nem podemos pensar em uma profecia que não se alimenta de uma profunda união com o divino.
Todos os homens e as mulheres, todos os consagrados e as consagradas são chamados a serem místicos e profetas, isto é, a fazer uma experiência direta e vital de Deus e da sua Palavra que devem transmitir. Todos são chamados a se comprometer com a história da Igreja e do próprio tempo. O verdadeiro percurso o encontramos na união destas duas identidades: não se trata tanto de ser místico ou profeta, mas de ser místico e profeta.

A mística da consagração

Não é possível entender a consagração religiosa separada da mística da sequela de Jesus e da configuração a Ele. A sequela é uma memória Iesu (lembrança de Jesus) que torna presente Jesus, o seu modo de viver e de se comportar, por meio dos votos de pobreza, castidade e obediência. Comporta uma união e uma familiaridade com Ele, a exemplo dos discípulos, que marca profundamente a VC. Esta se baseia no encontro, no contato, na familiaridade com a sua vida e com a sua pessoa, na imitação do seu estilo de vida, da sua experiência pessoal, livre, escolhida e amada, da pobreza, da castidade e da obediência. É o fundamento verdadeiro, firme e inequivocavel da nossa VC (cf. VC 88-90).
É evidente que a VC é muito mais do que os votos, mesmo se os votos continuam a ser uma parte essencial e significativa deste estilo de vida. É uma chamada a vivenciar os votos de maneira integrada, como um elemento da identidade pessoal, como lugar do encontro com Deus e como dimensão missionária da própria existência, como parte da profecia que somos. Se isto não nos identifica e não se percebem seus efeitos no cotidiano, se nos tornamos burgueses e esvaziamos o significado evangélico dos votos, estamos, praticamente, enterrando o talento recebido por medo de colocá-lo em circulação.

A profecia da missão

Não existe consagração sem missão. A vida consagrada existe em função da missão. A mesma consagração vivenciada como entrega a Deus, como amor ao Cristo e como serviço do Povo de Deus já é missão: a missão por excelência de anunciar Cristo, de torná-lo presente, repetindo os gestos existenciais da sua vida através dos conselhos evangélicos (cf. VC 72-75). É esta a dimensão profética da VC.
Profecia significa, também, denuncia do que é negativo, mas hoje a enxergamos mais no sentido afirmativo, como foi a vida de Jesus, isto é, anuncio positivo da Boa Nova: A missão da VC é a de converter-se, antecipando profeticamente o Reino, através do seu estilo de vida fraterna, da sua forma de governo, da sua simplicidade de vida, das suas obras missionárias, educativas, caritativas e contemplativas. Assim converte-se em sinal eloquente do evangelho, tanto para a sociedade na qual está inserida como para a Igreja da qual brota. Em relação às vocações, a profecia alternativa, que propõe alternativas evangélicas visíveis em relação aos males da sociedade, parece mais necessária do que a profecia negativa (G. Uribarri).

Mística e profecia em Paixão por Cristo e paixão pela a humanidade

Em novembro de 2004, celebrou-se em Roma o Congresso Internacional da Vida Consagrada sobre o tema: Paixão por Cristo e paixão pela humanidade. Nele foram debatidas as dimensões mística e profética à luz dos ícones bíblicos: o encontro de Jesus com a samaritana no poço de Jacó (Jo 4,1-42) e a parábola do bom samaritano (Lc 10,29-37). Os dois ícones queriam harmonizar de maneira fecunda: mística e profecia, contemplação e ação, experiência e missão. De fato, no encontro com Deus, a VC descobre a nascente de um amor que se faz dom e serviço ao próximo, em especial ao menor e ao mais fragilizado. E daí percebe-se impulsionada tanto em função da dignidade da pessoa, muitas vezes desprezada, quanto em relação ao Deus do amor e da misericórdia.
À luz dos dois ícones bíblicos lembrados, o tema mística e profecia adquire um profundo significado evangélico e representa um impulso à renovação da VC para o terceiro milênio. O primeiro ícone - o da samaritana - evidencia o amor e a paixão por Cristo: concretamente é a adoração, a conversação íntima da Samaritana com o Senhor. O segundo ícone – o do bom samaritano – enfatiza a compaixão, o amor e a atenção para com os feridos no caminho da vida. Não são, contudo, elementos justapostos ou momentos separados, mas trata-se da graça de atingir a nascente do encontro com o Deus da vida, que é o Senhor da misericórdia e da compaixão. A adoração agradecida ao Cristo, mistério fundante da existência, conjuga-se necessariamente com a compaixão comprometida com a humanidade ferida.
É indispensável voltar aos fundamentos da nossa VC e superar uma certa visão dicotômica da mesma, onde é normal falar de vida espiritual e apostólica como de duas expressões ou lugares diferentes.
Pede-se uma mudança de mentalidade; acolher e entrar naquela conversão que nos ajuda a recuperar o nexo entre as diferentes dimensões da pessoa e entre os diferentes acontecimentos da vida. A nossa experiência espiritual, de fato, engloba pensamentos, afetos, fisicidades e ações; pois não existe evento da vida cotidiana, mesmo o mais insignificante, que seja excluído ou não tocado pela vida do Espírito.

Os novos areópagos da mística e da profecia

A exortação Apostólica Vita Consecrata, falando da missão da VC, indica os seguintes âmbitos: a missão ad gentes, a inculturação, a opção preferencial para os pobres e o cuidado com os doentes (nn. 77-83). Mas, o horizonte apostólico missionário da Igreja estende-se e compreende novos areópagos nos quais a VC deve tornar-se presente: a presença no mundo da educação e dos meios de comunicação (nn.. 96-99) e também o compromisso com o diálogo ecumênico e interreligioso (nn. 100-103).
Estes areópagos nos questionam diretamente como pavonianos e conservam toda a própria atualidade; podemos dizer até, que nunca foram tão urgentes como hoje.
 Mas, quando falamos aqui dos novos areópagos, é a partir da dupla ótica da mística e da profecia. Isto significa que não os tratamos como campos de ação ou de apostolado, mas mais como estilo ou modo de vida, como atitudes de base, chamadas a permear toda a atividade apostólica. A atenção não deve somente focar a urgência de estarmos presentes no mundo da educação e dos meios de comunicação, mas às modalidades e ao estilo desta presença. Vivemos em uma época que alguns compararam ao exílio. Como Israel se encontrou sem as suas seguranças (o templo, lugar da presença de Deus), também na VC, em particular no Ocidente, perdemos muitos pontos de referencia. Mas o exílio é também uma experiência espiritual, uma ocasião para retomar o caminho da consagração e da missão com renovada esperança. Muitos o definem assim: evangelizar a partir das margens. Outros descrevem a nova situação como uma experiência pascal: a passagem da estufa às intempéries, das clausuras às estradas, nas quais encontramos o homem ferido; a passagem do esperar que cheguem ao irmos ao encontro deles, etc.
Com que estilo somos chamados a estar presentes em maneira significativa, com capacidade de futuro, nos novos areópagos desse nosso tempo? Quais as tarefas que nos esperam?

Cultivar e testemunhar a experiência de Deus no meio do mundo

A experiência de Deus não é algo de excepcional, ao contrário, acontece toda vez que a pessoa percebe com clareza os fatos da vida cotidiana: a sua repugnância interior diante do mal, o amor irrevocável para uma outra pessoa, a paixão para com as coisas bem feitas, o protesto contra a injustiça, o compromisso para uma efetiva fraternidade, para uma convivência humana... Todas estas experiências, as mais humanas e humanizadoras, sempre são experiências de graça.
Esta experiência pode-se alcançar com a contemplação e com um olhar de fé teologal: longe de pretender carismas extraordinários e graças espetaculares, o cristão deverá, ao contrário, ser acostumado a contemplar a realidade cotidiana com os olhos da fé. O padre Fundador confiava esta tarefa ao Diretor Espiritual: Persuadi-los-á que tudo o que não é Deus nada vale e que os homens procuram os bens desta terra, porque não conhecem os espirituais e eternos. Acostumá-los-á a considerar as coisas com os olhos da fé, julgando-as como as julga a fé. E era tão convencido da bondade desta perspectiva que concluía Quando se conseguir afastar o coração dos jovens daquilo que é transitório, logo estarão prontos para serem totalmente de Deus (CP 252).
Testemunhar a experiência de Deus, no humano e no real, significa viver no mundo não como se Deus não existisse (etsi Deus não daretur), como afirmam os teólogos da secularização e da morte de Deus, mas, ao contrário como se Deu existisse (etsi Deus daretur). Este é o Deus que se manifestou na carne, na fraqueza humana, no sofrimento da cruz, que continua a estar presente na dor humana e que redimiu o mundo, através da sua aparente impotência, com o poder do Espírito, que ressuscitou Jesus dos mortos (Rm 1,4).
Não teremos futuro, nem como Congregação, nem como Igreja se não cultivamos a experiência de Deus. Precisa-se de pessoas que fizeram a experiência interior de Deus, homens e mulheres de espírito, capazes de responder à pergunta que João da Cruz continua a propor a todos nós: Dizei-me se por vós ele há passado!

Criar família (casa-lar), comunhão

Vivemos em um mundo no qual a casa e a família experimentam uma enorme crise intercontinental e intercultural. O modelo tradicional de família está em crise em todos os continentes. A ansiedade e a necessidade de uma casa, da acolhida, da escuta cresce em todos os lados. Por isso um dos grandes sinais que hoje a VC pode oferecer, como sinal pobre e humilde, é simplesmente a casa: em qualquer lugar onde há consagrados, haja uma casa aberta, acolhedora, fraterna como sinal de comunhão da Igreja (cf. VC 41 ss.).
A casa, o lar (a comunidade), é também o lugar da leitura partilhada da nossa história pessoal e comunitária, onde encontramos Jesus como curador: nas nossas carências, nas nossas divisões, nos nossos fracassos, nas nossas justificações. Esta leitura partilhada da nossa história pessoal, comunitária, congregacional é fonte de alegria, de encontro com Deus, de capacidade profética e missionária.
Nesta ótica, uma das grandes vocações da VC será saber escutar. Escutar Deus, escutar a sua Palavra. Mas, também, escutar o mundo, a sociedade, escutar em especial os pobres, com os seus problema e as suas alegrias, com as condições de vida e a dignidade deles. Escutar dentro da Igreja: escutar os bispos, os leigos, dos quais tanto falamos, escutar os presbíteros diocesanos. Escutar as nossas comunidades, escutar os jovens e os idosos, aqueles de outras gerações, aqueles que não pensam como nós...  A escuta pressupõe receptividade e humildade, paciência e acolhida, abertura de coração para que os outros possam morar em nós.
A VC pode oferecer um magnífico sinal evangélico em um mundo fragmentado e que por isso deseja o lar, a comunhão, a fraternidade. É nela que nasce com força uma identidade que se constitui fortemente como um estar-com: estar com Jesus Cristo, estar com a Igreja, estar com os companheiros da comunidade e da Congregação, estar com os pobres. Ser sinais de comunhão, é um dos desafios da evangelização que a Novo Millennio Ineunte coloca (43).

Humanizar

Uma outra tarefa profética da VC hoje é humanizar as pessoas, diante da escravidão deste mundo, dando o nome aos ídolos desta nossa cultura. Alguns deles com facilidade são reconhecíveis: a recompensa em curto prazo, o prazer imediato, o consumo excessivo e irresponsável, o individualismo, a exaltação da identidade fragmentada, etc. Outros aparecem escondidos debaixo de uma aparência de bem: o eu como centro definidor do fim último justificado pelo ideal da autorealização.
A VC será capaz de humanizar a nossa cultura e a nossa sociedade somente se tornar-se-á humanizadora dos seus próprios membros. E aqui nos é oferecido um grande desafio. Aqui acontece também o encontro ou o choque entre a fé e a cultura. Como definimos a qualidade das nossas instituições ou o resultado das nossas atividades apostólicas? Se escolhemos a cultura do marketing e do management, acabamos em cair na rede dos seus valores e ídolos: eficácia, eficiência, objetivos realizados, cota de mercado. Esta trama toda desconhece por completo a sabedoria das Bem-aventuranças. Funciona de acordo com o desempenho e não de acordo com a fecundidade.

A sabedoria dos pequenos sinais

O mundo está sangrando muito, a Internet nos conecta com tudo e nos deixa sozinhos frente à tela. O que fazer? Como reagir? No Congresso Internacional foi sublinhada a sabedoria dos pequenos passos e dos sinais humildes, mas reais. Diante da enormidade dos males que enfrentamos, arriscamos de desprezar o que é pequeno, de querer encontrar uma solução global. Mas isto não é o caminho do Pai Misericordioso. Na história da salvação descobrimos que Deus age através da pequenez: escolhe um pequeno povo, Israel (Dt 7,7), confia em um resto, ainda menor deste povo.
Somos convidados a fazer pequenos passos, sim, mas reais, e fazer humildes sinais, mas expressivos. Os milagres são os sinais do Reino. Jesus não organizou uma espécie de Seguro Social sobre a Palestina toda, mas manifestou através de alguns sinais eloquentes que o Reino de Deus estava acontecendo na sua pessoa. A salvação de Deus desbordava através da vitória de Jesus sobre Satanás, sobre a enfermidade e sobre a morte, com manifestações concomitantes do afastamento de Deus e de falta de salvação.
Seguindo este caminho, a VC é chamada a oferecer sinais do Reino de Deus, a ser ela mesma, no seu ser e na sua vida, um sinal do Reino: da irrupção da graça que gera fraternidade, afiliação, alegria, esperança, acolhida, generosidade, adoração, coragem, gratuidade.



O serviço da caridade: um coração que enxerga

A fé que age por meio do amor (Gl 5,6). O programa do cristão – o programa do samaritano, o programa de Jesus – é um coração que enxerga. Este coração vê onde há necessidade de amor e age em conseqüência (Deus caritas est 31b).
Os seres humanos necessitam sempre de muito mais do que um cuidado tecnicamente correto. Precisam de humanidade, precisam da atenção do coração. Quem opera em Instituições de caridade da Igreja deve distinguir-se pelo fato de não se limitar a executar de maneira hábil a coisa conveniente no momento, mas dedica-se ao outro com atenções que o coração sugere, de maneira que o outro experimente a riqueza de humanidade dele.  Portanto, além do preparo profissional, a estes operadores torna-se necessária, de maneira especial, a formação do coração: será preciso conduzi-los àquele encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o espírito para o outro, de modo que o amor ao próximo não seja nunca um mandamento imposto, por assim dizer, de fora, mas uma conseqüência derivante da própria fé que se torna operante no amor (cf. Gl 5,6) (Deus caritas est, 31 a).

Desafios e oportunidades do Mundo e da Igreja de hoje para a VC

Um aspecto significativo do futuro da Igreja e da VC será a necessidade de enfrentar a mudança de perspectiva e de horizonte, determinada, a partir do Vaticano II de uma Igreja mundial. Enquanto no Concílio Vaticano I os representantes das Sedes episcopais da Ásia e da África eram bispos missionários de origem européia ou americana, para o Vaticano II as coisas foram diferentes. As sedes episcopais eram representadas por bispos do lugar. Mesmo se ainda poucos em relação aos bispos europeus, eles estavam, contudo, presentes e participaram com todos os direitos no processo decisional da Igreja.
O aparecimento de uma Igreja mundial, implica a desintegração da identificação do cristianismo com o Ocidente. Esta des-ocidentalização da Igreja é reforçada mais ainda pela chamada mudança demográfica ou deslocamento da população do norte para o sul do mundo.  Ao terminar o milênio, o centro de gravidade da Igreja Católica deslocou-se do Norte global para o Sul global (isto é, América Latina, África e Ásia) . Enquanto em 1900, somente o 15% da população católica vivia no sul do mundo (hemisfério sul). No ano 2000 esta quantidade passou a ser de 67%, isto é, a dois terços dos 1,1 bilhões dos católicos do mundo. Na metade deste século a parcela da população católica do sul terá uma projeção de 75%.
Quais os desafios e quais oportunidades a Igreja mundial lança à VC?

Interculturalidade dos membros

Muitas Congregações religiosas hoje se tornaram internacionais na própria composição. Algumas são internacionais desde o começo, outras se tornaram tais somente agora com o aceitar as vocações do Sul do mundo. Mesmo se existem vantagens práticas na internacionalização, o seu valor real é o testemunho da universalidade e da abertura às diversidades próprias do Reino de Deus. Este testemunho torna-se particularmente urgente no contexto da globalização que pressiona, de um lado para excluir e do outro para eliminar todas as diferenças. Pensando nisso, existe hoje uma particular necessidade de testemunhar que o Reino de Deus é um reino de amor que inclui em absoluto todos e, ao mesmo tempo, permanece aberto às particularidades de cada individuo e de cada povo.
Ao mesmo tempo a internacionalidade é também um poderoso testemunho do fato que, se são inspiradas nos valores do Evangelho, é possível que pessoas de culturas e nações diferentes vivam em comunhão e solidariedade, em paz e em harmonia. As Congregações religiosas internacionais podem desenvolver um papel profético em um mundo fragmentado e tornar-se uma fonte de esperança para um mundo muitas vezes dilacerado por conflitos étnicos, culturais e raciais, violências e guerras. E assim a procura para promover comunidades religiosas internacionais e interculturais não se baseia somente sobre a escassez de vocações em algumas partes do mundo, mas, também sobre o fato de que no coração da vocação religiosa está presente o chamado a testemunhar o Reino e a ser uma voz profética na sociedade humana e uma fonte de esperança para o mundo.
O ideal, naturalmente, não é somente a internacionalidade (ou a simples presença na congregação ou na comunidade de membros de diferentes nacionalidades e culturas). Nem trata-se simplesmente de multiculturalidade (ou da capacidade de membros de diferentes nacionalidades e culturas coexistir simplesmente lado a lado). O ideal, ao contrário, é a verdadeira interculturalidade, isto é, uma Congregação ou uma comunidade que permite às várias culturas dos seus membros de interagir entre eles e, assim, enriquecer-se reciprocamente e a comunidade como um todo. Uma verdadeira comunidade intercultural é aquela em que os membros de diferentes culturas percebem uma verdadeira pertença. Esta comunidade, contudo, não acontece por acaso, ou colocando simplesmente juntos na mesma casa pessoas de diferentes nações ou culturas. Uma verdadeira comunidade intercultural deve ser criada e promovida intencionalmente, cultivada e alimentada com atenção. Ela exige atitudes pessoais básicas, determinadas estruturas comunitárias e uma espiritualidade particular. Os membros precisam, portanto, de uma programação específica de formação, inicial e permanente, que os prepare a viver de maneira eficaz e significativa na comunidade intercultural. É essencial, de fato, que os membros sejam convencidos que a interculturalidade é um ideal a ser buscado e é um valor a ser promovido.

Colaboração inter-congregacional

O nosso mundo atual e a Igreja oferecem também a oportunidade ou evidenciam a necessidade de uma maior colaboração inter-congregacional dos ministérios.
A colaboração inter-congregacional não é contudo, somente uma estratégia para a missão. A colaboração é, de fato, uma afirmação sobre a missão, isto é, que a missão é, antes e acima de tudo, Missio Dei, a missão de Deus, e que a nossa chamada à missão é uma chamada a partilhar a missão de Deus. Esta chamada a partilhar a missão de Deus inclui o chamado a colaborar com todos os outros que são chamados por Deus da mesma maneira. A colaboração, de fato, é um admitir que a missão seja maior do que cada um e cada congregação pode fazer. É, até maior, do que todas as Congregações juntas poderiam realizar. A colaboração, portanto, torna-se a verdadeira essência da missão. É uma característica fundamental da missão. Colaboramos com um ou com outro não porque queremos ser mais eficazes na missão. Colaboramos porque, acima de tudo, a missão é colocar Deus em primeiro lugar e o agente primário da missão é o Espírito santo.

Parceria com os leigos na missão

Com certeza, uma das características da Igreja de hoje é o aparecimento (e o desenvolvimento) de um laicato ativo, preparado e fortemente motivado. As Congregações religiosas sempre tiveram grupos de leigos associados: terceira ordem, associações, afiliados. Trata-se de leigos que são atraídos pelo carisma da Congregação religiosa e que desejam partilhar a espiritualidade e colaborar com a missão dela. Isto levanta a questão de uma expressão leiga do carisma do Fundador, que vai além dos confins de um instituto religioso ou até além da consagração religiosa. Uma outra forma de colaboração entre religiosos e leigos seria a parceria com movimentos leigos ou independentes. Não se trata simplesmente de leigos que colaboram com a missão de congregações religiosas, mas de congregações religiosas que colaboram ou sustentam a missão dos leigos.
Hoje é necessário encorajar as duas formas de colaboração e de parceria com os leigos. Os religiosos costumavam trabalhar em prevalência, às vezes, só com presbíteros e bispos. Isto levou ao perigo de parecer que os religiosos fossem ativos, somente no campo eclesial e, portanto, com o risco de serem considerados simples dependentes ou como a força tarefa da hierarquia eclesial. A colaboração com os leigos lembra aos religiosos o próprio papel no mundo leigo, mantendo assim a identidade específica e o carisma da VC.

Conclusão

O olhar para o futuro, a partir da nossa situação atual, deve nos levar a redescobrir mais profundamente o sentido generoso da vida religiosa.  O afundar novamente as raízes naquilo que constitui a identidade mais profunda, significa reforçar a esperança. Identidade e futuro da VC estão inseparáveis no projeto de Deus. O elemento decisivo não é o sucesso, mas a fé em Deus, a realidade do amor, a sequela de Jesus, a paciência nas provas, o chamado ao único necessário, a esperança na Vida eterna. A consagração religiosa se enraíza em Jesus Cristo, rosto vivo do Pai, que passou fazendo o bem, acolheu os pecadores, defendeu os excluídos, morreu para nós e ressuscitou como o Primogênito de uma multidão de irmãos e como germe sólido de esperança.
                       (Dom Ricardo Blázquez Pérez, Arcebispo de Valladolid)

 PARA A REFLEXÃO PESSOAL

·         Releia com atenção o texto e a contribuição Antecipando o amanhecer;
·         Perspectivas de futuro no Documento Capitular: procure e aponte as indicações que encontrar; leia o texto I.3 (Rumo a um futuro novo para a missão pavoniana) pág. 22 – com as respostas aos interrogativos da 1ª parte;
·         Acha que mística e profecia sejam uma realidade essencial na VC? Como se encarnam na tua experiência pessoal?


PARA O TRABALHO DE GRUPO

·         Em que medida, mística e profecia são uma urgência eclesial que questiona a VC e a leva a responder aos desafios do hoje?
·         Do que precisamos para ser místicos e profetas no nosso mundo, nas nossas comunidades, na nossa Congregação? como caracterizar as nossas atividades a fim de que seja reconhecidas como expressão de uma escolha de vida, que conjuga junto mística e profecia?
·         Quais são os novos areópagos da mística e da profecia, tendo em conta, por um lado, a situação da VC na nossa nação e no lugar onde atuamos e, por outro lado, o carisma do nosso Instituto?
·         Como foi acolhido e comentado o documento sobre a interculturalidade?  Tendo em conta as situações particulares dos continentes e das nações nas quais, como Pavonianos, estamos presentes e em uma perspectiva de maior envolvimento, qual o tipo de formação a Congregação deveria assegurar? A reflexão pode tanger, também, a realidade sócio-econômico-cultural dentro das nossas comunidades: o que ajuda e o que dificulta a relação humana e religiosa com pessoas de formação e de mentalidade  diferentes. Existe um mínimo comum denominador para conviver e existe um limite intransponível além do qual é melhor confessar  a impossibilidade de viver a fraternidade? 
·         O que poderia ser feito, concretamente, na nossa Comunidade, nas relações e nas   atividades que aqui desenvolvemos?
·         O que está sendo realizado e quais  propostas  concretas sugerir nas várias etapas da formação?

Um comentário:

  1. Pe Pavonianos, estive acompanhado um caso que trouxe para mim profunda indignação, já que trata de algo tão relevante para todos nós filhos de Deus, o matrimônio, esse que por sua vez unido por Deus e a sagrada igreja que nenhum outro homem e mulher os separe a não ser pela morte. Não foi exatamente isso que eu vi acontecer. Sou amiga de um casal que amo e admiro muito e vê hoje esse casal sendo separando por uma pessoa que está no nosso meio como RELIGIOSO e se preparando para ser Pe é muito triste. Uma pessoa que vive o contrário do que se prega e é pregado e ensinado pela nossa Igreja. Conheço bem de perto essa lamentável história: uma família linda, com dois filhos lindos, uma ótima pessoa e profissional. Vê seus sonhos sendo destruído, não é justo. Hoje estava pensando então resolvi fazer alguma coisa. São almas feridas, marcadas pela dor, são nossos irmãos em Cristo. Cuidemos para que esse tipo de situação não volte nunca mais ocorrer em nosso meio. Somos abençoados e temos um nome a zelar e cuidar. Somos PAVONIANOS uma família unida pelo amor e graça de Cristo. “Irmãos seminaristas cuidem para que vocês não venham cair em tentações e se isso ocorrer fuja do mal para que outros não sofram com suas escolhas”. Toda ação gera uma reação. Sejamos responsáveis pelos nossos atos e escolhas. Por favor, não escolha destruir vidas de pessoas que são inocentes, casamentos, principalmente crianças. Estou falando de caso pensado, conhecido e com o coração partido. Que os nossos representantes tenham mais cuidado com as pessoas que seram seus futuros representantes e de nossas igrejas amanhã. Sei que o perdão é uma dádiva de Deus, que essa família receba o nosso perdão e que Cristo alcance seus corações. Rezamos por todos, amém.

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Oração Vocacional Pavoniana

Oração Vocacional Pavoniana
Divino Mestre Jesus, ao anunciar o Reino do Pai escolheste discípulos e missionários dispostos a seguir-te em tudo; quiseste que ficassem contigo numa prolongada vivência do “espírito de família” a fim de prepará-los para serem tuas testemunhas e enviá-los a proclamar o Evangelho. Continua a falar ao coração de muitos e concede a quantos aceitaram teu chamado que, animados pelo teu Espírito, respondam com alegria e ofereçam sem reservas a própria vida em favor das crianças, dos surdos e dos jovens mais necessitados, a exemplo do beato Pe. Pavoni. Isto te pedimos confiantes pela intercessão de Maria Imaculada, Mãe e Rainha da nossa Congregação. Amém!

SERVIÇO DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL - FMI - "Vem e Segue-Me" é Jesus que chama!

  • Aspirantado "Nossa Senhora do Bom Conselho": Rua Pe. Pavoni, 294 - Bairro Rosário . CEP 38701-002 Patos de Minas / MG . Tel.: (34) 3822.3890. Orientador dos Aspirantes – Pe. Célio Alex, FMI - Colaborador: Ir. Quelion Rosa, FMI.
  • Aspirantado "Pe. Antônio Federici": Q 21, Casas 71/73 . Setor Leste. CEP 72460-210 - Gama / DF . Telefax: (61) 3385.6786. Orientador dos Aspirantes - Ir. José Roberto, FMI.
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  • Comunidade Religiosa da Basílica de Santo Antônio: Av. Santo Antônio, 2.030 - Bairro Santo Antônio. CEP 29025-000 - Vitória/ES. Tel.: (27) 3223.3083 (Comunidade Religiosa Pavoniana) / (27) 3223.2160 / 3322.0703 (Basílica de Santo Antônio) . Reitor da Basílica: Pe. Roberto Camillato, FMI.
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  • Seminário "Bom Pastor" (Aspirantado e Postulantado): Rua Monsenhor José Paulino, 371 - Bairro Centro. CEP 37550-000 - Pouso Alegre / MG . Caixa Postal: 217. Tel: (35) 3425.1196 . Orientador do Seminário - Ir. César Thiago do Carmo Alves, FMI.

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  • Centro Comunitário "Ludovico Pavoni": Rua Barão de Castro Lima, 478 - Bairro: Real Parque - Morumbi. CEP 05685-040. Tel.: (11) 3758.4112 / 3758.9060.
  • Centro de Apoio e Integração dos Surdos (CAIS) - Rua Pe. Pavoni, 294 - Bairro Rosário . CEP 38701-002 Patos de Minas / MG . Tel.: (34) 3822.3890. Coordenador: Luís Vicente Caixeta
  • Centro de Formação Profissional: Av. Santo Antônio, 1746. CEP 29025-000 - Vitória/ES. Tel.: (27) 3233.9170. Telefax: (27) 3322.5174. Coordenadora: Sra. Rosilene, Leiga Associada da Família Pavoniana
  • Centro Educacional da Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (CEAL-LP) SGAN Av. W5 909, Módulo "B" - Asa Norte. CEP 70790-090 - Brasília/DF. Tel.: (61) 3349.9944 . Diretor: Pe. José Rinaldi, FMI
  • Centro Medianeira: Rua Florêncio Câmara, 409 - Centro. CEP 93010-220 - São Leopoldo/RS. Caixa Postal: 172. Tel.: (51) 3037.2797 / 3589.6874. Diretor: Pe. Renzo Flório, FMI
  • Colégio São José: Praça Dom Otávio, 270 - Centro. CEP 37550-000 - Pouso Alegre/MG - Caixa Postal: 149. Tel.: (35) 3423.5588 / 3423.8603 / 34238562. Fax: (35) 3422.1054. Cursinho Positivo: (35) 3423. 5229. Diretor: Prof. Giovani, Leigo Associado da Família Pavoniana
  • Escola Gráfica Profissional "Delfim Moreira" Rua Monsenhor José Paulino, 371 - Bairro Centro. CEP 37550-000 - Pouso Alegre / MG . Caixa Postal: 217. Tel: (35) 3425.1196 . Diretor: Pe. Nelson Ned de Paula e Silva, FMI.
  • Obra Social "Ludovico Pavoni" - Quadra 21, Lotes 71/72 - Gama Leste/DF. CEP 72460-210. Tel.: (61) 3385.6786. Coordenador: Sra. Sueli
  • Obra Social "Ludovico Pavoni": Rua Monsenhor Umbelino, 424 - Centro. CEP 37110-000 - Elói Mendes/MG. Telefax: (35) 3264.1256 . Coordenadora: Sra. Andréia Mendes, Leiga Associada da Família Pavoniana.
  • Obra Social “Padre Agnaldo” e Pólo Educativo “Pe. Pavoni”: Rua Dias Toledo, 99 - Vila Paris. CEP 30380-670 – Belo Horizonte/MG. Tels.: (31) 3344.1800 - 3297.4962 - 0800.7270487 - Fax: (31) 3344.2373. Diretor: Pe. André Callegari, FMI.

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Bréscia, Italy
Sou fundador da Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada, conhecida popularmente como RELIGIOSOS PAVONIANOS. Nasci na Itália no dia 11 de setembro de 1784 numa cidade chamada Bréscia. Senti o chamado de Deus para ir ao encontro das crianças e jovens que, por ocasião da guerra, ficaram órfãos, espalhados pelas ruas com fome, frio e sem ter o que fazer... e o pior, sem nenhuma perspectiva de futuro. Então decidi ajudá-los. Chamei-os para o meu Oratório (um lugar onde nos reuníamos para rezar e brincar) e depois ensinei-os a arte da marcenaria, serralheria, tipografia (fabricar livros), escultura, pintura... e muitas outras coisas. Graças a Deus tudo se encaminhou bem, pois Ele caminhava comigo, conforme prometera. Depois chamei colaboradores para dar continuidade àquilo que havia iniciado. Bem, como você pode perceber a minha história é bem longa... Se você também quer me ajudar entre em contato. Os meus amigos PAVONIANOS estarão de portas abertas para recebê-lo em nossa FAMÍLIA.