Vida Religiosa Consagrada: Homens e Mulheres inflamados do Amor de Deus, para ser sinais credíveis da Luz de Cristo. |
Por: Pe.
Ermenegildo Bandolini, fmi;
Conselheiro geral
Filhos de Maria Imaculada
- PAVONIANOS -
Introdução
Não é dificil imaginar quanto pesado e
complexo seja o interrogativo sobre o futuro da Vida consagrada (VC). Às vezes
se apresenta com tons preocupantes, mas na perspectiva destas jornadas de
formação desejaríamos não deixarmos arriar pelas nossas dificuldades e medos;
não porque não existam, mas porque sabemos que o futuro da vida consagrada é um
campo onde entram em jogo a fé, o Espírito... e depois, mesmo em meio às
dificuldades, é mais produtivo olhar para frente, do que relacionar o que falta
ou não parece mais de acordo com o nosso tempo.
É esta a
perspectiva que nos propõe o Documento capitular. Desde o título ele reza: Fortes da fortaleza de Deus (CP 69) damos futuro à missão pavoniana e em um parágrafo (I. 3) – que
deveríamos voltar e reler – pontualiza expressamente este tema: Para um futuro novo para a missão pavoniana.
Queremos olhar para frente, pedindo, é claro, quais as sementes de futuro são
necessárias para cultivar neste nosso tempo, mas sempre protegidos de uma
invencivel esperança. Fiz uma pesquisa rápida na Internet procurando
publicações dedicadas neste último ano ao futuro da vida consagrada. Todas elas
estão marcadas com o que a Assembléia Plenária da União Internacional das
Superioras Gerais (Roma 7-11.05.2010) resumiu assim: O futuro da vida consagrada está na força da sua mística e da sua
profecia. Palavras que encontraram eco na nossa Consulta Geral: A vida religiosa pavoniana ou é mística ou
não existe! É o que lembra um texto de K. Rahner: O cristão do futuro ou será um místico, isto é, uma pessoa que
experimentou algo, ou não será cristão. De fato, a espiritualidade do futuro
não irá mais se apoiar sobre uma convicção unânime, evidente e pública, nem
sobre um ambiente religioso generalizado, mas sobre a experiência e sobre a
decisão pessoal. Aproveitando algumas reflexões publicadas por revistas e
Sites dos religiosos, desejaria focar alguma consideração sobre o assunto.
Chamados a serem místicos e profetas
Podemos afirmar
que todos os Fundadores e Fundadoras foram místicos e profetas. Mística e
Profecia são dois elementos essenciais de toda identidade religiosa, da vida
cristã e da vida consagrada, intimamente relacionados. A primeira está mais
diretamente projetada para a união com Deus, a segunda está mais diretamente
orientada ao cumprimento da sua vontade, aqui e agora. Somente uma sábia
combinação de uma e da outra pode forjar uma autêntica identidade religiosa.
Não existe mística autêntica, se não leva a uma compromisso ético e profético;
nem podemos pensar em uma profecia que não se alimenta de uma profunda união
com o divino.
Todos os homens
e as mulheres, todos os consagrados e as consagradas são chamados a serem
místicos e profetas, isto é, a fazer uma experiência direta e vital de Deus e
da sua Palavra que devem transmitir. Todos são chamados a se comprometer com a
história da Igreja e do próprio tempo. O verdadeiro percurso o encontramos na
união destas duas identidades: não se trata tanto de ser místico ou
profeta, mas de ser místico e profeta.
A mística da consagração
Não é possível
entender a consagração religiosa separada da mística da sequela de Jesus e da
configuração a Ele. A sequela é uma memória
Iesu (lembrança de Jesus) que torna presente Jesus, o seu modo de viver e
de se comportar, por meio dos votos de pobreza, castidade e obediência.
Comporta uma união e uma familiaridade com Ele, a exemplo dos discípulos, que
marca profundamente a VC. Esta se baseia no encontro, no contato, na
familiaridade com a sua vida e com a sua pessoa, na imitação do seu estilo de
vida, da sua experiência pessoal, livre,
escolhida e amada, da pobreza, da castidade e da obediência. É o fundamento
verdadeiro, firme e inequivocavel da nossa VC (cf. VC 88-90).
É evidente que a
VC é muito mais do que os votos, mesmo se os votos continuam a ser uma parte
essencial e significativa deste estilo de vida. É uma chamada a vivenciar os
votos de maneira integrada, como um elemento da identidade pessoal, como lugar
do encontro com Deus e como dimensão missionária da própria existência, como
parte da profecia que somos. Se isto não nos identifica e não se percebem seus
efeitos no cotidiano, se nos tornamos burgueses e esvaziamos o significado
evangélico dos votos, estamos, praticamente, enterrando o talento recebido por
medo de colocá-lo em circulação.
A profecia da missão
Não existe
consagração sem missão. A vida consagrada existe em função da missão. A mesma
consagração vivenciada como entrega a Deus, como amor ao Cristo e como serviço
do Povo de Deus já é missão: a missão por excelência de anunciar Cristo, de
torná-lo presente, repetindo os gestos existenciais da sua vida através dos
conselhos evangélicos (cf. VC 72-75). É esta a dimensão profética da VC.
Profecia
significa, também, denuncia do que é negativo, mas hoje a enxergamos mais no
sentido afirmativo, como foi a vida
de Jesus, isto é, anuncio positivo da Boa Nova: A missão da VC é a de converter-se, antecipando profeticamente o Reino,
através do seu estilo de vida fraterna, da sua forma de governo, da sua
simplicidade de vida, das suas obras missionárias, educativas, caritativas e
contemplativas. Assim converte-se em sinal eloquente do evangelho, tanto para a
sociedade na qual está inserida como para a Igreja da qual brota. Em relação às
vocações, a profecia alternativa, que propõe alternativas evangélicas visíveis
em relação aos males da sociedade, parece mais necessária do que a profecia
negativa (G. Uribarri).
Mística e profecia em Paixão por Cristo e paixão pela a humanidade
Em novembro de
2004, celebrou-se em Roma o Congresso Internacional da Vida Consagrada sobre o
tema: Paixão por Cristo e paixão pela
humanidade. Nele foram debatidas as dimensões mística e profética à luz dos
ícones bíblicos: o encontro de Jesus com a samaritana no poço de Jacó (Jo
4,1-42) e a parábola do bom samaritano (Lc 10,29-37). Os dois ícones queriam
harmonizar de maneira fecunda: mística e profecia, contemplação e ação,
experiência e missão. De fato, no encontro com Deus, a VC descobre a nascente
de um amor que se faz dom e serviço ao próximo, em especial ao menor e ao mais
fragilizado. E daí percebe-se impulsionada tanto em função da dignidade da pessoa,
muitas vezes desprezada, quanto em relação ao Deus do amor e da misericórdia.
À luz dos dois
ícones bíblicos lembrados, o tema mística e profecia adquire um profundo
significado evangélico e representa um impulso à renovação da VC para o
terceiro milênio. O primeiro ícone - o da samaritana - evidencia o amor e a
paixão por Cristo: concretamente é a
adoração, a conversação íntima da Samaritana com o Senhor. O segundo ícone
– o do bom samaritano – enfatiza a
compaixão, o amor e a atenção para com os feridos no caminho da vida. Não
são, contudo, elementos justapostos ou momentos separados, mas trata-se da
graça de atingir a nascente do encontro com o Deus da vida, que é o Senhor da
misericórdia e da compaixão. A adoração agradecida ao Cristo, mistério fundante
da existência, conjuga-se necessariamente com a compaixão comprometida com a
humanidade ferida.
É indispensável voltar aos fundamentos da nossa VC e
superar uma certa visão dicotômica da mesma, onde é normal falar de vida
espiritual e apostólica como de duas expressões ou lugares diferentes.
Pede-se uma
mudança de mentalidade; acolher e entrar naquela conversão que nos ajuda a
recuperar o nexo entre as diferentes dimensões da pessoa e entre os diferentes
acontecimentos da vida. A nossa experiência espiritual, de fato, engloba pensamentos,
afetos, fisicidades e ações; pois não existe evento da vida cotidiana, mesmo o
mais insignificante, que seja excluído ou não tocado pela vida do Espírito.
Os novos areópagos da mística e da profecia
A exortação
Apostólica Vita Consecrata, falando
da missão da VC, indica os seguintes âmbitos: a missão ad gentes, a inculturação, a opção preferencial para os pobres e o
cuidado com os doentes (nn. 77-83). Mas, o horizonte apostólico missionário da
Igreja estende-se e compreende novos areópagos nos quais a VC deve tornar-se
presente: a presença no mundo da educação e dos meios de comunicação (nn..
96-99) e também o compromisso com o diálogo ecumênico e interreligioso (nn.
100-103).
Estes areópagos
nos questionam diretamente como pavonianos e conservam toda a própria
atualidade; podemos dizer até, que nunca foram tão urgentes como hoje.
Mas, quando falamos aqui dos novos areópagos, é
a partir da dupla ótica da mística e da profecia. Isto significa que não os
tratamos como campos de ação ou de
apostolado, mas mais como estilo ou modo
de vida, como atitudes de base, chamadas a permear toda a atividade
apostólica. A atenção não deve somente focar a urgência de estarmos presentes
no mundo da educação e dos meios de comunicação, mas às modalidades e ao estilo
desta presença. Vivemos em uma época que alguns compararam ao exílio. Como
Israel se encontrou sem as suas seguranças (o templo, lugar da presença de
Deus), também na VC, em particular no Ocidente, perdemos muitos pontos de
referencia. Mas o exílio é também uma experiência espiritual, uma ocasião para
retomar o caminho da consagração e da missão com renovada esperança. Muitos o
definem assim: evangelizar a partir das
margens. Outros descrevem a nova situação como uma experiência pascal: a passagem da estufa às intempéries, das clausuras às estradas,
nas quais encontramos o homem ferido; a passagem
do esperar que cheguem ao irmos ao encontro deles, etc.
Com que estilo
somos chamados a estar presentes em maneira significativa, com capacidade de
futuro, nos novos areópagos desse nosso tempo? Quais as tarefas que nos
esperam?
Cultivar e testemunhar a experiência de Deus no meio do mundo
A experiência de
Deus não é algo de excepcional, ao contrário, acontece toda vez que a pessoa
percebe com clareza os fatos da vida cotidiana: a sua repugnância interior
diante do mal, o amor irrevocável para uma outra pessoa, a paixão para com as
coisas bem feitas, o protesto contra a injustiça, o compromisso para uma
efetiva fraternidade, para uma convivência humana... Todas estas experiências,
as mais humanas e humanizadoras, sempre são experiências de graça.
Esta experiência
pode-se alcançar com a contemplação e com um olhar de fé teologal: longe de pretender carismas extraordinários
e graças espetaculares, o cristão deverá, ao contrário, ser acostumado a
contemplar a realidade cotidiana com os olhos da fé. O padre Fundador
confiava esta tarefa ao Diretor Espiritual: Persuadi-los-á
que tudo o que não é Deus nada vale e que os homens procuram os bens desta
terra, porque não conhecem os espirituais e eternos. Acostumá-los-á a
considerar as coisas com os olhos da fé, julgando-as como as julga a fé. E
era tão convencido da bondade desta perspectiva que concluía Quando se conseguir afastar o coração dos
jovens daquilo que é transitório, logo estarão prontos para serem totalmente de
Deus (CP 252).
Testemunhar a
experiência de Deus, no humano e no real, significa viver no mundo não como se Deus não existisse (etsi Deus não
daretur), como afirmam os teólogos da secularização e da morte de Deus,
mas, ao contrário como se Deu existisse
(etsi Deus daretur). Este é o Deus que se manifestou na carne, na fraqueza
humana, no sofrimento da cruz, que continua a estar presente na dor humana e
que redimiu o mundo, através da sua aparente impotência, com o poder do
Espírito, que ressuscitou Jesus dos mortos (Rm 1,4).
Não teremos
futuro, nem como Congregação, nem como Igreja se não cultivamos a experiência
de Deus. Precisa-se de pessoas que fizeram a experiência interior de Deus,
homens e mulheres de espírito, capazes de responder à pergunta que João da Cruz
continua a propor a todos nós: Dizei-me
se por vós ele há passado!
Criar família (casa-lar), comunhão
Vivemos em um
mundo no qual a casa e a família experimentam uma enorme crise intercontinental
e intercultural. O modelo tradicional de família está em crise em todos os
continentes. A ansiedade e a necessidade de uma casa, da acolhida, da escuta
cresce em todos os lados. Por isso um dos grandes sinais que hoje a VC pode
oferecer, como sinal pobre e humilde, é simplesmente a casa: em qualquer lugar
onde há consagrados, haja uma casa aberta, acolhedora, fraterna como sinal de
comunhão da Igreja (cf. VC 41 ss.).
A casa, o lar (a
comunidade), é também o lugar da leitura partilhada da nossa história pessoal e
comunitária, onde encontramos Jesus como curador: nas nossas carências, nas
nossas divisões, nos nossos fracassos, nas nossas justificações. Esta leitura
partilhada da nossa história pessoal, comunitária, congregacional é fonte de
alegria, de encontro com Deus, de capacidade profética e missionária.
Nesta ótica, uma
das grandes vocações da VC será saber escutar. Escutar Deus, escutar a sua
Palavra. Mas, também, escutar o mundo, a sociedade, escutar em especial os
pobres, com os seus problema e as suas alegrias, com as condições de vida e a
dignidade deles. Escutar dentro da Igreja: escutar os bispos, os leigos, dos
quais tanto falamos, escutar os presbíteros diocesanos. Escutar as nossas
comunidades, escutar os jovens e os idosos, aqueles de outras gerações, aqueles
que não pensam como nós... A escuta
pressupõe receptividade e humildade, paciência e acolhida, abertura de coração
para que os outros possam morar em nós.
A VC pode
oferecer um magnífico sinal evangélico em um mundo fragmentado e que por isso deseja
o lar, a comunhão, a fraternidade. É nela que nasce com força uma identidade
que se constitui fortemente como um estar-com:
estar com Jesus Cristo, estar com a Igreja, estar com os companheiros da
comunidade e da Congregação, estar com os pobres. Ser sinais de comunhão, é um
dos desafios da evangelização que a Novo
Millennio Ineunte coloca (43).
Humanizar
Uma outra tarefa
profética da VC hoje é humanizar as
pessoas, diante da escravidão deste mundo, dando o nome aos ídolos desta nossa
cultura. Alguns deles com facilidade são reconhecíveis: a recompensa em curto
prazo, o prazer imediato, o consumo excessivo e irresponsável, o
individualismo, a exaltação da identidade fragmentada, etc. Outros aparecem
escondidos debaixo de uma aparência de bem: o eu como centro definidor do fim último justificado pelo ideal da
autorealização.
A VC será capaz
de humanizar a nossa cultura e a nossa sociedade somente se tornar-se-á
humanizadora dos seus próprios membros. E aqui nos é oferecido um grande
desafio. Aqui acontece também o encontro ou o choque entre a fé e a cultura.
Como definimos a qualidade das nossas instituições ou o resultado das nossas
atividades apostólicas? Se escolhemos a cultura do marketing e do management,
acabamos em cair na rede dos seus valores e ídolos: eficácia, eficiência,
objetivos realizados, cota de mercado. Esta trama toda desconhece por completo
a sabedoria das Bem-aventuranças. Funciona de acordo com o desempenho e não de
acordo com a fecundidade.
A sabedoria dos pequenos sinais
O mundo está
sangrando muito, a Internet nos conecta com tudo e nos deixa sozinhos frente à
tela. O que fazer? Como reagir? No Congresso Internacional foi sublinhada a
sabedoria dos pequenos passos e dos sinais humildes, mas reais. Diante da
enormidade dos males que enfrentamos, arriscamos de desprezar o que é pequeno,
de querer encontrar uma solução global. Mas isto não é o caminho do Pai
Misericordioso. Na história da salvação descobrimos que Deus age através da pequenez: escolhe um pequeno povo,
Israel (Dt 7,7), confia em um resto, ainda menor deste povo.
Somos convidados
a fazer pequenos passos, sim, mas reais, e fazer humildes sinais, mas
expressivos. Os milagres são os sinais do Reino. Jesus não organizou uma
espécie de Seguro Social sobre a
Palestina toda, mas manifestou através de alguns sinais eloquentes que o Reino
de Deus estava acontecendo na sua pessoa. A salvação de Deus desbordava através
da vitória de Jesus sobre Satanás, sobre a enfermidade e sobre a morte, com
manifestações concomitantes do afastamento de Deus e de falta de salvação.
Seguindo este
caminho, a VC é chamada a oferecer sinais do Reino de Deus, a ser ela mesma, no
seu ser e na sua vida, um sinal do Reino: da irrupção da graça que gera
fraternidade, afiliação, alegria, esperança, acolhida, generosidade, adoração,
coragem, gratuidade.
O serviço da caridade: um coração que enxerga
A fé que age por meio do amor (Gl 5,6). O programa do cristão – o programa do
samaritano, o programa de Jesus – é um coração que enxerga. Este coração vê onde há necessidade de
amor e age em conseqüência (Deus
caritas est 31b).
Os seres humanos
necessitam sempre de muito mais do que um cuidado tecnicamente correto.
Precisam de humanidade, precisam da atenção do coração. Quem opera em
Instituições de caridade da Igreja deve distinguir-se pelo fato de não se
limitar a executar de maneira hábil a coisa conveniente no momento, mas
dedica-se ao outro com atenções que o coração sugere, de maneira que o outro
experimente a riqueza de humanidade dele.
Portanto, além do preparo profissional, a estes operadores torna-se necessária,
de maneira especial, a formação do
coração: será preciso conduzi-los àquele encontro com Deus em Cristo que
suscite neles o amor e abra o espírito para o outro, de modo que o amor ao
próximo não seja nunca um mandamento imposto, por assim dizer, de fora, mas uma
conseqüência derivante da própria fé que se torna operante no amor (cf. Gl 5,6)
(Deus caritas est, 31 a).
Desafios e oportunidades do Mundo e da Igreja de
hoje para a VC
Um aspecto
significativo do futuro da Igreja e da VC será a necessidade de enfrentar a
mudança de perspectiva e de horizonte, determinada, a partir do Vaticano II de
uma Igreja mundial. Enquanto no
Concílio Vaticano I os representantes das Sedes episcopais da Ásia e da África
eram bispos missionários de origem européia ou americana, para o Vaticano II as
coisas foram diferentes. As sedes episcopais eram representadas por bispos do
lugar. Mesmo se ainda poucos em relação aos bispos europeus, eles estavam,
contudo, presentes e participaram com todos os direitos no processo decisional
da Igreja.
O aparecimento
de uma Igreja mundial, implica a desintegração da identificação do cristianismo
com o Ocidente. Esta des-ocidentalização da Igreja é reforçada mais ainda pela
chamada mudança demográfica ou deslocamento da população do norte para
o sul do mundo. Ao terminar o milênio, o
centro de gravidade da Igreja
Católica deslocou-se do Norte global para
o Sul global (isto é, América Latina,
África e Ásia) . Enquanto em 1900, somente o 15% da população católica vivia no
sul do mundo (hemisfério sul). No ano 2000 esta quantidade passou a ser de 67%,
isto é, a dois terços dos 1,1 bilhões dos católicos do mundo. Na metade deste
século a parcela da população católica do sul terá uma projeção de 75%.
Quais os
desafios e quais oportunidades a Igreja mundial lança à VC?
Interculturalidade dos membros
Muitas
Congregações religiosas hoje se tornaram internacionais na própria composição.
Algumas são internacionais desde o começo, outras se tornaram tais somente
agora com o aceitar as vocações do Sul do mundo. Mesmo se existem vantagens
práticas na internacionalização, o seu valor real é o testemunho da
universalidade e da abertura às diversidades próprias do Reino de Deus. Este
testemunho torna-se particularmente urgente no contexto da globalização que
pressiona, de um lado para excluir e do outro para eliminar todas as diferenças.
Pensando nisso, existe hoje uma particular necessidade de testemunhar que o Reino
de Deus é um reino de amor que inclui em absoluto todos e, ao mesmo tempo, permanece
aberto às particularidades de cada individuo e de cada povo.
Ao mesmo tempo a
internacionalidade é também um poderoso testemunho do fato que, se são
inspiradas nos valores do Evangelho, é possível que pessoas de culturas e
nações diferentes vivam em comunhão e solidariedade, em paz e em harmonia. As
Congregações religiosas internacionais podem desenvolver um papel profético em
um mundo fragmentado e tornar-se uma fonte de esperança para um mundo muitas
vezes dilacerado por conflitos étnicos, culturais e raciais, violências e
guerras. E assim a procura para promover comunidades religiosas internacionais
e interculturais não se baseia somente sobre a escassez de vocações em algumas
partes do mundo, mas, também sobre o fato de que no coração da vocação
religiosa está presente o chamado a testemunhar o Reino e a ser uma voz
profética na sociedade humana e uma fonte de esperança para o mundo.
O ideal,
naturalmente, não é somente a internacionalidade
(ou a simples presença na congregação ou na comunidade de membros de diferentes
nacionalidades e culturas). Nem trata-se simplesmente de multiculturalidade (ou da capacidade de membros de diferentes
nacionalidades e culturas coexistir simplesmente lado a lado). O ideal, ao
contrário, é a verdadeira interculturalidade,
isto é, uma Congregação ou uma comunidade que permite às várias culturas
dos seus membros de interagir entre eles e, assim, enriquecer-se reciprocamente
e a comunidade como um todo. Uma verdadeira comunidade intercultural é aquela
em que os membros de diferentes culturas percebem uma verdadeira pertença. Esta
comunidade, contudo, não acontece por acaso, ou colocando simplesmente juntos
na mesma casa pessoas de diferentes nações ou culturas. Uma verdadeira
comunidade intercultural deve ser criada e promovida intencionalmente,
cultivada e alimentada com atenção. Ela exige atitudes pessoais básicas,
determinadas estruturas comunitárias e uma espiritualidade particular. Os
membros precisam, portanto, de uma programação específica de formação, inicial
e permanente, que os prepare a viver de maneira eficaz e significativa na
comunidade intercultural. É essencial, de fato, que os membros sejam
convencidos que a interculturalidade é um ideal a ser buscado e é um valor a
ser promovido.
Colaboração inter-congregacional
O nosso mundo
atual e a Igreja oferecem também a oportunidade ou evidenciam a necessidade de
uma maior colaboração inter-congregacional dos ministérios.
A colaboração
inter-congregacional não é contudo, somente uma estratégia para a missão. A colaboração
é, de fato, uma afirmação sobre a missão, isto é, que a missão é, antes e acima
de tudo, Missio Dei, a missão de
Deus, e que a nossa chamada à missão é uma chamada a partilhar a missão de
Deus. Esta chamada a partilhar a missão de Deus inclui o chamado a colaborar
com todos os outros que são chamados por Deus da mesma maneira. A colaboração,
de fato, é um admitir que a missão seja maior do que cada um e cada congregação
pode fazer. É, até maior, do que todas as Congregações juntas poderiam realizar.
A colaboração, portanto, torna-se a verdadeira essência da missão. É uma
característica fundamental da missão. Colaboramos com um ou com outro não
porque queremos ser mais eficazes na missão. Colaboramos porque, acima de tudo,
a missão é colocar Deus em primeiro lugar e o agente primário da missão é o
Espírito santo.
Parceria com os leigos na missão
Com certeza, uma
das características da Igreja de hoje é o aparecimento (e o desenvolvimento) de
um laicato ativo, preparado e fortemente motivado. As Congregações religiosas
sempre tiveram grupos de leigos associados: terceira ordem, associações,
afiliados. Trata-se de leigos que são atraídos pelo carisma da Congregação
religiosa e que desejam partilhar a espiritualidade e colaborar com a missão
dela. Isto levanta a questão de uma expressão
leiga do carisma do Fundador, que vai além dos confins de um instituto
religioso ou até além da consagração religiosa. Uma outra forma de colaboração
entre religiosos e leigos seria a parceria com movimentos leigos ou independentes.
Não se trata simplesmente de leigos que colaboram com a missão de congregações
religiosas, mas de congregações religiosas que colaboram ou sustentam a missão
dos leigos.
Hoje é
necessário encorajar as duas formas de colaboração e de parceria com os leigos.
Os religiosos costumavam trabalhar em prevalência, às vezes, só com presbíteros
e bispos. Isto levou ao perigo de parecer que os religiosos fossem ativos, somente
no campo eclesial e, portanto, com o risco de serem considerados simples
dependentes ou como a força tarefa da
hierarquia eclesial. A colaboração com os leigos lembra aos religiosos o
próprio papel no mundo leigo, mantendo assim a identidade específica e o
carisma da VC.
Conclusão
O olhar para o futuro, a partir da nossa situação
atual, deve nos levar a redescobrir mais profundamente o sentido generoso da
vida religiosa. O afundar novamente as
raízes naquilo que constitui a identidade mais profunda, significa reforçar a
esperança. Identidade e futuro da VC estão inseparáveis no projeto de Deus. O
elemento decisivo não é o sucesso, mas a fé em Deus, a realidade do amor, a
sequela de Jesus, a paciência nas provas, o chamado ao único necessário, a
esperança na Vida eterna. A consagração religiosa se enraíza em Jesus Cristo,
rosto vivo do Pai, que passou fazendo o bem, acolheu os pecadores, defendeu os
excluídos, morreu para nós e ressuscitou como o Primogênito de uma multidão de
irmãos e como germe sólido de esperança.
(Dom Ricardo Blázquez Pérez, Arcebispo de Valladolid)
·
Releia
com atenção o texto e a contribuição Antecipando
o amanhecer;
·
Perspectivas
de futuro no Documento Capitular: procure e aponte as indicações que encontrar;
leia o texto I.3 (Rumo a um futuro novo para a missão pavoniana) pág. 22 – com
as respostas aos interrogativos da 1ª parte;
·
Acha
que mística e profecia sejam uma realidade
essencial na VC? Como se encarnam na tua experiência pessoal?
PARA O TRABALHO DE GRUPO
·
Em
que medida, mística e profecia são uma urgência eclesial que questiona a VC e a
leva a responder aos desafios do hoje?
·
Do
que precisamos para ser místicos e profetas no nosso mundo, nas nossas
comunidades, na nossa Congregação? como caracterizar as nossas atividades a fim
de que seja reconhecidas como expressão de uma escolha de vida, que conjuga
junto mística e profecia?
·
Quais
são os novos areópagos da mística e
da profecia, tendo em conta, por um lado, a situação da VC na nossa nação e no
lugar onde atuamos e, por outro lado, o carisma do nosso Instituto?
·
Como
foi acolhido e comentado o documento sobre a interculturalidade? Tendo em conta as situações particulares dos
continentes e das nações nas quais, como Pavonianos, estamos presentes e em uma
perspectiva de maior envolvimento, qual o tipo de formação a Congregação
deveria assegurar? A reflexão pode tanger, também, a realidade
sócio-econômico-cultural dentro das nossas comunidades: o que ajuda e o que
dificulta a relação humana e religiosa com pessoas de formação e de mentalidade diferentes. Existe um mínimo comum
denominador para conviver e existe um limite intransponível além do qual é
melhor confessar a impossibilidade de
viver a fraternidade?
·
O
que poderia ser feito, concretamente, na nossa Comunidade, nas relações e nas atividades que aqui desenvolvemos?
·
O
que está sendo realizado e quais
propostas concretas sugerir nas
várias etapas da formação?
Pe Pavonianos, estive acompanhado um caso que trouxe para mim profunda indignação, já que trata de algo tão relevante para todos nós filhos de Deus, o matrimônio, esse que por sua vez unido por Deus e a sagrada igreja que nenhum outro homem e mulher os separe a não ser pela morte. Não foi exatamente isso que eu vi acontecer. Sou amiga de um casal que amo e admiro muito e vê hoje esse casal sendo separando por uma pessoa que está no nosso meio como RELIGIOSO e se preparando para ser Pe é muito triste. Uma pessoa que vive o contrário do que se prega e é pregado e ensinado pela nossa Igreja. Conheço bem de perto essa lamentável história: uma família linda, com dois filhos lindos, uma ótima pessoa e profissional. Vê seus sonhos sendo destruído, não é justo. Hoje estava pensando então resolvi fazer alguma coisa. São almas feridas, marcadas pela dor, são nossos irmãos em Cristo. Cuidemos para que esse tipo de situação não volte nunca mais ocorrer em nosso meio. Somos abençoados e temos um nome a zelar e cuidar. Somos PAVONIANOS uma família unida pelo amor e graça de Cristo. “Irmãos seminaristas cuidem para que vocês não venham cair em tentações e se isso ocorrer fuja do mal para que outros não sofram com suas escolhas”. Toda ação gera uma reação. Sejamos responsáveis pelos nossos atos e escolhas. Por favor, não escolha destruir vidas de pessoas que são inocentes, casamentos, principalmente crianças. Estou falando de caso pensado, conhecido e com o coração partido. Que os nossos representantes tenham mais cuidado com as pessoas que seram seus futuros representantes e de nossas igrejas amanhã. Sei que o perdão é uma dádiva de Deus, que essa família receba o nosso perdão e que Cristo alcance seus corações. Rezamos por todos, amém.
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